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Petiscos Selvagens
Cá estou eu no processo de preparar um arroz de polvo. |
Continuando no mesmo tema, as refeições, à que dizer
que se come muito bem na Selvagem Grande. Fosse obra minha, da minha
colega Maria ou, sobretudo, do vigilante Jaques, os almoços e
jantares eram sempre pontos altos de cada dia e deixavam sempre o estômago e as papilas gustativas bem aconchegados.
Já falei dos gaiados frescos que nos foram oferecidos
pelos pescadores, peixes deliciosos da família do atum que foram
sempre deliciosos, quer fritos, quer grelhados, quer assados que em
escabeche. Lembro-me também de um deliciosos bacalhau à Gomes Sá
feito pelo Jaques e de deliciosas saladas e massas de atum e
carapaus com milho frito. Quanto ao peixe-espada, elemento essencial
da cozinha madeirense, foram duas ou três as refeições em que
reinou, sempre no forno com batatas e vegetais. Resta-me referir um
arroz de polvo, da minha autoria, que não ficou mesmo nada mau. A
secção do peixe ficou assim muito bem representada.
Da carne, passando pelas costeletas e bifes, o ponto
alto foram sem duvida as monumentais feijoadas com que o Jaques nos
brindou. Foram feijoadas ricas, abundantes de feijão, de tomate, de
cenoura e de couve, com doses generosas de chouriço e deliciosos
pedaços de porco e de frango, numa mistura de sabores que ficava
ainda melhor na refeição seguinte, pois as feijoadas foram sempre
preparadas em quantidade suficiente para pelo menos duas refeições.
Devo dizer que as doses na Selvagem têm de ser ponderadas com o
efeito da maresia e do trabalho de campo, sendo substancialmente
maiores que doses normais. Acabados de subir e descer os carreiros íngremes até ao planalto e temperados pelo eterno aroma da maresia
oceânica, atacávamos todas as refeições como se fossem a última e
não poucas vezes era necessário recorrer à siesta para
digerir o almoço. As espetadas, também elas tipicamente
Madeirenses, e o entrecosto, ambos grelhados na brasa foram outras
das iguarias provadas e largamente apreciadas. Falando de comida, não
posso deixar de referir o pão fresco, cozido no forno a lenha por
trás da casa, uma delícia!
As sobremesas foram geralmente de fruta, que tem de ser
devidamente valorizada neste sítio remoto onde a fruta só chega de
três em três semanas e também as saladas, em que os tomates
selvagens da ilha eram presença constante, garantiam a dose
recomendada de vitaminas. Ainda assim lembro-me de um bolo de banana,
feito exactamente para aproveitar algumas bananas que não
sobreviveram à dureza da estadia, e um doce de bolacha com café,
natas e leite condensado, no fundo o clássico "doce da casa"
que abunda por aí pelas casas de pasto do nosso país.
Falta-me referir que as refeições foram quase sempre
regadas com vinho tinto e que no capítulo do álcool foram rainhas
as belas ponchas que o Jaques nos preparou. Para quem não conhece, a
poncha é uma bebida da Madeira, feita com aguardente de cana, mel e
sumo de frutas, habitualmente laranja ou limão. Não há nada como
uma bela poncha para aquecer o corpo e o espírito.
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