domingo, janeiro 28, 2007

O poema da Natália

Para quem não acompanhou este despique de ideias, à volta da questão do aborto, deixo-vos aqui o genial poema com que a Natália Correia respondeu a João Morgado, deputado do CDS que tinha dito que na sua opinião, muito moral e pia, "o acto sexual é para fazer filhos".


Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.


Natália Correia

sábado, janeiro 20, 2007

Do Tejo ao casario branco

Sabem do que gosto mesmo em Lisboa?

Cada vez mais gosto de tudo. Nao sou alfacinha, nasci e cresci nas Caldas da Rainha, onde ainda vou com frequencia e me sinto bastante em casa, mas a verdade e que a cidade branca a pouco e pouco me adoptou. Ao principio era demasiado grande, demasiado barulhenta, demasiado stressante, demasiado fria e impessoal. Com o tempo fui-lhe reconhecendo as virtudes, o seu lado humano, a sua beleza, a sua luz unica, com o passar do tempo apaixonei-me. Diz o povo que primeiro estranha-se e depois entranha-se, nao e? Pois foi assim. Ja me custa hoje viver sem este Rio Tejo dono e senhor da cidade, imponente em cada vislumbre, relaxante e enternecedor no seu toque clamo para os sentidos. Sem os pequenos bairros, verdadeiras aldeias dentro da metropole. Sem as ruelas e becos de Alfama, da Mouraria, da Se ou do Castelo, das pequenas perolas que encontramos em cada recanto, seja um canteiro florido entre dois pedacos de calcada ou uma escadaria que de tao apertada quase nao deixa passar um homem. Sem os miradouros, seja St. Luzia, no Castelo ou no Adamastor, e sem cada pequeno espaco entre dois predio robustos por entre os quais se vislumbra o azul reluzente do Tejo sempre presente. Sem o casario branco que presentei-a quem atravessa a ponte vindo de Almada (O Rui Veloso que venha ca abaixo a terra dos mouros se quer ver sobre que cidade deveria andar a escrever musicas). Sem as avenidas largas e as ruas pombalinas. Sem os cafes historicos e os recantos culturais. Sem as tascas onde o fado se quer bem esganicado e os restaurantes finos onde os precos assustam. Sem as centenas de cafes e bares que duas vidas nao chegariam para conhecer. Sem os milhares de estrangeiros de mapa na mao. Sem as estacoes de metro exageradamente decoradas, mas tornadas obras de arte. Sem os jacarandas em flor no fim da Primavera. Sem uma igreja em cada esquina e um monumento em cada rua. Sem um jardim em cada bairro e o arvoredo por entre as ruas. Sem Belem e sem Alcantara, sem Campo de Ourique e o Bairro Alto, sem a Graca e a Penha de Franca, sem o Campo Grande e o Campo Pequeno.

Esta cidade acolheu-me a 8 anos, nesses anos tornou-me seu, deu-me a conhecer as melhores coisas e os melhores momentos da minha vida. Nao sei se ja perceberam, adoro Lisboa!

Dias cinzentos

Dias azuis em que chove sem razão,
Dia cinzentos em que o Sol brilha com convicção
Um dia de cada vez,
Por vezes tem de ser assim
Nem sempre é fácil de perceber
Nem sempre é fácil aceitar
Mas com um pouco da tua luz
Aqui e ali
Um novo início afigura-se ao fundo do túnel

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Pontual

Eu sou pontual. Pronto, está dito, eu sou pontual.
Não sei muito bem como tal coisa me foi acontecer, não sei se será de família, se uma má influencia da sociedade, só sei que sempre o fui. Custa-me admiti-lo, mas é verdade, reconheço-o agora que já cresci o suficiente como pessoa para admitir este trágico problema que me desgraça a vida.
É triste nesta sociedade ter um problema assim, ser o único português pontual. A forma como nos olham de lado, como se de um animal perigoso nos tratassemos, a maneira como sentimos que o nosso problema prejudica os outros, a forma como nos fazemos sentir mal quando nos vêm chegar a um compromisso àquela hora em que o combinamos, chegarmos a um jantar a horas, na altura em que as pessoas ainda estão a pensar em começar a pensar em preparar a casa para as visitas.
Peço desculpa aos meus amigos, aos meus colegas, aos meus médicos, aos meus patrões, a todos aqueles que já prejudiquei com este mal que me desgraça a vida. As vezes preferia nunca ter nascido, porque tenho de ser assim?
É triste mas é verdade, sou pontual.

E pensaram que andaram uns pais a criar um filho para isto...

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Fé na esperança

Entre as inquitetudes de um dia vazio, nasce a esperança de um sorriso,
entre as dúvidas de uma dor que espreita, nasce a certeza de um prazer profundo,
entre o pânico de viver no medo, nasce a esperança de uma paz doce,
entre os pregos de uma cruz despida, nasce o desejo de dar um passo em frente.

Costurada pela languidez e pela proximidade
Enchertada com ramos de compreensão e fé
Semeada com gestos de carinho e atenção
Cresce uma esperança mais forte do que o medo



Não, não estou a falar de religião.

Bem Vindo

E lá chegou ele, meu estremunhado com tanto fogo de artificio e animação, baralhado com tanta gritaria e tanta dança, algo tocado pelos litros e litros de champanhe e um pouco agoniado por tanta passa engolidas em tão pouco tempo. Eis que ele aí está, 2007. Bem vindo rapaz! Vamos fazer companhia um ao outro nos próximos 365 dias, parece...