Mais um blog despretensioso que pretende deixar mais algumas ideias à solta na net. Nunca se sabe quem as irá apanhar...
terça-feira, novembro 29, 2005
Astrologia da batata
Ora então, eu sou sagitário, ou seja nasci quando o Sol andava perto da constelação Sagittarius (o que ele andava por lá a fazer não sei...). Agora vejam no mapa que constelações são vizinhas dessa: Aquila (águia), Ara (arara), Grus (grou) e Microscopium (microscópio). Agora reparem na subtiliza, eu sou biológo (gajo que usa microscópios) e estudo aves... e ainda por cima sou do Benfica. E depois, não muito longe, ainda estão as constelações Cygnus (cisne) e Corvus (corvo), mais duas avezinhas. No resto do mapa astral inteiro só à mais uma constelações cujo nome lembra uma ave, mas essa mitológica, a Phoenix (fénix), portanto, como diria numa linguagem cientifica, à uma concentração significativamente superior de constelações com nomes de aves na zona próxima do meu signo do que no resto do céu.
Vou mas é dedicar-me à astrologia!!
segunda-feira, novembro 28, 2005
Post número 100
Antecipando uma má notícia na estranheza da situação, sinto a adrenalina fluir nas minhas veias enquanto a respiração acelera e o coração dispara. Num instante, o som electrónico do acordar do aparelho cede o lugar à monotonia da chuva electrostática. Desapontamento.
Visto-me a correr e corro para as ruas. Uma escuridão asfixiante tomou conta das ruas, como se o dia anterior fosse um sonho há muito esquecido. Folhas outonais cobrem as pedras da calçada, ainda húmidas da chuva que horas antes dera as boas noites à cidade. Começo a perceber que a escuridão não é total, há como que uma penumbra, um véu escuro que tolda a coloração natural de tudo o que me rodeia.
Subo a rua, desço a rua, nos passeios nem vivalma, ao longe, nenhum um farol tenta penetrar o escuro tom da cidade. Lembro-me de telefonar a um amigo, só para verificar, já sem grande espanto, que o telemóvel não tem rede. Desço a rua a correr, enquanto a leve sensação de pânico começa a tomar os contornos de um enorme elefante em fúria. Na minha pressa ansiosa, escorrego no musgo das pedras e caio, um trambolhão digno de umas boas gargalhadas.
Levanto-me, atordoado com a queda, confundido pela escuridão, penso ver um vulto mover-se na esquina. Levanto-me, sacudindo as calças sujas com um gesto que tem tanto de mecânico como de fútil. Na esquina, o agoiro adensa-se. Um gato morto, um gato preto morto. Começo a pensar que fui parar a um filme do Ingmar Bergman, na verdade, com tanta escuridão, tudo parece ser matizado nos infinitos tons de cinzento dos filmes a preto e branco. Inconscientemente, imagino um espectro de capa e capuz preto que se aproxima de mim com a foice dos condenados.
Olho à volta. Nada. Lembro-me que não é a morte que me atemoriza, pelo menos não a minha. Desço as escadas a quatro e quatro só para me encontrar novamente no início da descida. Alto lá! A que tipo de Universo paralelo surreal é que eu vim parar? De repente, tudo faz sentido. Estou a sonhar. A certeza da minha convicção permite-me um momento de infinito alívio. Estou a sonhar.
Esforço-me para acordar. Tento abrir os olhos mas já estão abertos, tento sentir o doce conforto dos cobertores mas só consigo sentir o frio que me toca como dedos mórbidos na escuridão. Cada vez mais assustado, procuro a salvação no proverbial beliscão. Nada. Não acordo. Isto não é um sonho. O pânico esmaga-me como uma imensa onda que rebenta numa falésia. Volto a correr, subo a rua enquanto contenho um grito atroz no silêncio da minha garganta.
Lembro-me da estação de comboios, próximo de minha casa. No buliçoso centro dos transportes citadinos a animação é sempre muita, terá de haver por lá alguém. Volto a descer as escadas, cuidadosamente desta vez. É com cuidadosa alegria que verifico conseguir chegar à rua de baixo. Tudo parece igual ao que ali existia na véspera, apenas deserto e penumbroso. Corro para a porta de entrada na estação enquanto reparo que o enorme relógio, que há anos certifica a pontualidade dos comboios, anuncia as 9:30.
