segunda-feira, julho 31, 2006

Um homem muito certinho

O senhor Justino Certo era um homem muito certinho.
O Justino era sempre bem educado, nunco faltou ao respeito de ninguém. Respeitou sempre os patrões e tratou sempre com justiça os seus subalternos. Nunca excedeu os limites de velocidade nem estacionou o carro sem pagar no parquímetro. Nunca chamou nomes a ninguém, nem mesmo aos árbitros que roubavm o seu clube. Pagou sempre todos os impostos, tinha sempre as contas em dia. Na praia, nunca nadou com bandeira amarela e nunca tomou banho com bandeira vermelha, nunca chegou sequer perto da água quando era hasteada a bandeira de xadrez. Para os amigos foi sempre correcto, nunca deixou de por o bem-estar deles à frente do seu, nunca os incomodou com os seus problemas. À sua esposa nunca levantou a voz, aos filhos nunca levantou a mão. Nunca respondeu torto aos pais, nunca deixou de cumprir os conselhos dos mais velhos. Nunca fumou, nunca bebeu, nunca se divertiu em demasia. Foi sempre ordeiro e respeitador, nunca faltou ao cumprimento das leis e deveres.
Os seus amigos diziam dele que era um homem às direitas, os vizinhos chamavam-no uma pessoa muito honrada. Nas costas todos o tinham como a criatura mais aborrecida à face da terra.
Um dia, quando justino voltava do trabalho, encontrou a mulher na cama com outro homem, não querendo armar um escandalo, afastou-se surrateiramente e saíu de casa sem ser notado. Há porta do prédio encontrou os seus filhos a consumirem heroína, ouviu horrorizado os filhos a dizerem que o faziam porque não queriam um dia ser como ele.
Nao sabendo ao certo o que fazer, meteu-se no automóvel, mas tendo excedido pela primeira vez na vida o limite de velocidade ao passar a 95 numa estrada de limite 90, deixou o carro derrapar numa curva onde um camião tinha largado óleo. Envolveu-se num terrível acidente em que faleceram dois peões que passavam ao lado da estrada. Quando acordou, um mês depois, estava preso a uma cadeira de rodas, todas as suas poupanças haviam sido gastas a pagar indeminizações às famílias das vítimas. Telefonou à mulher, que vivia agora com um produtor de filmes pornograficos que colecionava BMWs e tinha uma vivenda no Estoril, mas esta desejou-lhe apenas boa sorte e pediu-lhe para nunca mais a voltasse a incomodar. Os filhos, agora heroínomanos sem retorno, disseram-lhe que contasse com eles quando necessitasse de uma autorização para lhe desligarem as máquinas.
Quando teve alta do hospital, sem dinheiro, sem sítio para onde ir e sem direito a ajudas do estado devido às suas dívidas para com o hospital, procurou abrigo debaixo de uma ponte. Quando, no meio de uma chuvada, os sem abrigo o expulsaram daquele local por ser "o pouso deles", disse pela primeira vez na vida: "Porra, puta de vida". Matou-se no dia seguinte, lançando-se para a frente de um comboio apesar da culpa que sentia por ir perturbar a vida dos passageiros da CP.
Ninguém compareceu no funeral.

Contradições

The lonelier I get the more I feel like being alone.

sábado, julho 29, 2006

Sem Surpresas

No caminho para Portugal, passei um dia em Barcelona, foi a minha primeira visita a capital da Catalunha e fiquei bastante bem impressionado, aliás, com muita vontade de lá vontar com mais tempo para desfrutar dos encantos da cidade.
A vida cosmopolita da cidade fez-me de imediato recordar um excelente filme passado em Barcelona, "A Residência Espanhola". No filme há uma música dos Radiohead que surge surrateiramente em vários momentos importantes, discretamente, sem se fazer notar. Tal como na vida do protagonista, também na minha vida esta música parece surgir por vezes, sorrateiramente, e por isso aqui fica with "No Surprises".

A heart that's full up like a landfill,
a job that slowly kills you,
bruises that won't heal.
You look so tired-unhappy,
bring down the government,
they don't, they don't speak for us.
I'll take a quiet life,
a handshake of carbon monoxide,

with no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
Silent silence.

This is my final fit,
my final bellyache,

with no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises please.

Such a pretty house
and such a pretty garden.

No alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises, please.


Do que eu precisava era de uns tempos de puro descanso, sem fazer nada e, sobretudo, sem pensar em nada. Silence... no alarms... no (bad) surprises... please!

quinta-feira, julho 27, 2006

Back in White

Parem as rotativas, cancelem os matutinos porque a notícia de ultima hora chegou às redacções. O Inevitavel Insatisfeito chegou a Portugal, acentando por hora arraias na bela localidade de Caldas da Rainha com passagem nas próximas horas pela Foz do Arelho onde exibirá o seu corpo atrozmente branco.
As saudades eram muitas, mas em apenas meio dia em Portugal já me lembrei de três coisas que me dão vontade de fugir já para a Holanda: eucaliptos onde antes haviam sobreiros, tias na televisão e o José Carlos Malato, seguidas de perto pelas notícias da silly season lusa e pela avalanche de possiveis contratações do Benfica. Enfim, nada que um mergulho refrescante no oceano não faça esquecer.

quinta-feira, julho 20, 2006

Looks familiar?

Farto...

Estou farto de ligar a televisao e ver que Israel continua a matar arabes impunemente...

Estou farto de ligar a televisao e ver que o Hezbolla e outras confederacoes arabes continuam a incitar Israel a violencia...

Estou farto de ver politicos a enganarem os seus povos com odios faceis e outras falacias historicas...

