quarta-feira, maio 31, 2006

Diário do Frio

31 de Maio

Ultimo dia de Maio, Junho à porta. Junho, o mês do Verão, acordo a imaginar aquele tão familiar aroma a maresia misturado com o cheiro adocicado dos protectores solares. Pele aquecida pelo braseiro do Sol, mergulhos refrescantes no oceano. Andar pela rua só de calção de banho e sandálias, com uma t-shirt pronta a ser rapidamente lançada à areia antes de uma corrida até ao mar...
Acordo, levanto-me, olho pela janela para admirar o cinzento chuvoso que cobre esta terra, calço as meias mais grossas, visto as calças, a t-shirt, um polar, um camisolão de lã da Serra da Estrela, calço as botas, visto o impermeável. Saio à rua e a primeira rajada de vento gela-me até aos ossos...

segunda-feira, maio 29, 2006

Wikipedia

A Wikipedia, o novo grande depositorio do saber humano. A beleza de um conceito que permite o conhecimento fluir gratuitamente entre todos os utilizadores da Internet. Sim, mas também a fonte da prova final da superioridade lusa sobre os nuestros hermanos. Se forem a home page da wikipedia, podem ver as várias linguas desponiveis e o numero aproximado de artigos existentes em cada dialecto.
Como podem ver na foto abaixo, a língua de Camões bate aos pontos essa forma de grunhido inspirado no dialecto dos povos cavernícolas de Atapuerca, a que chamamos espanhol...

domingo, maio 28, 2006

Cinzento



Letargia. Marasmo. Torpor. Apatia. Modorra.
O Sol abandonou o centro da Europa, fugiu para longe, para um canto algures à beira-mar, provavelmente em Portugal. E nós os latinos, que por aqui andamos, definhamos lentamente, indecisos entre a velha sugestão de que se sorrirmos para a vida ela nos sorrirá de volta e a vontade de esconder a cara entre a almofada e os lençois e sonhar com dias melhores.
A chuva nem sequer é chuva, caí gota a gota, aborrecida com estes dias que se passam lentamente, que se esvaiem como grãos de areia numa ampulheta. Tardes gastas a fazer de conta que se trabalha, noites abandonadas ao absurdo de inventar um novo jogo baseado no tabuleiro do "Risco" mas com regras totalmente diferentes. Esperanças de que um jogo de futebol entre a Holanda e os Camarões possa servir de distração, para 15 minutos depois perceber que um jogo de futebol é a coisa mais aborrecida do mundo se não nos interessar minimamente qual seja o resultado final...
Letargia. Marasmo. Torpor. Apatia. Modorra.

domingo, maio 21, 2006

A fork stuck in the road

Decisions are deceptions; paths may never lead you anywhere. In a game where the rules state that you cannot win, draw or forfeit, the only true winner is the one who looses by fewer points.
After being lost in a dark perilous wood for longer than you can remember, you finally come across a way out; a new path spreads beneath your feet, urging you to go forward. But the new path as a conundrum in its own existence, the path is divided; one road faces north, the other faces south. Both roads seem dangerous, both are unknown, the perils that may be found ahead can only be imagined.
The certainty of the decision is that whichever path your steps choose to take, you shall leave a precious part of you behind. And then you try to stall, gain time in the hope of a draw, which is, in fact, impossible. Without noticing it, you risk the most painful of all defeats, the worst possible score.
Decisions are forks stuck in your road; the true virtue lays in the wit to choose the least of defeats, the least of two evils. How can you ever decide which trounce is the better?
And you find yourself stuck in the middle of your crossroad, gazing at both paths with blown out eyes, waiting for an answer that may never come. Faith? The only true faith is the belief in yourself. And, in a nutshell, this is what life is all about.

quinta-feira, maio 18, 2006

Quintas-feiras Culturais XXIV

Acha a tenra mocidade
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.
Um gosto que hoje se alcança,
Amanhã já não o vejo;
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança
E de desejo em desejo.
Mas em vida tão escassa
Que esperança será forte?
Fraqueza da humana sorte,
Que quanto da vida passa
Está receitando a morte!

