quinta-feira, março 09, 2006

Quintas-feiras culturais XXI

Para a quinta-feira cultural de hoje, última antes de eu mudar arraiais para as frias paragens do norte da Holanda, contive-me de arranjar um poema sobre o benfica (que ficaria também muito bem), e escolhi o clássico dos clássicos da poesia portuguesa, um dos mais famosos poemas do nosso maior poeta, o Camões, e também a melhor descrição que conheço desso estranho sentimento que é o amor.


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

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