Estou farto de ver os EUA a apoiarem a violencia um pouco por todo o mundo, desde que favoreca os seus interesses...

Estou farto das demagogias e falsidades do conselho de seguranca da ONU...

Estou farto de ver o Bush, sentado numa cadeira com poder sobre milhares de ogivas nucleares, a criticar as brincadeiras infantis da Coria do Norte com misseis de medio alcance...

Estou farto de ver o povo coreano a morrer a fome sob o poder de um louco que prefere ver o seu povo morrer a abdicar das suas loucuras de poder...

Estou farto de ver o mundo a baixar as calcas perante cada apetite imperialista americano...

Estou farto de ver guerras interminaveis em Africa, que ja nem sao motivo de noticia, criadas, geridas e potenciadas pelos mesmos que falam abertamente da necessidade de combater a pobreza nesse continente...

Estou farto de ver a Europa algemada por ideologias politicas ultrapassadas que acreditam que a economia das nacoes e mais importante que o bem estar e a liberdade dos seus cidadaos...

Estou farto de xenofobias e racismos...

Estou farto de ver Portugal inteiro a arder em cada Verao sem que ninguem sequer admita que as causas e solucoes sao bem conhecidas mas nao sao do interesse dos poderosos...

Farto...


P.S. Peco desculpa pela ausencia de pontuacao... teclado holandes!

(Bad) Luck

Esta musica dos Radiohead tem passado com frequencia na playlist pseudo-aleatoria do meu MediaPlayer. Alienado da realidade enquanto analiso incontaveis videos com passaros, apanhamo-me a decifrar as letras das musicas. "Lucky".

Lucky
I'm on a roll,
I'm on a roll this time
I feel my luck could change.

Kill me Sarah,
kill me again with love,
it's gonna be a glorious day.

Pull me out of the aircrash,
Pull me out of the lake,
'cause i'm your superhero,
we are standing on the edge.

The head of state has called for me by name
but I don't have time for him.
It's gonna be a glorious day!
I feel my luck could change.

Pull me out of the aircrash,
Pull me out of the lake,
'cause i'm your superhero,
we are standing on the edge.

We are standing on the edge.


No fundo, nao andamos sempre todos a espera que a nossa sorte mude?

segunda-feira, julho 17, 2006

Return Home

Regressado da Islandia.
Uma semana quase perfeita, repleta de paisagens extraordinarias e momentos muito divertidos, pulvilhados por algum trabalho tambem. Logo que possivel apresentarei aqui algumas muitas fotografias que tirei por la. Na verdade bastaria andar de olhos fechados a tirar fotos aleatoriamente que era dificil mesmo assim nao tirar fotos magnificas.
De regresso a Groningen e de regresso ao trabalho. Brevemente o "bliss" da viagem a Islandia passara e poderei regressar aos habituais posts psico-depressivos. Por hora estou demasiado satisfeito para escrever esta Inevitavel Insatisfacao...
Deixo alguma poesia islandesa:

Íslands minni
Þið þekkið fold með blíðri brá,
og bláum tindi fjalla,
og svanahljómi, silungsá,
og sælu blómi valla,
og bröttum fossi, björtum sjá
og breiðum jökulskalla ---
drjúpi' hana blessun drottins á
um daga heimsins alla.


ou em ingles...


A Toast to Iceland
Our land of lakes forever fair
below blue mountain summits,
of swans, of salmon leaping where
the silver water plummets,
of glaciers swelling broad and bare
above earth's fiery sinews ---
the Lord pour out his largess there
as long as earth continues!

Jónas Hallgrímsson

quinta-feira, julho 06, 2006

Islândia

Eis onde eu vou estar na próxima semana. Espero que o ar frequinho e o Sol da meia noite ajudem a arejar as ideias!

In the Dead Cock of Night


Hoje acordei com uma vontade irresistível de depenar, torturar e eventualmente matar galináceos, especialmente os de cor azul...
Será que Freud saberia explicar esta psicose?

terça-feira, julho 04, 2006

Sera?

You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes well you just might find
You get what you need

The Rolling Stones

domingo, julho 02, 2006

Grão a grão...

Bem, mais uma vitória sofrida de Portugal, mais um jogo em que eu me infiltrei nas hostes do inimigo. Vi o jogo com amigos ingleses, num bar em que eu era o único portugues, rodeado de bifes e de um holandês (naturalmente a torçer contra Portugal). Únicas aliadas, uma italiana que defendia alguma solidariedade mediterrânica (apesar de manter um certo low-profile porque o namorado é inglês) e uma romena que gosta do Figo!
Na verdade, não achei o jogo emocionante, pelo contrário, achei-o bastante aborrecido, os 120 minutos arrastaram-se sem grandes motivos de excitação e a meio do jogo já parecia óbvio que ía acabar em penaltis. Nos penaltis sim, finalmente alguma emoção, mas o nosso Ricardo é aquela máquina e lá vamos nós jogar com a França o acesso à final.
Mas mais uma vez, tenho de dar os parabéns ao fair-play do adversário. Na verdade a parte divertida do jogo foi a conversa com os ingleses e depois todos me vieram cumprimentar no final e, agora que se sabe que é a França o adversário, podemos contar com todos os ingleses a puxar por Portugal nesse jogo. Infelizmente tive de rejeitar algumas das muitas bebidas que todos os ingleses me quiseram pagar no final do jogo... de outra forma dificilmente teria sido capaz de manter a bicicleta direita no regresso a casa!
Grão a grão enche a galinha o papo, jogo a jogo lá nos vamos safando... vamos a ver até onde Portugal consegue chegar!