domingo, abril 23, 2006

Quarto Escuro

Sentado no cadeirão, naquele quarto escuro, sentia o silêncio opressivo da solidão sobre os seus ombros, um novo Atlas a suportar sobre si o peso dos céus. Uma unica luz iluminava a sua face, desbotava alguma cor no seu olhar perdido num ponto vago algures entre o nada e o horizonte. Era a luz da fotografia, a luz que poderia iluminar o seu caminho até à saída daquele tunel longo e escuro. Sentiu a luz da fotogafia acariciar a sua face cansada, sentiu no ar um abraço terno como o calor de um cobertor na pele nua. Permitiu-se aquilo que a sociedade proibe aos homens, deixou as lágrimas correram salgadas pela sua face. Deixou-as correr livremente, permitiu-se o raro prazer do sabor salgado que tocou os seus lábios entreabertos. As lágrimas correram até ao fim e os olhos secaram, pequenos cristais de sal desenharam a sua tristeza em pequenos sulcos, como baixos-relevos na sua cara.
E então continuou sentado, no cadeirão, no quarto escuro, com o olhar perdido num ponto vago entre o nada e o horizonte.

5 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Isso tá mau meu caro. Ânimo. Amanhã já é segunda.

Ana Elias disse...

Eu, pelo contrário acho que essa mudança de ares está fazer de ti uma pessoa melhor... Aproveita e exorcisa tudo quanto houver para exorcisar. Essa é a vantagem de se estar " longe das luzes da ribalta".

Homem que não chore é um ser a vegetar, cujas gargalhadas soam a dor.

Unknown disse...

Lótus, não me levas a mal uma sugestão artstica?

Se trocares "dor" por "pesar" a frase rima e ganha uma certa musicalidade...

"Homem que não chora é um ser a vegetar, cujas gargalhadas soam a pesar"

enfim...gostos!

Ana Elias disse...

Oh...Sinto-me profundamente ofendida!

;)

Marco Fav disse...

Contra-argumentação artística? Não deves estar assim tão mal... Ai, ai esta vidinha d'emigrante! Aprende holandês para te distraíres, com uma Holandesa que queira partilhar a língua... Fronteiras abertas...
E, agora que já denegri o teu blog com comentários parvos, vou voltar ao estudo... snif! Isso sim, faz-me sentir mais só: quando tenho de passar os dias fechado em casa a estudar!