quinta-feira, junho 30, 2005

Quintas-feiras culturais I

Começa hoje oficialmente a rubrica: "Quintas-feiras culturais", com um poema de Alberto Caeiro (ou melhor do Fernando Pessoa, que essa treta dos heterónimos já é demasiado literária para o meu gosto, o gajo que assuma o que escreve, porque até nem escrevia mal...). Pronto, este comentário já destruiu completamenta a aura cultural da rubrica, mas não quero que o meu amigo Filipe ache que eu estou a perder as minhas qualidades de cientista cínico e racional (com orgulho de o ser!).
Cá fica o poema:


Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro

quarta-feira, junho 29, 2005

Porquê?


Como é que dizemos aquilo que nenhuma palavra diz? Como é que solucionamos um problema sem solução? Um e um são dois, é verdade, mas o que é que fazemos quando não são? Enfim, a vida é complicada...

Será que não podemos fazer a evolução voltar para trás? Eu não quero ter este cérebro enorme, pesadíssimo e complicadissimo que só me arranja complicações, tenho saudades do tempo que eramos só uns macaquitos peludos a correr pelos ramos das árvores. Em que a vida era feita de certezas e em que não tinhamos a capacidade de decompor uma certeza, sabida com a força sanguínea do instinto, num conjunto de questões filosóficas, inerentemente insolucionáveis.
Por outro lado, as virtudes também são muitas. Eu gosto de saber. Faz parte de nós uma sede sem fim pelo doce néctar do conhecimento. Explorar, descobrir, aprender, são estas as satisfações que vêm com a massa viscosa de neurónios que nos cresce por trás dos olhos. No fundo é uma questão de saltar de estado de equílibrio, uma mudança de paradigma, de um estado inicial em que sabemos mas não precisamos de saber, para um estado em que não sabemos mas desejamos ardentemente saber.
Se alguém ler isto, é bem capaz de não lhe achar sentido. Tudo bem, eu próprio vejo pouco sentido nestas divagações... mas já serviu para organizar os meus neurónios, o problema deles é ficarem às vezes sem nada para fazer, mesmo quando estão carregados de trabalho. Mas basta po-los a trabalhar um pouco mais para voltarem a encaixar nas engrenagens.

Porquê?












Ficam aqui os conselhos para os leitores deste blog que, como eu, trabalham em ciência e, como tal, tentam publicar artigos ciêntificos em revistas cientificas.
Está aqui a solução para responder a um revisor mais sacanóide...

Primeira Imagem


Eu sei que é um bocado estúpido, mas só hoje percebi como se faz para colocar imagens nos posts... Tenho uma desculpa, o meu browser não deixava aparecer a janela de upload de imagens porque a considerava um pop-up! mas aqui está, primeira imagem do meu blog, nem mais nem menos que uma Tarambola-cinzenta, um dos bichitos giros com que eu trabalho. E esta está a comer um enormissimo poliqueta!

Computadores

Computadores...
Máquinas infernais criadas com o único intuito de fazer da vida do homem um Inferno, mas sem as quais, na verdade, não poderiamos, nem tão pouco quereriamos viver. (Acho que já alguém escreveu exactamente a mesma frase sobre as mulheres...).
Só no ultimo mês, dois computadores aqui do meu local de trabalho tiveram episódios de morte cerebral, sem nenhum motivo válido para explicar tal tragédia, resultado: esventrei-os, procurei ligações mal-feitas, voltei a por tudo no sítio e num dos casos voltou a trabalhar tudo como de costume (com os ocasionais crashes), quanto ao outro teve de ir visitar o técnico, que imediatamente anunciou a solução: formata-se o disco! Sinceramente, eu acho que o pessoal de informática, na verdade, não percebe nada de computadores, não fazem a mais pálida ideia do que causa os problemas e apostam logo na solução mais radical possivel, um pouco como se um médico, perante uma ferida num dedo imediatamente anunciasse: amputa-se o braço!.
Depois lá volta o computador recém-formatado, um pouco como se tivesse sido lobotomizado, a fazer tudo o que nós queremos, mas com uma vaga estranheza como se não fosse bem o mesmo computador.
Então começa a aventura das re-instalações. Onde é que eu meti aquele CD do programa Y? Que seca, o Zé Manel nunca me chegou a devolver o CD do programa X... Que treta, o Cd do programa Z não funciona.
Só para instalar o Office tive de tentar 3 CD de instalção diferentes até um funcionar.

