quarta-feira, março 08, 2006

A Despedida

O rio parecia um lago, espraiado no leito largo do seu estuário. Águas calmas, margens plácidas, o murmurio quase ternurento da pequena ondulação que beijava incessantemente aquela praia de areias brancas e rochas escuras.
O barco partia por fim, despedia-se daquelas paragens calmas com o silvo grave da sirene, no ar as gaivotas e as andorinhas-do-mar despediam-se também com assobios e gritos estridentes, enquanto procuravam vislumbrar nas águas pardacentas algum sinal da sua próxima refeição. Começou a mover-se, primeiro lentamente, depois mais rápido. A proa começou a sulcar as águas numa comoção de espuma e ondas, o mar fendia-se sob o casco, como que acolhendo o navio no seu leito frio e salgado. A refrescante brisa que se levantava do alto, assim como os suaves salpicos que pintalgavam as faces dos passageiros, eram tanto uma benção como um aviso, o mar podia ser o mais belo dos infitriões, mas também se poderia tornar o mais insensível dos carrascos.
Depois dos primeiros metros navegados, um cortejo de golfinhos juntou-se à procissão, os alegres foliões dos mares vinham brincar nas ondas levantadas pelo imponente casco branco, enchendo o mar de animação e o peito dos passageiros de esperança.
Haviam sorrisos nas faces que do barco olhavam terra, outros entre os olhares que de terra prescutavam o convés do barco, à procura de uma cara familiar. Mas, aqui e ali, uma lágrima honesta sulcava as bochechas sorridentes e mentirosas. Partiam para a guerra, muitos nunca voltaram...

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