terça-feira, abril 26, 2005

Dia da Liberdade

Em honra do 25 de Abril, o feriado mais importante da jovem (mas já apodrecida) democracia portuguesa, deixo aqui um poema do Ary dos Santos, que não sendo directamente ligado a esta data tem sempre a riqueza de significado e de profundidade a que ele nois habituou:

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!



P.S. Felizmente parece que o 25 de Abril este ano já voltou a ser Revolução. Vou imaginar que o ano passado foi só um sonho mau e dormir mais descansado!

sábado, abril 23, 2005

Bento, esse grande guarda-redes

Queria desde já congratular-me a mim e a todos os benfiquistas pela nomeação do Bento para Papa. Sinceramente não sabia que ele era um dos papabile, mas acho que por tudo o que ele fez pela baliza do benfica, mais do que papa ele devia ser nomeado era santo!
Ao que parece deram-lhe o número 16 lá na equipa do vaticano portanto tudo indica que vai ser o suplente... não sei quem é que eles contrataram para guarda-redes principal.
Não, agora a sério. Eu tenho uma teoria para a razão porque eles escolheram um velhote de 78 anos para papa: os cardeais, coitados, têm poucas oportunidades para se encontrar e por a conversa em dia, sendo a melhor oportunidade o conclave, essa grande festa à porta fechada, com boa comida à descrição, champagne francês, caviar, e imensas freiras-strippers e criancinhas vestidas de anjo (consoante os gostos de cada cardeal) à descrição! Como tal, agrada-lhes a ideia de escolher um gajo velho, que morra depressa, para eles terem outro conclave (ou em latim "mega rave papa party") o mais depressa possivel.

Habemos papa, e bebita tanben!

A Holanda

Acabei de passar uma semana na Holanda e não posso deixar passar esta oportunidade de falar sobre o assunto.
Em primeiro lugar, Holanda não, Países Baixos, porque Holanda é só uma das várias regiões administrativas, mas como incluí Amsterdam automáticamente é promovida a país! Acho que também não gostavam se em vez de Portugal todos os estrangeiros lhe chamasse Área Metropolitana de Lisboa... Claro que compreendo o desuso do nome Países Baixos, toda a gente sabe que o termo é mais frequentemente usado no português (sobre tudo em futebolês) para denominar uma parte da anatomia masculina, muito dada a choques dolorosíssimos com bolas de futebol!
A coisa mais engraçada acerca do país é a própria geografia. Como sabem, eles não tem montanhas (há uma pequena colina a que eles chamam montanha... enfim!), por isso eles referem-se a pequenas elevações do terreno com 10 m de altura como "colinas", o que é no mínimo curioso. Por outro lado, na ideia deles, uma subida com 0,5º de inclinação e 20 m de comprimento é uma rampa e como tal têm de ter todos os cuidados com os pontos de embraiagem, é absurdo, os gajos fazem pontos de embraiagem em sitios onde eu arrancaria em 2ª!
Depois têm os diques e os polders, a que eles gostam de chamar Terra Nova, mas não vi nenhum bacalhau por lá! De resto é só campo verde completamente plano, seguido de campo verde ainda mais plano, com canais sempre em linha recta e um numero impressionante de lagos (diga-se de passagem cheios de bicharada!). Quanto às aldeias e cidades, são super organizadas com tudo arrumadinho no sítio. É agradável de ver e até bastante bonito, mas ao fim de algum tempo começa a meter alguma impressão (pelo menos é o que dizem as pessoas que já lá estão à algum tempo).
Depois temos a questão da geografia política. Estão entalados entre a Alemanha, a Bélgica e o Luxemburgo, sendo que os Holandeses odeiam os Alemães porque eles os invadiram, bombardearam, mataram e violaram na 2ª grande guerra, os Belgas odeiam os Holandeses porque a maioria das anedotas holandesas são sobre belgas e eles não gostam muito disso e os Luxemburgueses não odeiam nem adoram ninguém, mas também ninguém lhes liga nenhuma porque não chegam sequer para encher um estádio de futebol.
Quanto às túlipas, devem ser um mito porque não vi quase nenhumas!

terça-feira, abril 12, 2005

A tal inevitável (in)satisfação

Inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira,
Sistole, diastole, sistole, diastole, sistole, diastole,
Contrai, relaxa, contrai, relaxa, contrai, relaxa...
Qual é então o sentido da vida?

Pessoalmente, não sendo uma pessoa religiosa, nem dada a grandes crenças no destino, eu contento-me com o nihilismo. Para mim o objectivo da vida é viver! O que eu quero dizer é que perante a questão: "Ser ou não ser?", a minha resposta seria simplesmente: "ser, porque sim", ou "ser, porque sou". Nunca ninguém resumiu também esta questão como os soldados britânicos da primeira guerra mundial, que no contexto muito especifico das trincheiras do Somme cantavam, ao ritmo do "Auld Lang Syne": "We're here because we're here, because we're here, because we're here. We're here because we're here, because we're here, because we're here."
Estranhamente, este que é talvez o conceito de vida mais simples que existe, é imcomprensível para a maioria das pessoas, que logo perguntam: "então e viver para quê? Qual é o propósito disto tudo?" Claro que essa pergunta não tem resposta possível, mas vem à ideia uma outra questão mais pretinente: "De onde vem esta necessidade de um propósito, esta impossibilidade de aceitar a vida como uma mera volta do acaso?" Poderá isso ter tido uma grande vantagem evolutiva algures na história da nossa espécie, ou será um ideal embutido pelo lento avançar das ideologias das sociedades humanas?
Outra coisa que não percebo é a razão porque imediatamente alguém se levanta para dizer como é horrivel esta visão tão fria da vida, tão desprovida de sentido e de grandiosidade. Acham mesmo que reduzir a vida a um capricho (já ouvi alguém chamar-lhe um peido intelectual) de um Deus todo poderoso é torna-la bela e grandiosa?
Pois para mim, o que é verdadeiramente belo, infinitamente grandioso e digno de admiração é o surgimento da vida através de um fenomenal acaso tornado inevitável pelas maquinações aleatórias da mecânica quântica. Verdadeiramente bela é a forma como aleatorimente e na ausência de qualquer vontade ou plano superior, as partículas elementares, regidas apenas pelos inevitáveis principios básicos descritos pela física, poderam lentamente, ao longo dos vastos oceanos de tempo, inconcebíveis até para a mente mais bem preparada, criar as estrelas, planetas e galáxias, gases e liquídos, rochas e calhaus e finalmente aquela preciosidade cósmica a que chamamos vida. E depois, seguiram o seu caminho na escala evolutiva, permitindo chegar ao ponto em que esta amálgama de átomos e moléculas a que os meus pais decidiram chamar Pedro, se pode sentar ao computador e escrever este pequeno texto. Isto sim é prodigioso!