E tudo isto para que? Para poder voltar ao trabalho e passar os dias a discutir com o monitor por causa das pequenas artimanhas que o computador inventa para nos fazer, passo a passo, caminhar no sentido da loucura. Porque eles crasham sempre quando nós nos esquecemos de gravar o trabalho nas ultimas 3h, porque o disco rigido nunca avaria no dia seguinte a termos feito um backup mas sim naquele único mês em que nos esquecemos de o fazer, porque é sempre no momento de maior pressa e stress que aparece o "erro crítico" ou a impressora começa a imprimir caracteres demoniacos em vez do documento que nós queriamos imprimir...

Eu não devia ter escrito isto, porque o computador vai perceber...
Porque eles percebem...
Eles percebem...

Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!

segunda-feira, junho 27, 2005

Então cá vai mais um poema

Vou ver se na proxima quinta-feira começo a nova rubrica deste blog, "quintas-feiras culturais". Mas para respeitar os pedidos de que faz comments, aqui fica um poema:


CIDADE

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas

Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.


Sophia de Mello Breyner Andresen
1944

terça-feira, junho 21, 2005

Eu até não sou uma pessoa muito respeitadora dos simbolos nacionais, não me incomoda muito se alguém fizer uma brincadeira com a bandeira nacional ou com o hino, mas ver aqueles palhaços skinheads a fazerem saudações nazis enquanto cantavam "A Portuguesa" nessa infeliz manisfetação contra a criminalidade deu-me a volta ao estomâgo! A criminalidade pode ser um grande problema e tudo mais, mas a mim assusta-me ainda mais este tipo de manifestações. Saudações nazis? Mas esses palhaços de merda sabem ao menos o que isso significa? Sabem alguma coisa dos 60 milhões que morreram por causa desses cabrões (e a maioria foram civis, sobretudo alemães e russos, não foram nem soldados nem os desgraçados dos judeus)? Sabem alguma coisa do que significa ser perseguido só por se ter nascido? Sabem alguma coisa do que significa perder todos aqueles que amamos só porque um atrasado mental de bigodinho mariconço tinha um trauma infantil contra judeus? Felizmente eu também não sei, mas ao menos sei pensar!

Eu estou à vontade para falar disto porque não pertenço a nenhuma minoria, sou português, nascido em portugal, de familia portuguesa até várias gerações atrás. Não pertenço a nenhuma religião minoritária e a minha pele enquadra-se bem dentro dos tons habituais para os habitantes da Peninsula Ibérica. E é por isso mesmo que isto me enoja tanto!
Há cada vez mais criminalidade? É verdade. Uma percentagem significativa dos crimes são cometidos por pessoas de origem estrangeira? Também é verdade. Mas que moralidade é que nós temos para levantar um dedo que seja contra os imigrantes que recebemos em Portugal? Existem mais portugueses espalhados pelo mundo fora do que em Portugal. Sempre gostamos de ser bem recebidos e até temos o hábito de rapidamente nos misturarmos com os locais, ao ponto dos apelidos Silva, Antunes e Santos serem comuns em alguns países asiáticos!
Mas nem é essa a questão, o problema é que as mentalidade fechadas e retrogradas daqueles que marcharam no domingo são, basicamente, um resumo de tudo o que está mal no mundo e é exactamente o mesmo mal que encontramos nos putos estúpidos que acharam graça a ir para a praia assaltar pessoas que nunca lhes fizeram mal nenhum. E aqui gosto de ser bem directo ao assunto, existem em Portugal muitos africanos que são talvez ainda mais racistas do que os broncos (sim eu queria escrever broncos e não brancos) que andaram a manifestar-se no Martim Moniz no domingo.

Acho que este é um problema latente na nossa sociedade, um daqueles ninhos de vespas em que ninguém quer tocar, mas pode muito bem ser uma granada pronta a explodir nas nossas mãos. Enquanto continuarmos a ter uma sociedade injusta, em que as pessoas não são avaliadas e recompensadas pelo seu valor mas sim pelo seu estatuto, nunca poderemos debelar estas situações. Enquanto uma criança (independentemente da cor da pele) só ter nascido num bairro mais pobre, continuar a ver as suas chances de vir a ter uma boa vida negadas. Enquanto os meninos de familias ricas continuarem a ter livre acesso a todos os bons empregos com base no famoso sistema do "Factor C", das cunhas e trocas de favores entre aqueles que mandam, sempre com prejuizo dos outros que até podem ser melhores e geralmente são-o. Enquanto o nosso sistema de ensino não passar de uma pobre desculpa para manter os pobres em baixo. Enquanto os piores criminosos continuarem a ser castigados com meras chapadinhas nas mãos estando as prisões cheias de desgraçados que roubam para comer. Enquanto se permitir que milhares, ou mesmo milhões de criaças estejam impossibilitadas de contactar os seus pais devido aos horários de trabalho absurdos e à falta de condições de vida, ficando a sua educação ao cuidadado de uma televisão cada vez mais glorificadora de tudo o que é mediocre e inútil. Enquanto continuarmos a viver numa sociedade onde a mediocridade e o sucesso fácil se impõem sobre a valorização do trabalho árduo e do verdadeiro valor dos cidadãos. Enquanto vivermos assim não vamos a lado nenhum.
E não pensem que esta é uma questão racial ou étnica, porque nesse caso somos 10 milhões de pretos a ser fodidos à grande por meia dúzia de negreiros que fazem tudo para continuar a engordar às nossas custas.

