10 - O planalto à
noite
À noite, no planalto, somos bombardeados por cagarras e outras aves. |
Sobre as noites na Selvagem Grande, já referi que eram embaladas
pela ondulação e despertadas pela animação das cagarras, mas
algumas noites eram também dias de trabalho. Como a grande maioria
das cagarras só vem a terra de noite, a probabilidade de encontrar
indivíduos não reprodutores é bem maior de noite. Amarinhávamos a
subida à luz da lua, ou em noites mais escuras à luz da lanterna e
com algum cuidado chegávamos ao planalto sem percalços. Numa noite
de grande actividade o planalto à noite é muito, muito diferente do
dia. Centenas e centenas de cagarras voam, rastejam e saltitam por
todo o lado, estamos constantemente a ser bombardeados por carragas,
almas-negras e roquinhos que passam a rasar as nossas cabeças, por
vezes batendo mesmo ao de leve no nosso corpo. Para tentar capturar
os indivíduos não reprodutores, caminhamos ao longo dos muros, tal
como fazemos de dia, mas com lanterna e camaroeiro em riste, prontos
a caçar as cagarras mais incautas. Tal como em tantas coisas, esta
actividade tem um truque: caminhar a favor do vento, de forma a
dificultar a descolagem das cagarras que precisam de apanhar vento
contra para subir rapidamente. Mas não basta apanhar qualquer
cagarra, entre as centenas e centenas que por ali andam temos de
encontrar as que têm uma anilha cor-de-laranja numa pata e um
aparelho de seguimento na outra pata. Apanhar uma destas cagarras
numa noite de trabalho já é um excelente resultado. Estas aves são
excepcionalmente fiéis ao local onde nascem e muitas vezes os
animais não-reprodutores são jovens que nasceram à quatro ou cinco
anos e estão agora a voltar pela primeira vez à colónia, onde se
irão começar a reproduzir nos anos seguintes. Incrivelmente, elas
são geralmente apanhadas a poucos metros do ninho onde nasceram.
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