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A rendição
O N.R.P. Schultz Xavier durante a rendição. |
Como fiquei na Selvagem Grande duas estadias, ou seja
seis semanas consecutivas, chegou o dia médio em que foi feita uma
rendição, indo-se embora a restante equipa que estava comigo na
ilha, a Maria e o Jaques, e chegando a nova equipa para as três
semanas seguintes, o Cristóbal, o Federico, o Lourenço, a Joana, e
outra Maria, como que confirmando que todas as portuguesas são
marias, até as bolachas.
Depois dos atrasos e adiamentos habituais, resultantes
de uma aparente falta de organização, ou comunicação, da marinha
portuguesa, lá chegaram eles, um dia depois do previsto. O barco, o
balizador N.R.P. Schultz Xavier chegou e começou logo por perder uma
balsa salva-vidas, que voou com o vento sem que ninguém a
conseguisse apanhar. Entre perseguições à balsa por bote e com o
próprio navio, lá conseguiram atrasar tudo mais umas boas horas.
Depois o comandante do navio decidiu não fundear o barco, o que fez
com que o barco estivesse sempre a mudar de posição, devido ao
vento e à ondulação, o que em muito complicou o trabalho do bote
da reserva. Pergunto-me o que aconteceria à nossa marinha se um dia
tivessem de tomar parte num conflito armado... Depois veio a tarefa
de descarregar todo o material e pessoas, o que requeriu uma série
de viagens do bote e muito trabalho para acartar tudo para casa.
Finda a rendição, cá estava eu, na ilha, com um grupo
completamente diferente de pessoas.
As segundas três semanas começavam e logo se tornou
claro que o tom da estadia tinha mudado. Com um grupo maior de
pessoas tudo ficou (ainda) mais animado: as refeições, o trabalho
de campo, as subidas nocturnas ao planalto e claro, as noites
passadas a jogar à cartas na varanda. Cabia-me agora ensinar à nova
Maria tudo o que ela necessitava de saber para continuar o trabalho
das almas-negras de forma autónoma, depois de eu partir. Felizmente
ela mostrou-se uma boa aluna e rapidamente entrou dentro do ritmo
habitual de visitas aos ninhos, pesagens e, claro, bicadas nos dedos.
Com as novas chegadas surgiram também oportunidade para
praxes. Para a Maria, o Federico e a Joana era a primeira visita à
ilha, e lá os conseguimos convencer que o reservatório de água
salgada tinha de ser enchido a força de braços, alombando baldes
cheio de água do mar até ao reservatório localizado sobre a casa.
Cada um transportou um balde pesadíssimo cheio de água antes de lhes
ser revelada a existência de uma bomba de água para esse efeito.
Praxe!
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