19 – Pios pela
manhã
Cria de alma-negra com poucos dias de vida. |
Como tinha já falado antes, uma das nossas principais tarefas na
ilha era o seguimentos dos ninhos de alma-negra, com vista a conhecer
melhor a biologia reprodutiva da espécie. Inicialmente visitávamos os ninhos para confirmar se a ave estava a incubar o ovo e mais tarde deveríamos pesar e medir diariamente as crias para avaliar o seu
desenvolvimento. Claro que entre estas duas fases fica o momento
mágico da eclosão, o nascimento de uma nova ave.
Nos primeiros dias a questão era saber se os ninhos continuavam
activos ou se se perdiam por algum motivo, sendo que havia sempre algum
desapontamento quando encontrávamos um ninho vazio ou um ovo
abandonado, apesar de ser natural que nem todos os ovos cheguem ao
seu termo, quer por motivos externos como internos. Depois de cerca
de uma semana nesta rotina, começaram a surgir os primeiros sinais
de que os nascimentos estavam para breve. Num dia notamos as
primeiras rachas num ovo, no dia seguinte começamos a ouvir alguns
ovos a piar, um fenómenos curiosíssimo que se observa em diversas
aves, quando as crias ainda no ovo começam já a piar e o seu som é
claramente audível no exterior. Subitamente o ovo deixa de parecer
um objecto inerte para nos relembrar que é o berço de uma nova
vida.
No dia seguinte as almas-negras começaram a eclodir. Isso não
acontece em todos os ninhos em simultâneo, muito pelo contrário. No
primeiro dia nasceram quatro, nos dias seguintes mais e mais novas
aves, todas elas incrivelmente cómicas e fofinhas na mais perfeita
acessão deste adjectivo. Imaginem uma daquelas bolas para libertar o
stress, eriçadas com imensos bicos moles de borracha que massajam a
nossa mão ao serem apertados. Agora substituam os bicos de borracha
por plumas suaves de cor escura e acrescentem num dos lados um
pequenito bico preto. Têm uma cria de alma-negra, só convém é não
as apertar como as bolas de libertar o stress!
Nos primeiros dias as pequenas bolas de plumas são aquecidas pelo
pais, que lhes garantem o calor e a protecção necessários, mas
rapidamente a sua fome voraz obriga ambos os pais a passarem muito
tempo no mar a pescar e as crias começam a ficar sozinhas em casa, é
então que as começamos a pesar, e a medir as suas diminutas asas
ainda desprovidas de penas.
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