Não continuem a procurar causas simples para os problemas sociais, não vejam o mundo só a duas cores nem procurem fugas rápidas para os problemas. Não inventem desculpas, hoje os imigrantes, amanhã outros quaisqueres. Se cada um de nós fizer a sua parte, tentando viver como parte de uma sociedade e não na base do "eu contra o mundo". Se remarmos todas para o mesmo lado, pode ser que um dia lá cheguemos.

quinta-feira, junho 16, 2005

O primeiro dia...

Este blog vai de mal pior, não tive um unico comment desde à umas duas semanas! Como a ultima vez que tive um comment foi como resposta a um post com um poema vou tentar de novo, pode ser o "primeiro dia" do resto da vida deste blog. O poema é lindissimo e bem conhecido por ter sido musicado pelo Sérgio Godinho, aqui fica:


A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vem cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Artur Miguel Dias

terça-feira, junho 14, 2005

Inquietações

Este fim de semana foi S. António, grande festança, sobretudo para os sortudos, como eu, que vivem mesmo ao pé de Alfama. O ambiente é realmente fantástico e este é mesmo o único dia do ano em que nenhuma música é demasiado foleira para ser ouvida!
No entanto, há algo que me inquieta. Uma daquelas questões que praticamente me tira o sono... já repararam que o manjerico cheira a cravinho!!??! Uma pessoa vai a ver e o manjerico, símbolo nacional das festas de Junho não passa de uma planta imitadora que nem cheiro próprio tem. Aquilo cheira mesmo a cravinho. Quer dizer, como podemos alguma vez saber que planta imita qual... será o cravinho que cheira a manjerico? Acho mal. O majerico devia ter um cheiro único e inconfundivel, tal como a sardinha assada cheira a sardinha assada, não cheira a cherne estufado nem a atum de conserva!

Enfim, inquietações...

segunda-feira, junho 13, 2005

Homenagem

Queria deixar aqui a minha homenagem a dois grandes vultos do século XX português. Faleceram ambos hoje.

Um deles, Álvaro Cunhal, será sempre recordado pelo ardor com que defendeu os seus ideais e pela rectidão que sempre mostrou, que lhe fizeram merecer louvores até dos seus mais viscerais adversários políticos. Queria deixar-lhe aqui um vigoroso "Adeus, camarada!", apesar de não ser eleitor do seu partido, respeitarei sempre a sua postura e a forma como era capaz de subtilmente mostrar como é possível um político erguer-se acima das águas pântanosas da política nacional.

O outro, Eugénio de Andrade, é tão somente o poeta português cuja obra está traduzida em mais línguas estrangeiras, tendo provavelmente sido o maior poeta português do século XX (não, não me esqueci que o século XX foi também o século de Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Florbela Espanca e Sophia de Melo Breyner!). Eu admito a minha falta de originalidade, mas infelizmente não sou um poeta, por isso deixo-lhe como homenagem um poema seu, disponivel no Publico online de hoje:


AS PALAVRAS INTERDITAS

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade,
in «As palavras Interditas» (1951)




Bem hajam,
que as águas do tempo não apagem os vossos nome dos anais da história lusa

quarta-feira, junho 08, 2005

La Guerra de las Galaxias...

Li no blog do meu amigo Filipe que em Espanha chamam ao Star Wars, "La Guerra de las Galaxias". Ora ou os espanhóis são estúpidos ou simplesmente não sabem inglês...
Será que nunca nenhuma dessas mentes inspiradas leu no texto inicial de qualquer dos filmes da saga que tudo aquilo se passa NUMA, e uma só, galáxia muito, muito longe, há muito, muito tempo! Obviamente, a guerra não pode ser entre várias galáxias se tudo se passa numa só galáxia. Ou traduziam para "La Guerra Galactica", ou "La Guerra de la Galaxia", ou então fazim como as pessoas normais, isto é, todos os nasceram fora das fronteiras de Espanha, e chamavam aos filmes "Guerra das Estrelas", ou de las estrelias ou como quer que isso se diga nessa versão manhosa de Português a que eles chamam Castelhano.
Coños

terça-feira, junho 07, 2005

Calor em Portugal

calor, Calor, CALOR!