Em louvor da Migraspirina

A dor de cabeça é sem dúvida um dos grandes flegelos da humanidade. Ainda me lembro da primeira vez que tive uma dor de cabeça, a forma incredula como começei a sentir aquela dor, aparentemente sem origem, que não parava por mais que eu me mexesse, deitasse, gritasse ou fechasse os olhos. Aquela dor que só crescia, crescia sem motivo óbvio até me levar até às lágrimas. Na altura tinha uns 8 anos.
Hoje as dores de cabeça são companheiras bem conhecidas, é fácil prever com antecedência quando elas vêm e até prever a força delas, mas continuam a ser uma tortura atroz quando decidem atacar em força. É por isso que quero louvar o invertor da Migraspirina, quem quer que tenha sido!
Não sei qual é o principio activo do medicamento, nem tão pouco o mecanismo de acção, mas por muito forte que seja a enxaqueca, aquelas duas pastilhas efeverescentes pela goela abaixo pôem-nos como novos em menos de meia hora. Fantástico!

Espero que este venha a ser um dos medicamentos disponíveis nos hipermercados. Sinceramente se eu tiver de andar a percorrer a cidade em busca de uma farmácia de serviço com uma dor de cabeça "daquelas" em cima, eu não respondo pelos meus actos quando finalmente encontrar a farmácia e a "médica" farmacêutica me disser com uma voz de avózinha: "Está esgotado!"

terça-feira, abril 05, 2005

Luís Campas

Num registo muito mais light do que o ultimo post, vou falar de uma figura mítica do futebol português, um gajo, auto-entitulado treinador que dá pelo nome de Luís Campos.

Este senhor, certamente desconhecido dos mais atentos, tem sido nas últimas épocas treinador de vários clubes da primeira divisão e tem o impressionante recorde de 2 despedimentos (ou chicotadas psicológicas, como se diz na gíria) por época. Se fizerem as contas, o gajo está em média 10 a 12 jogos em cada clube por onde passa!
A sua capacidade é tal, que das três equipas por onde passou no ano passado, 2 desceram de divisão! A outra só não desceu porque o despediu ainda a tempo de vir outro treinador salvar a coisa. A ultima vitima foi o Beira-Mar, que o despediu finalmente esta semana, estando num prometedor 18º lugar (em 18!). Não será por acaso que já lhe dão a alcunha de Luís Campas, em nome de todas as equipas que ele já enterrou!

A verdadeira questão é: Porque é que o continuam a contratar?

O papa morreu

Pois é, parece que o pobre velhote teve finalmente o descanso que merece. Não sou propriamente uma pessoa religiosa, pelo contrário, quem me conhece, sabe bem do ódio de estimação que nutro contra a igreja católica, e pessoalmente, não tenho grande dúvida que essa e outras seitas milenares têm sido, nos últimos milénios, os principais entraves ao desenvolvimento da humanidade (10 séculos de Idade Média devem chegar para explicar a minha opinião!!!).
Ainda assim, não podia deixar de mencionar o acontecimento, por um lado, porque trata-se de um acontecimento histórico, basta dizer que Carol Wojtila foi o único papa que alguma vez conheci, já estava no cargo quando eu nasci e por isso ele sempre foi para mim um sinónimo da palavra "papa". São estas as poucas ocasiões que temos para realmente sentir que estamos a navegar na crista da história, e que ela se desenrola sob os nosso pés, mesmo quando nos parece que tudo está parado. Por outro lado, se filtramos todos os dogmatismos inerentes a um cardeal da igreja católica (ao chefe deles, ainda por cima!), Carol Wojtila parece ter sido um homem realmente merecedor do seu lugar na história. Não posso concordar com as suas posições sobre tantas coisas como: a contracepção, o aborto, a eutanásia, ou a existência de Deus e a posição de vassalagem a que eles gostam de reduzir a humanidade. Mas ele também foi o primeiro papa que assumiu os horrores dantescos levados a cabo pela sua igreja ao longo dos séculos, defendeu a igualdade e a(lguma) liberdade para os povos e procurou até a aproximação entre as várias fés que dominam o globo. Só por isso, acho que merecia esta menção no meu blog.

Só me resta dizer duas coisas:
- espero que o próximo não seja um gajo completamente fanático e fundamentalista.
- adeusinho pá! Apesar de não acreditar nisso, até que era fixe se fosses tu quem tinha razão e existisse realmente alguma "vida" depois da morte.

Se algum pensou que este post ia acabar em "amén" devem tar mas é com uma grande trip de um ácido qualquer! Só porque disse bem do papa, não quer dizer que não prefira manda "à merda" o resto da corja toda do vaticano.