domingo, janeiro 31, 2010

Invictus

Hoje fui ver o mais recente filme do Clint Eastwood, "Invictus". Adorei o filme, que segue um pedaço da história recente da África do Sul, e talvez um dos momentos mais belos da história do século XX, quando o recém-eleito, e recém-liberto da prisão, Nelson Mandela, utilizou a equipa de rugbi da África do Sul como forma de começar o difícil processo de pacificação dos brancos e dos negros num país acabado de saír de décadas de Apartheid. A equipa de rugbi era um dos bastiões do domínio da minoria branca e vista como um enimigo pela população branca, mas através da liderança inspirada do grande estatista africano a equipa tornou-se um símbolo da nova unidade nacional e tomou até como hino o "Nkosi Sikelel' iAfrika", o novo hino negro da África do Sul.
Ao ver o filme, relembrei também um sentimento que eu já tinha esquecido, que vivi com entusiasmo na minha adolescencia nos anos 90. De alguma forma a primeira metade dos anos 90 pareciam o renascer do mundo para um futuro melhor, parecia que a história dava passos decididos para algo de melhor. Pelo menos a mim parecia. A queda do muro de Berlim e a consequente mudança política trouxe a liberdade e a democracia para milhões de pessoas na Europa de Leste, o mundo acordava do absurdo da guerra fria e na África do Sul nascia uma nova nação, livre de preconceitos racistas anacrónicos. Os Jogos Olimpicos de 92' em Barcelona pareciam uma celebração de um novo mundo melhor, sem facções beligerantes e pleno de igualdade. No mesmo ano decorria a Cimeira da Terra no Rio de Janeiro e parecia que a humanidade estava disposta não só a depor as armas na disputa entre blocos e super-potências, mas também na sua constante e suícida guerra contra o próprio planeta.
Talvez tenha sido a inocência infantil a dar um canto de cisne antes de morrer, ou talvez o mundo tenha mesmo passado por um período de mudança e esperança nos anos 90. Infelizmente foi Sol de pouca dura e depressa passou esse tempo de esperança. O fim da guerra fria trouxe um aumento da prepotencia da única super-potência que sobrava. As desigualdades sociais, longe de diminirem, aumentam cada vez mais, servindo de pasto para o conflito um pouco por todo o mundo, para a radicalização dos mais pobres e para o advento do novo terrorismo que em vez de ideologico é simplesmente sociopata e psicopata.
Resta-nos a beleza de um bonito momento na história triste do século XX. E a luz imensa de um homem único, que saíu de 30 anos de carcel disposto a perdoar aqueles que o prenderam, e assim começar a sarar as feridas profundas que marcavam o seu país. Ficou-nos esse grande Nélson Mandela, um dos grandes vultos que vão ficar para sempre na nossa história comum.