Luís de Camões

domingo, maio 14, 2006

De bicicletas percebem os holandeses

Meus caros, se estou a escrever este post é porque os musculos dos dedos são os unicos que ainda mexem depois do dia de hoje...
Tudo começou ontem com a minha infeliz ideia de dizer aos dois alunos do meu orientador que estão a colaborar no meu trabalho que era uma boa ideia darmos um salto ao campo hoje bem cedo para fazer umas coisas que não deviamos deixar para segunda-feira. Tivemos de acordar às 6 da manhã... Robert e Elzemik vocês são uns santos, eu, o culpado, é que acordei rabujento e eles estavam já prontos a trabalhar com tudo o entusiasmo, aparentemente imunes à enormissima violação dos direitos do homem que é fazer alguem acordar a essas horas num domingo.
Depois, despachado o trabalho por volta das 9, levei-os, como tinha já prometido antes, a passear a Terscheling, uma das ilhas Frísias. Na verdade só levei a Elzemik porque o Robert cortou-se à ultima hora para ir ter com a namorada (compreensível). Agora chega a parte importante do e-mail. Nunca achem que serão capazes de acompanhar uma holandesa num passeio de bicicleta, mesmo que ela seja pequena e de aspecto franzino e fraquito. Como é habito nas ilhas, alugamos bicicletas para dar a volta à ilha, é uma maneira agradável de se passar um dia, mas quarenta quilometros depois, a rapariga continuava a pedalar, fresca como uma alface, enquanto que aqui o velhadas tinha que pedir licença a uma perna para dar uma pedala com a outra enqunto me esforçava para não me lamentar demasiado dar dores que me fustigavam dos pés à cabeça (não havia escapatória, tinhamos mesmo de regressar ao barco a tempo de regressar ao continente).
Foi um passeio muito giro e Terscheling é um sitio que mereçe ser visitado, mas... ai... ai... que dor!

terça-feira, maio 09, 2006

Serei eu demasiado simpático?

A sério, às vezes acho que sou demasiado simpático. Aqui na Holanda, onde as pessoas são um pouco frias e distantes, apercebo-me que fazer coisas simpáticas para as pessoas à nossa volta não é necessáriamente a regra. Por exemplo, no outro dia comprei uma caixa de bolachas e, naturalmente, como qualquer portugues faria, começei por oferecer as bolachas a toda a gente... claro que para os holandeses isso é um comportamento estranhissimo. Depois, passo a vida a oferecer boleias a toda a gente, como também acho que é natural fazer-se em Portugal... pois aparentemente por aqui as pessoas assumem que se lhes oferecemos uma boleia queremos algo em troca.E não é só isso, é em tudo, sempre que temos algum gesto simpático para as pessoas elas parecem sentir-se pouco confortáveis com isso... que raio de país!

sexta-feira, maio 05, 2006

Bob Marley








Já lhe chamaram o mensageiro, para muitos foi um profecta, tão profecta como Cristo, Maomé, ou outro dos famosos. Nenhum dos outros me convenceu, mas a mensagem do Bob Marley era bem clara. Disse-a e merece ser sempre repetida, talvez assim o mundo fosse um sítio melhor.

Don’t worry about a thing,
’cause every little thing gonna be all right.
Singin’: don’t worry about a thing,
’cause every little thing gonna be all right!

Rise up this mornin’,
Smiled with the risin’ sun,
Three little birds
Pitch by my doorstep
Singin’ sweet songs
Of melodies pure and true,
Sayin’, (this is my message to you-ou-ou:)

Singin’: don’t worry ’bout a thing,
’cause every little thing gonna be all right.
Singin’: don’t worry (don’t worry) ’bout a thing,
’cause every little thing gonna be all right!

Bob Marley, "Three Little Birds"

A felicidade numa peça de roupa

Não, este não vai ser um artigo ao estilo dos que aparecem nas revistas femininas, estilo Maxima e afins. Não se trata de ser feliz devido a uma peça de roupa em particular, mas sim sentir-me muito mais feliz quando posso usar um tipo de peças de roupa: calções.
Sim, agora o tempo aqui na Holanda está tão bom que aqui moi même se pode dar ao luxo de saír de casa de calçonito sem correr o risco de ter de ver uma perna ser amputada devido à hipotermia. E a verdade é que o simples facto de andar de calções me faz sentir incrivelmente mais alegre é como se o peso extra das pernas das calças representasse o peso dos problemas que me afligem. De calções, sem peso extra e com as pernas a respirarem livremente, como faziam nos felizes tempos primordiais em que os nosso antepassados vagueavam pelas savanas da forma que vieram ao mundo, sinto-me bem!
Não que eu goste de nudismo, sou demasiado envergonhado para isso, mas acho que as pernas merecem ver a luz do dia com mais frequencia, quanto mais não seja para exibir a bela pelagem latina (não muito densa, à que admitir) que as cobre...
Caros leitores, não liguem ao que aqui escrevo... andei o dia todo com a cabeça ao Sol, o que já me deve estar a afectar os neurónios.

quinta-feira, maio 04, 2006

Quintas-feiras Culturais XXIII

Mias uma quinta-feira, hoje recebida pelo primeiro verdadeiro dia de Primavera aqui pela Holanda. Temperaturas acima dos 20 graus, céus azuis... Hoje não me queixei do tempo. Para esta quinta-feira um poema muito apaixonado do Mário Cesariny


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny