quinta-feira, dezembro 29, 2005

Quintas-feiras culturais XVI

Em vésperas de ano novo, anda sempre no ar um certo aroma a esperança. A eterna esperança enganada de que o novo ano traga tudo de novo, que todos os males sejam lavados num copo de champanhe e se construa um mundo novo com 12 passas e muitos sonhos. É sobre a esperança o poema de hoje.

Esperança

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.

Almada Negreiros

1 comentário:

Ana Elias disse...

Gosto cada vez mais destas quintas-feiras culturais!
Muito bom este poema... este sim , som uma frase absolutamente desconcertante de provocar arrepios (aquela de pôr o filho morto de pé). A esperança dá-nos alento. Sem ela a taxa de suicídios seria desmesuradamente alarmante!