sábado, setembro 01, 2012

Postais das Selvagens


8 - A história das Selvagens

Colunas de basalto que evidenciam o vulcanismo
 submarino que originou a ilha da Selvagem Grande.

Voltados à base, na casa da reserva junto ao mar, dedicamos o nosso tempo a preparar a refeição, mais uma de tantas refeições deliciosas, comidas entre conversa amena e vistas deslumbrantes do oceano Atlântico. Não há nada como a maresia para abrir o apetite, e ninguém passou por lá fome durante a minha estadia, muito longe disso! Há noite, entrego o meu tempo à leitura de alguma da literatura disponível na ilha, nomeadamente uma publicação sobre as Selvagens, produto do trabalho dos técnicos do Parque Natural da Madeira. Aprendo então um pouco sobre a história e a pré-história destas ilhas únicas. As Selvagens são ilhas vulcânicas, resultantes da agitada vida interior do nosso planeta, são fruto do trabalho de antigos vulcões submarinos, pelo que nunca estiveram em contacto com o continente africano. Nos idos tempos do Miocénico, já lá vão uma bela mão cheia de milhões de anos, as ilhas estiveram submersas, devido à subida do nível do mar, tendo-se formado nessa altura as rochas calcárias que se podem encontrar em várias partes da ilha, resultado da lenta sedimentação de pequenos animais com concha nos mares primitivos. Depois de feito o trabalho geológico do planeta, coube ao homem descobrir as ilhas. Oficialmente as Selvagens foram descobertas pelo navegador português Diogo Gomes, em meados do século XV. No entanto, existem relatos prévios que provam que a existência destas ilhas era conhecida desde a antiguidade, tendo mesmo recebido os nomes de Heres e Antoloba pelos cartógrafos gregos. Numa carta redigida em 1345, e escrita por D. Afonso IV ao Papa Clemente VI era já narrada uma expedição portuguesa às Canárias em que era feita referência às Selvagens.
Depois de descobertas e re-descobertas, por ventura várias vezes, as Selvagens foram finalmente incorporadas na Ordem de Cristo, durante o reinado de D. Manuel, tido sido feitas concessões destas ilhas a fidalgos e guerreiros que se distinguiram por feitos de armas e de descobertas. A partir do século XVI passaram para as mãos de privados, tendo então passado de mão em mão, por herança, venda ou doação, até à segunda metade do século XX. As ilhas foram ocasionalmente alvo de tentativas de colonização, sempre falhadas devido à falta de água doce, e nelas foram introduzidas cabras e coelhos, a que se juntaram os ratos que ali chegaram clandestinamente. Durante séculos foram exploradas para recolha da urzela, um líquen que era utilizado para produzir uma tinta púrpura usada em tecidos e papel, assim como de barrela, plantas usadas para o fabrico de sabão. As ilhas tinham também bom rendimento da pesca e salga de peixe, da recolha de guano das aves marinhas para fertilizante, e da captura de cagarras jovens cuja carne era muito apreciada e as penas usados no fabrico de colchões. Em 1971 as ilhas tornaram-se propriedade do estado português, tornando-se na primeira Reserva Natural do país.

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