2 - Partida do
Funchal
A bordo do patrulha N.R.P. Cuanza, com o Funchal ao fundo |
Para
chegar às selvagens tive de recorrer à ajuda da marinha, que tem a
responsabilidade de patrulhar aquelas águas contra a ocasional
introsão de algum barco de pesca estrangeiro, geralmente espanhol, e
que trata também de realizar as rendições dos vigilantes do Parque
Natural da Madeira que ficam nas ilhas para vigiar o seu património
natural. Depois de um dia e meio no Funchal, e de comprados todos os
mantimentos necessários, embarquei no barco patrulha N.R.P. Cuanza
às 23 horas do dia 26 de Junho de 2012, tendo o navio zarpado uma
hora de depois, sob uma meia lua em quarto crescente e alguma
neblina.
Um
mar estava calmo, quase não se sentia a ondulação a bordo, e
verifiquei que os tripulantes viam os passeiros, eu e o vigilante
Jaques, como mais uma peça de equipamento que tinham de transportar.
Da fama de oficiais e cavalheiros, estes marinheiros pouco proveito
tiravam, no dia seguinte nem comida nos ofereceram enquanto almoçavam
o seu arroz de polvo. Achei melhor esforçar-me por não os incomodar
e sair do caminho porque naturalmente tinham o seu oficio a
desenpenhar. Fiquei a ver as luzes do Funchal desaparecer durante
talvez uma hora e depois procurei um pouso onde dormir um pouco, no
porão do navio. O chão podia ser de ferro e o ruído dos motores
algo insurdecedor, mas nada disso me impediu de dormir um belo sono.
Acordei
por volta das oito da manhã, um pouco dorido da cama de ferro, mas
restabelecido e pronto para o dia que começava. Quando subi ao
convés vi o mar alto a toda a volta, no horizonte nem terra nem
navio, só o eterno buliço do oceano. Pensei para com os meu botões
que nunca tinha estado no mar tão longe de terra, e deixei-me ficar
a apreciar o espetáculo das ondas em infinitos tons de cinzento, sob
o céu baixo e plumbeo. Indiferentes à nossa presença, e ao ruído
dos motores, iam passando por nós aves marinhas, que no seu domínio
total dos ventos conseguiam facilmente ultrapassar o navio e dar
voltas em nosso redor. A maioria eram cagarras e almas-negras, mas
também os calcamares, no seu jeito brincalhão de cangurus dos
mares, iam saltitando sobre as águas, de onda em onda.
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