Olho o meu próprio relógio que continua a apontar a mesma hora. Os relógios estão parados. Volto a minha atenção para o telemóvel, o pequeno símbolo da sociedade moderna insiste na hora 9:30. Desconcertado, paro um momento para pensar. Como pode isto ser, os relógios de ponteiros podem parar, mas o relógio do telemóvel é controlado por um chip, pelo deus de silício da nova religião da humanidade, enquanto tiver electricidade irá continuar a contar o tempo, e se o telemóvel está ligado existe electricidade. Como nota mental, ponho de parte os cenários trágico-hollywoodescos do pulso electromagnético que segue a explosão da bomba nuclear. Por um momento ínfimo permito-me um sorriso, mesmo neste momento de crise e desespero a minha mente continua afinadamente racional.
Rapidamente caio em mim. O meu raciocínio não me aproximou nem um pouco da solução para o labirinto absurdo a que vim parar. Os relógios pararam, mesmo os que nunca param. Avanço os últimos passos até à estação de comboios. É já sem grande surpresa que deparo com os terminais completamente vazios, como se nunca ser humano algum ali tivesse estado. Desalentado, desconcertado, perdido numa realidade que não era a minha, sento-me num banco e olho o infinito.
Recomeço a minha busca, agora dentro de mim. Pesquiso nas minhas memórias uma explicação para o fenómeno que se me deparou. Quando tudo o resto falha, chego à única explicação que me satisfaz. Enlouqueci. Perdi a razão e deixei de ter noção do que me rodeia. Tento abarcar as desmedidas implicações de tal sina. Procuro um local sólido, na areia movediça, onde prostrar uma fundação para os meus pensamentos.
Perdido nestes devaneios, sinto que se passam horas enquanto me sento no banco a olhar para uma parede branca. Digo sinto pois nada prova que o tempo realmente passa. Nada se move, nada se passa, não há um som que encha o vazio pressentido pelos meus sentidos. Penso em dormir, talvez ao acordar tudo esteja de volta ao normal. Deito-me e fecho os olhos, mas nunca antes me sentira tão disperto como naquele momento. Enfadado com o fracasso do meu plano, levanto-me num salto e recomeço a minha busca.
Parvoíce. Claro que não enlouqueci. Os meus pensamentos parecem-me tão claros como sempre. Caminho ao longo de mais uma rua escura, acompanhado apenas pelo som ritmado dos meus passos. Ao fim de alguns metros convenço-me de que estou a ser seguido. O meu perseguidor cuida os seus passos de forma a soarem exactamente como os meus, aproveita as sombras para se ocultar. Olho para trás de repente, na esperança de o surpreender. Resultou. Denunciou-se com um leve movimento. Atrás de um automóvel que parecia nunca ter conhecido a alegria da mobilidade, um modelo antigo cuja cor, há muito esquecida, dificilmente se distinguia da penumbra que tudo o resto cobria. Espreito o espaço atrás do carro.
O meu perseguidor estava lá. Envolto numa capa andrajosa, cinzento para melhor se confundir com o resto do mundo, um homem idoso devolveu-me o olhar com orbes de um cinzento-esverdeado profundo. Quem és tu? Perguntei, sem saber se queria conhecer a resposta. Olhou para mim como uma tarde de Outono que anuncia a chegada do Inverno. Sou só mais um. Respondeu ele. Só mais um que foi esquecido pelo tempo, abandonado aqui como um órfão da luz e da vida.
Sem compreender as suas palavras, voltei a perguntar. Quem és? Em vez de responder, olhou para mim com ar de espanto, tombando a cabeça alguns graus para a esquerda. De repente, começou a rir, primeiro com suavidade, pausadamente, depois cada vez mais ruidosamente, gargalhada após gargalhada o som fez-me lembrar uma avalanche numa imensa montanha de seixos rolados, primeiro caí um, depois dois, quatro, cem, mil, até toda a montanha tombar no chão com um estrondo ensurdecedor. Riu durante vários minutos, até se calar de súbito, como se uma mão invisível lhe tivesse tapado a boca. Depois começou a chorar. Lágrimas correram em catadupa pelas suas faces. Gota após gota percorreram o terreno sulcado pelas rugas, memórias fugidias de uma vida já esquecida. Chorou até as poças esverdeadas das suas íris parecerem o leito seco de um ribeiro que depois de um longo Verão enxuto espera avidamente as primeiras águas do Outono.
Sem saber o que dizer, sem saber o que fazer, olhei para ele e esperei. Diz-me quem és? Voltei a perguntar. Quem és e porque choras? Já cansado de chorar, com o peito arquejante à procura de novo fôlego, olhou para mim como quem olha para um buraco sem fundo. Olhou para mim e disse simplesmente. Eu sou quem tu és, eu sou tu e tu és eu, apenas o tempo se entrepôs entre nós. No pesadelo senti-me desfalecer, como se os meus membros se tivessem reduzido a uma papa amorfa, senti-me rodear por rolos de algodão cinzento. Caí para trás, sem esperança de encontrar apoio no chão duro da rua. E então percebi. Aquela era a memória da vida que não vivi.
