quinta-feira, abril 30, 2015

Músicas da Minha Vida II

Era difícil não incluir uma música dos Queen nesta selecção, mas ainda mais difícil foi escolher qual música do grupo que tanto me acompanhou durante a minha juventude (e bem depois do Freddy Mecury já ter falecido). Pensei no "We Are the Champions", que nos deixa sempre de cabelos em pé no final de cada grande final desportiva, mas nenhuma música resume tão bem a musicalidade dos Queen como este excepcional Bohemian Rhapsody. Vale pena ouvir, e pensar um pouco num tempo em que as grandes estrelas da música podiam ser feias e ter dentes tortos, desde que fossem realmente bons músicos e, sobretudo, no caso do Freddy, vocalistas extraordinários.


sábado, abril 25, 2015

Músicas da minha vida I

Decidi começar uma nova rubrica aqui no blog, em que vou apresentar, ao longo das próximas semanas, 20 músicas que marcaram a minha vida. Eram para ser 10, e eram para ser "as músicas da minha vida", mas depressa percebi que essas seriam muito mais que 10 e muito mais que 20. Serão assim 20 músicas que me marcaram, por diversos motivos.
Para começar, e porque hoje é 25 de Abril, nada melhor que arrancar com o Zeca, neste "Grândola, Vila Morena", que não sendo a minha música favorita do Zeca Afonso, é certamente a música dele que mais me marcou, pelo que tem de simbólico e porque em bom de verdade a minha vida teria sido certamente muito diferente (teria eu mesmo existido?) se aqueles jovens capitães não tivessem decidido dar o seu murro na mesa do Portugal cinzento, estagnado e garrotado pela ditadura, naquele feliz Abril seis anos antes de eu ter vindo ao mundo.


sexta-feira, janeiro 09, 2015

Do terrorismo e dos poderes



Pode parecer estranho, mas vou abrir esta minha pequena reflexão sobre o terrorismo com esta pequena citação retirada da Guerra das Estrelas "If you strike me down, I shall become more powerful than you can possibly imagine". Escrevo estas linhas depois da Europa e do Mundo terem sido chocados pelo ataque vil e cobarde de três homens ligados ao jihadismo islâmico contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, de que resultaram 12 mortos e outros tantos feridos.
Esta frase veio-me imediatamente à cabeça ao ver a reacção dos media mundiais ao massacre dos jornalistas e cartonistas franceses. Milhões de pessoas que nunca tinham sequer ouvido falar do jornal tornaram-se instantaneamente fãs do Charlie Hebdo e muitos dos cartoons satíricos das vítimas foram vistos mais vezes em poucos minutos do que em toda a sua existência até então. Em vez de "matar o Charlie Hebdo", como se vangloriaram os terroristas, eles ajudaram a tornar a sua mensagem muito mais conhecida. Em vez de atacarem a liberdade de expressão, como pretendiam, acordaram as pessoas para a necessidade premente de proteger cada vez mais nos nossos dias este valor básico do conceito civilizacional que a Europa deu ao mundo.

Contudo, esta frase, pelo menos neste contexto, tem obviamente dois gumes. Ela aplica-se também perfeitamente à resposta habitual americana (e tantas vezes também europeia) ao problema do terrorismo: eles atacara-nos, vamos lá largar umas quantas bombas e matar uns quantos por lá, sem olhar muito ao problemas subjacentes que criaram a situação actual. A explosão recente do jihadismo, hoje personificada pelo Estado Islâmico, não resulta de nenhuma maldade subjacente do Islão, ou sequer de facções particularmente radicais do Islão. Ela resultou, de um fogueira que arde há muito naquela região do globo e que é atiçada de cada vez que os países ocidentais intervém militarmente na região. Tal como como Obi-Wan Kenobi na Guerra das Estrelas, também o terrorismo se torna muito mais forte de cada vez que é atacado com recurso à violência cega. Quando os "danos colaterais" das bombas ocidentais matam um pai de família, não se criam apenas novos orfãos, criam-se novos orfãos que quando mais tarde tiverem de escolher entre viver na miséria ou morrer na vingança, tenderão a escolher a segunda. Cada vítima de um ataque militar é mais um argumento na mão dos fanáticos que pretendem incendiar o ódio contra o ocidente.

Como se deverá então combater o terrorismo? Sinceramente não sei. Imagino que até certo ponto seja mesmo necessário recorrer à violência e à repressão, mas apenas como uma solução temporária. Uma verdadeira solução para o problema passaria por eliminar as causas do terrorismo. Por um lado, a desigualdade económica que permite que seja preferível arriscar a vida numa barcaça ou aliar-se ao Estado Islâmico a viver na total miséria e desterro em que definham os cidadãos de tantos países. Por outro lado, a falta crónica de educação, educação no sentido académico e não moral do termo. A falta de educação universal, para todos e para todas, sem distinção de sexo, classe social ou etnia. No fundo é esta a única verdadeira diferença entre a Europa e o mundo islâmico. Foi a educação, que num sentido muito lacto significa a ciência, a filosofia, a arte, que transformou a Europa de um pântano teocrático medieval na Europa moderna que, com todos os seus muitíssimos defeitos, é ainda assim um dos poucos garantes dos valores máximos da humanidade no mundo actual: a justiça, a liberdade, o humanismo.

Em conclusão, espero que os nossos governantes possam ver que o terrorismo só atinge o seu objectivo se lhe for permitido tornar-se uma desculpa para destruir os nossos valores. A tragédia não é ter sido atacado um jornal em França,  na verdade este ataque tornou-o inimaginavelmente mais poderosos. A tragédia seria ver estes ataques levarem a que a Europa pusesse em causa a liberdade e a igualdade em prol de uma ideia efémera de segurança. A tragédia seria este ataque servir de desculpa para continuar a atacar, marginalizar ou excluir cegamente os cidadãos do mundo islâmico, pois isso só servirá par continuar a tornar os terroristas muito mais poderosos do que nós imaginamos.