sábado, março 04, 2006

Star Spangled Banner

Era um país onde as pessoas viviam sob a falsa crença de que viviam em liberdade, um país onde o chefe de estado tinha sido eleito através de uma descarada fraude eleitoral, sem que isso impedisse o povo de votar nele numa segunda eleição. Um estado onde os poderes económicos controlam o poder político, um estado onde a verdade é controlada pelos meios de comunicação e onde os meios de comunicação são controlados pelos mesmo poderes económicos que controlam o governo. Um país fechado ao mundo, onde a maioria da população não sabe encontrar num mapa os seus vizinhos mais próximos.
Este país, que invadia impunemente outras nações, gozava com as instituições internacionais vergando-as sob o seu imenso poderio político e militar, um estado que se achava no direito de controlar os acontecimentos que se passavam noutros estados, que derrubava regimes só porque estes se recusavam a prestar-lhe vassalagem, um país que armazenava um infinito arsenal do mais terrível pesadelo de guerra alguma vez sonhado num pesadelo humano. Um país que desprezava todos os outros, que desprezava o bem-estar dos seus cidadãos, que desprezava o bem-estar do próprio planeta, que em nome da defesa da liberdade retirava, uma a uma, as liberdades pelas quais o seu povo tinha lutado durante incontáveis gerações. Um país que envergonhava o próprio conceito de democracia, mas que a usava como pretexto para invadir as pobres nações miseráveis que se entrepusessem entre eles e os recursos que desejavam. Um estado que mantinha campos de concentração onde prendia e torturava os seus inimigos e inúmeros inocentes, culpados apenas de terem estado no local errado à hora errada. Um país que defendia a liberdade religiosa mas mostrava querer iniciar uma cruzada fundamentalista cristã contra a fé islâmica, que apoiava os judeus por serem ricos e poderosos, mas abandonava ao seu destino até os próprios cristãos só por serem pobres e não lhes terem nada a oferecer. Que país seria este?

Andam todos tão preocupado por o Irão poder estar perto de construir uma bomba atómica, mas ninguém se preocupa com a infinita prepotência do maior coleccionador mundial de ogivas nucleares. Pessoalmente, sinto-me mais descansado com uma ou duas ogivas guardadas em Teerão do que com a ideia que um louco imbecil ter, em Washington, os códigos de acesso ao maior arsenal nuclear do mundo, até porque foram eles o único país que, de facto, chegou ao ponto de usar essa solução final… duas vezes, contra um inimigo que estava já encostado às cordas e prestes a render-se. Se qualquer outro país tivesse feito metade das atrocidades e crimes que os Estados Unidos cometeram nos últimos 50 anos, teria no mínimo sido alvo de todo o tipo de sanções económicas e castigos diplomáticos, e muito provavelmente teria já tido o seu governo esquizo-totalitário* deposto por uma qualquer coligação internacional.
Não seria já altura de a Europa rever quem realmente queremos como nossos aliados?


* governo esquizo-totalitário: um governo totalitário que sofre de esquizofrenia, mostrando por isso duas personalidade ligeiramente distintas, uma democrática e outra republicana.

Sem comentários: