terça-feira, setembro 18, 2012

Postais das Selvagens


24 – A rendição

O N.R.P. Schultz Xavier durante a rendição.

Como fiquei na Selvagem Grande duas estadias, ou seja seis semanas consecutivas, chegou o dia médio em que foi feita uma rendição, indo-se embora a restante equipa que estava comigo na ilha, a Maria e o Jaques, e chegando a nova equipa para as três semanas seguintes, o Cristóbal, o Federico, o Lourenço, a Joana, e outra Maria, como que confirmando que todas as portuguesas são marias, até as bolachas.
Depois dos atrasos e adiamentos habituais, resultantes de uma aparente falta de organização, ou comunicação, da marinha portuguesa, lá chegaram eles, um dia depois do previsto. O barco, o balizador N.R.P. Schultz Xavier chegou e começou logo por perder uma balsa salva-vidas, que voou com o vento sem que ninguém a conseguisse apanhar. Entre perseguições à balsa por bote e com o próprio navio, lá conseguiram atrasar tudo mais umas boas horas. Depois o comandante do navio decidiu não fundear o barco, o que fez com que o barco estivesse sempre a mudar de posição, devido ao vento e à ondulação, o que em muito complicou o trabalho do bote da reserva. Pergunto-me o que aconteceria à nossa marinha se um dia tivessem de tomar parte num conflito armado... Depois veio a tarefa de descarregar todo o material e pessoas, o que requeriu uma série de viagens do bote e muito trabalho para acartar tudo para casa. Finda a rendição, cá estava eu, na ilha, com um grupo completamente diferente de pessoas.
As segundas três semanas começavam e logo se tornou claro que o tom da estadia tinha mudado. Com um grupo maior de pessoas tudo ficou (ainda) mais animado: as refeições, o trabalho de campo, as subidas nocturnas ao planalto e claro, as noites passadas a jogar à cartas na varanda. Cabia-me agora ensinar à nova Maria tudo o que ela necessitava de saber para continuar o trabalho das almas-negras de forma autónoma, depois de eu partir. Felizmente ela mostrou-se uma boa aluna e rapidamente entrou dentro do ritmo habitual de visitas aos ninhos, pesagens e, claro, bicadas nos dedos.
Com as novas chegadas surgiram também oportunidade para praxes. Para a Maria, o Federico e a Joana era a primeira visita à ilha, e lá os conseguimos convencer que o reservatório de água salgada tinha de ser enchido a força de braços, alombando baldes cheio de água do mar até ao reservatório localizado sobre a casa. Cada um transportou um balde pesadíssimo cheio de água antes de lhes ser revelada a existência de uma bomba de água para esse efeito. Praxe!

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