O céu já ganhou aquele tom azul infinito, apimentado pelo cinzento acastanho do smog estival de Lisboa, nuvens nem vê-las, à meses que parecem não querer nada connosco. A temperatura começa a roçar os 40º, quente o suficiente para sentirmos aquela constante insatisfação, uma mistura de desconforto térmico, a desagradável sensação de ter a roupa colada ao corpo e o desespero de ter de estar na cidade a trabalhar enquanto imaginamos o quão fresco e azul deve estar o mar na praia.
Pior do que isso, o calor torna-se O único tema de conversa. Chegamos ao trabalho e alguém tem de dizer "Está calor hoje, hã? Parece que davam 38 graus para Lisboa!" E lá vamos acenando um insonso "pois é, pois é..." enquanto pensamos como seria agradável não ter de estar sempre a ouvir falar de calor. Os telejornais tornam-se incrivelmente chatos. São os não sei quantos distritos em alerta amarelo por causa do calor, são as entrevistas a velhinhas de 60 anos na Amareleja que aparentemente só este ano perceberam que vivem no sítio mais quente do país. Acho que isto não passa de típico espírito tuga!
Temos de estar sempre miseráveis, faz parte do que nós somos. Basta ver que a música nacional é, supostamente, o Fado, aquele estilo em que os interpretes parecem estar sempre a queixar-se de uma dor de ouvidos ou de dentes terrível.
No Inverno está muito frio, no Verão está muito calor, quando chove, chove de mais, quando está Sol, é Sol de mais, quando estão nuvens elas são deprimentes, quando não à nuvens o céu é entediante. No litoral temos pena porque nunca neva, no interior queixam-se quando neva. As inudações são sempre uma catástrofe nacional, excepto nos anos de seca em que a falta de água é o inimigo mortal. Poupem-me.
- Em metade da Europa as pessoas chegam a passar vários meses sem ver o Sol e sonham com umas férias em Portugal
- Em algumas zonas de África já não chove à anos e as pessoas morrem à fome, enquanto em Portugal a obesidade é um grave problema de saúde.
- No sudoeste asiático morrem todos os anos milhares de pessoas devido às cheias e cidades inteiras são destruidas, aqui geralmente à uns problemazitos, geralmente porque temos o hábito inteligente de construir casas em leitos de cheia.
- A cidade de Nova Iorque (que por acaso está a uma latitude semelhante à nossa), sofre frequentemente nevões enormes durante o Inverno, alturas em que a cidade chega a ficar paralisada sob 1 ou 2 metros de neve e temperaturas na casa dos -20º, por cá é raro a Torre ter neve suficiente para o ski.

Nós temos possivelmente o melhor clima do mundo (a par do resto da bacia do Mediterrânio, da California e Flórida, do Sul da Austrália, da costa da África do Sul e de algumas partes do Japão), com Invernos amenos (vão explicar a um Finlandês que -5º é frio e ele ri-se na vossa cara) e Verões agradaveis. Temos montes de Sol e podemos ir à praia desde Março a Setembro. Apesar do clima agradavelmente temperado não temos malária, nem febre amarela, nem dengue nem tantos outros desses flagelos dos trópicos.
E mais, temos uma orla costeira descomunal, com cerca de 1000 Km de extensão, com um mar quente o suficiente para se poder tomar banho, mas fresco o suficiente para não atrair resmas de animais perigosos. Apesar dos nossos melhores esforços para as destruir, ainda temos algumas das melhores praias da Europa. Acrescentem ainda uma das melhores gastronomias do mundo (neste ponto eu, ou qualquer outro português somos suspeitos para falar), o facto de sermos um dos países do mundo com mais feriados, a ausência de problemas etnicos ou de terrorismo graves, a maioria da população vive a menos de 1h da praia mais próxima, temos sítios lindissimos para visitar e são todos perto porque o país é minusculo, apesar de não sermos ricos temos dinheiro suficiente para ão passar fome e ter condições minimas de vida, o nosso sistema de saúde pode não ser o mais eficiente mas existe e ainda é financiado pelo estado (os americanos jão não se podem felicitar por isso!), etc., etc.

