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Agora digam-me, se vocês estivessem com gripe eram capazes de correr uma maratona? Obviamente não! É por isso que me custa muito a acreditar na premissa habitual, martelada constantemente pelos serviços noticiosos, de que são as aves migradoras que estão a trazer a gripe das aves para a Europa. Ou seja, mal sentem um pingo no nariz, as aves arrancam para a viagem, voam milhares de quilómetros e chegam à Alemanha mesmo a tempo de caírem mortas com a certeza de terem cumprido os seus pérfidos propósitos: levar o temível H5N1 até à Europa…
Agora outra hipótese, mais simples e crível, mas menos politicamente correcta. O vírus já chegou à Europa há meses, via galinhas e patos domésticos vendidos ilegalmente da Ásia para a Europa. Os produtores querem esconder o facto para não perderem a clientela, os governos não sabem, ou preferem também esconder o facto para evitar alarmismos excessivos, como aqueles a que estamos agora a assistir. Agora, que as pobres aves migradoras começaram a voltar, o histerismo regressou à Europa, um pombo não pode dar um espirro sem que todas as televisões e rádios se acotovelem para o entrevistar, é impossível continuar a esconder essa realidade. As aves chegam, debilitadas pelas longas viagens, contactam com aves domésticas infectadas e apanham a doença, que as mata rapidamente. Nas notícias surgem informações sobre a praga das aves migradoras que chegam à Europa carregadas de gripe…
É uma longa tradição por a culpa no mais fraco. Na Idade Média culparam as bruxas pela Peste Negra, na Alemanha Nazi tudo era culpa dos judeus, nos Estados Unidos, nos anos 50, tudo o que acontecia de mal era culpa de agitadores comunistas. No contexto actual temos as aves migradoras, a lutarem para sobreviver num mundo em que os habitats naturais são cada vez mais raros, os interesses económicos preferiam que elas não existissem, preferiam poder drenar os últimos lagos e estuários, derrubar as ultimas florestas, arrasar as ultimas pradarias. Depois temos as aves domésticas, um produto da nossa sociedade actual, um valiosíssimo recurso económico um pouco por todo o mundo. Se quisermos escolher um bode expiatório, quem seria a melhor escolha, uma galinha que vale 5 euros no mercado, ou um pato selvagem que impede a construção de fábricas e urbanizações porque as agências de conservação da natureza querem proteger o lago onde ele vive?
6 comentários:
Finalmente uma visão interessante sobre a gripe das aves e companhia. Concordo plenamente ctg!
Mas em Portugal é sempre assim... Aqui na Alemanha o stress não é assim tanto e, estão bem mais perto do dito foco da doença.
Pois, já calculava, os portugueses são histéricos por natureza...
É bom saber que o pessoal aí no Norte da Europa é mais racional.
Pedro, tu que percebes de aves , diz-me uma coisa: Porque é que elas não passam na farmácia a comprar um Cêgripe? É que se é gripe...Cêgripe!
é pá desculpem lá... sei que não tem muita graça, mas apeteceu-me
Lótus:
1. Nas farmácias é proibida a entrada a animais... uma daquelas incomensuráveis injustiças da vida.
2. As aves não têm bolsos onde guardar dinheiro, logo não têm posses para comprar o Cêgripe.
3. Coitadas estão a acabar de chegar de viagem, vêm com jet-lag e são apanhadas de surpresa pelo vírus, nem têm tempo de reagir coitadinhas!
Obrigada pelo esclarecimento, amigo Pedro! Agora que me explicas parece-me óbvio. Como é que não me ocorreu isso antes??? ;)
Bem, realmente nunca tinha pensado no assunto desta maneira (tou a falar do post, mas já agora, também nunca tinha pensado no porquê das aves nunca passarem pela farmácia a comprarem Cêgripe...). Faz sentido, principalmente se tivermos em conta que o dinheiro é que rege o mundo.
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