8 - A história das
Selvagens
Colunas de basalto que evidenciam o vulcanismo submarino que originou a ilha da Selvagem Grande. |
Voltados à base, na casa da reserva junto ao mar, dedicamos o nosso
tempo a preparar a refeição, mais uma de tantas refeições
deliciosas, comidas entre conversa amena e vistas deslumbrantes do
oceano Atlântico. Não há nada como a maresia para abrir o apetite,
e ninguém passou por lá fome durante a minha estadia, muito longe
disso! Há noite, entrego o meu tempo à leitura de alguma da
literatura disponível na ilha, nomeadamente uma publicação sobre
as Selvagens, produto do trabalho dos técnicos do Parque Natural da
Madeira. Aprendo então um pouco sobre a história e a pré-história
destas ilhas únicas. As Selvagens são ilhas vulcânicas,
resultantes da agitada vida interior do nosso planeta, são fruto do
trabalho de antigos vulcões submarinos, pelo que nunca estiveram em
contacto com o continente africano. Nos idos tempos do Miocénico, já
lá vão uma bela mão cheia de milhões de anos, as ilhas estiveram
submersas, devido à subida do nível do mar, tendo-se formado nessa
altura as rochas calcárias que se podem encontrar em várias partes
da ilha, resultado da lenta sedimentação de pequenos animais com
concha nos mares primitivos. Depois de feito o trabalho geológico do
planeta, coube ao homem descobrir as ilhas. Oficialmente as Selvagens
foram descobertas pelo navegador português Diogo Gomes, em meados do
século XV. No entanto, existem relatos prévios que provam que a
existência destas ilhas era conhecida desde a antiguidade, tendo
mesmo recebido os nomes de Heres e Antoloba pelos cartógrafos gregos.
Numa carta redigida em 1345, e escrita por D. Afonso IV ao Papa
Clemente VI era já narrada uma expedição portuguesa às Canárias
em que era feita referência às Selvagens.
Depois de descobertas e re-descobertas, por ventura várias vezes, as
Selvagens foram finalmente incorporadas na Ordem de Cristo, durante o
reinado de D. Manuel, tido sido feitas concessões destas ilhas a
fidalgos e guerreiros que se distinguiram por feitos de armas e de
descobertas. A partir do século XVI passaram para as mãos de
privados, tendo então passado de mão em mão, por herança, venda
ou doação, até à segunda metade do século XX. As ilhas foram
ocasionalmente alvo de tentativas de colonização, sempre falhadas
devido à falta de água doce, e nelas foram introduzidas cabras e
coelhos, a que se juntaram os ratos que ali chegaram
clandestinamente. Durante séculos foram exploradas para recolha da
urzela, um líquen que era utilizado para produzir uma tinta púrpura usada em
tecidos e papel, assim como de barrela, plantas usadas para o fabrico
de sabão. As ilhas tinham também bom rendimento da pesca e salga de
peixe, da recolha de guano das aves marinhas para fertilizante, e da
captura de cagarras jovens cuja carne era muito apreciada e as penas
usados no fabrico de colchões. Em 1971 as ilhas tornaram-se
propriedade do estado português, tornando-se na primeira Reserva
Natural do país.
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