Bem vistas as coisas, a coisa mais negativa neste país somos mesmo nós, os portugueses!

Aproveitem bem o Verão que aí vem...
e não se lamuriem tanto que já farta!

sexta-feira, junho 03, 2005

Estou com sono e não me apetece trabalhar

O titulo deste post resume bem porque razão estou neste momento sentado ao computador a escrever. Agora que os dias vão aquecendo, trabalhar nas horas logo após o almoço torna-se num martirío sem igual. Siesta! Benditos sejam os espanhóis por terem inventado tal coisa, infelizmente, é muito raro eu seguir o exemplo dos "nuestros hermanos", mas hoje, por exemplo, tenho a certeza que uma siesta faria maravilhas pela minha produtividade!
Já era tempo de as pessoas terem uns beliches nos locais de trabalho para fazerem a sua siesta rejuvenescedora depois de almoço, é practicamente uma necessidade fisiológica em países com o clima como o nosso.
Sinto-me como se nem uma gota de sangue estivesse a passar para cima do meu pescoço, provavelmente aquilo que estou a escrever nem está a fazer sentido, pudera, todo o meu sangue está à volta do estômago a absorver sofregamente o meu almoço.

Já agora aproveito para fazer serviço publico.
Este fim de semana vão-se disputar dois jogos de vólei entre as selecções nacionais de Portugal e do Brasil, a contar para a Liga Mundial de Vólei (o equivalente aos Mundiais de futebol). Os jogos vão ser no sábado e no domingo, às 16h, no Complexo Municipal de Desportos de Almada. Para quem estiver a torcer o nariz, tenho a dizer que o vólei é um desporto de grande espectacularidade, na verdade muito mais emotivo do que o futebol e no caso deste jogo, jogado certamente a um nível elevadíssimo. Vai ter em campo a selecção brasileira que é provavelmente uma das 3 melhores do mundo, mas Portugal tem também uma equipa respeitavel. Conseguir chegar à Liga Mundial só está ao alcançe dos melhores (só lá chegam as 12 melhores equipas) e já ganhou os dois primeiros jogos contra o Japão (respectivamente 3-0 e 3-1). Vão ser dois grandes jogos, que valem certamente o preço do bilhete (7,5 euros cada), por isso, vamos todos a Almada apoiar a uma Selecção Nacional que ganha muito menos dinheiro do que a de futebol, mas joga melhor, dá mais espéctaculo e honra muito mais a camisola das quinas!

Atenção, não quero com isto dizer que não quero ver também a selecção de futebol a ganhar o jogo com a Eslováquia deste fim de semana! Já cantava o Herman: "Vamos lá cambada, todos à molhada, que o maior é Portugal!"

quarta-feira, junho 01, 2005

A publicidade e o trânsito

Queria hoje falar de uma causa esquecida dos acidentes de trânsito nas cidades: os "outdoors" pulicitários de marcas de roupa intima feminina. Não que eu ache mal que ponham esses "outdoors", muito pelo contrário, até sou fã, mas que aquilo deve certamente causar muitos acidentes, não tenho duvidas! Ainda hoje, vinha eu calmamente no caminho para o trabalho quando me deparo com uma publicidade a uma marca que nunca tinha ouvido falar: Calzedonia (PUB) com uma rapariga a demonstrar todas as potencialidades de um biquini. Claro que mesmo que quisesse, não teria conseguido desviar os olhos para a estrada. Claro que à custa disso também tive de fazer uma travagem um pouco mais violenta do que o habitual.
Há uns tempos atrás era a campanha publicitária da Intimissi (PUB) que tinha provavelmente a modelo mais gira que alguma vez vi por ai colada nas paredes, outro perigo para o trânsito, ou a campanha de lançamento da FHM, e quem não se lembra do cartaz gigantesco da Triumph (PUB) com uma igualmente gigantesca Isabel Figueiras em trages mínimos, no início da 2ª circular... Muito carro deve ter ido visitar a oficina à custa desse cartaz.
Pois chego então a uma dúvida existencial. Seria que essa publicidade justifica o risco que acarreta para a condução? Acho que todos os homens concordaram comigo quando digo: sim, sem dúvida!
Foi exactamente com esse fim que a evolução moldou os homens para terem tempos de reacção ligeiramente melhores do que as mulheres (bem, para isso e para caçar mamutes, mas os mamutes já lá vão...). Assim conseguimos quase sempre travar a tempo!

Já agora, notem que essa publicidade até funciona. Eu até fixei os nomes das marcas que tinham essas publicidades!