Finalmente acordei, fora tudo um pesadelo. Abri os olhos com algum esforço, olhei a janela e vi o Sol a brilhar lá fora. Foi tudo um sonho. Com o calor inebriante do astro rei na face, fechei os olhos e pensei. Foi tudo um sonho. Voltei a abrir os olhos, enchi os pulmões de ar e pensei. Cabe-me a mim encher as memórias de uma vida por viver. Levantei-me então e comecei a sonhar.
Citações ad nauseum
Esta lengalenga toda para deixar aqui uma frase para todos os meus amigos cientistas (e não só) apreciarem, comentarem e usufruirem:
Empédocles, “Da Natureza”
(século V a.c.)
O Lugar da História
Vou explicar melhor. Desde sempre que senti um grande fascínio pelas grandes mudanças civilizacionais, se calhar somos todos assim, lembro de ter vibrado ao ver na TV a queda do muro de Berlim, só porque sentia que estava a ver à minha frente a História (com H grande) a ser escrita. Imaginem os grandes momentos da História. Pensamos sempre no grande plano, civilizações que caem, outras que emergem, grandes líderes, grandes ideias que se impõe, o avanço da humanidade. Mas, se pensarmos na vida comum, das pessoas comuns, quase nada muda. Por exemplo, o dia 25 de Abril de 1974 foi sem dúvida o mais importante da história de Portugal nas última décadas, pelo menos desde 1910. Muitas pessoas até andaram nas ruas, a "ouvir o vento da mudança" como dizia a música dos Scorpions, outras nem isso, mas ao fim do dia, as mães foram na mesma fazer o jantar aos filhos, as pessoas empregadas foram na mesma deitar-se cedo para irem para o emprego no dia seguinte, os padeiros fizeram a mesma massa do pão, as crianças fizeram os seus trabalhos de casa, etc. etc. A verdade é que a história pouco ou nada é notada por aqueles que a vivem. Todos vivemos na vanguarda da história da humanidade e raramente nos lembramos disso.
Uma vez li uma frase, curiosamente num livro de literatura fantástica, que resumia isto de maneira perfeita: "Todos os acontecimentos, independentemente de quão bizarros ou abaladores, diluem-se passados momentos da sua ocorrência pela continuação das rotinas necessárias do dia-a-dia." O livro chama-se The Farseer e a autora Robin Hobb.
Agora, se imaginar-mos uma grande mudança futura, sei lá, uma hecatombe como uma guerra mundial, o primeiro contacto com uma civilização extraterrestre ou a descoberta da fusão a frio. O que nos vai acontecer? Ficamos euforicos, amedrontados ou mortificados, crescem em nós sonhos, esperanças, temores ou terrores, mas, ao fim do dia, vamos continuar a ter as mesmas prioridades: comida, bebida e abrigo para nós, comida, bebida e abrigo para aqueles que amamos, só depois em segundo lugar, saúde, segurança, liberdade e justiça, e só depois nos preocuparemos com a ultima novidade da história!
Às vezes é bom por tudo em prespectiva!
sexta-feira, novembro 25, 2005
Grey colours, bright lights
Hello light, come on in, I swear this time I'll let you back inside.
Traços de loucura são alusões ao real...
Why would I choose darkness in the face of light?
I can only hope that the light is stronger, there can be no darkness where there is only light!
So come down from the sky and shine your colours all over me.
Num jogo sem regras a única regra é a sua ausência...
Não. não enlouqueçi, não mais do que o habitual, é só que às vezes a vida não faz sentido!
terça-feira, novembro 22, 2005
Emir Kosturica & The No Smoking Orchestra
Grande concerto e belas musicas para animar o pessoal. Uma bela festa!
domingo, novembro 20, 2005
Presidenciais 2006 - Os candidatos na net
Mário Soares (a.k.a. Bulldog Geriátrico da Política): 279000 hits
Cavaco Silva (a.k.a. Grande Satã dos Números): 231000 hits
Manuel Alegre (a.k.a. Velho do Mar): 135000 hits
Francisco Louçã (a.k.a. Beto Vermelho): 78600 hits
Jerónimo de Sousa (a.k.a. Metalurgico Dançante): 65900 hits
Garcia Pereira (a.k.a. Formiga Proletario-atómica): 51600 hits
Só para dar alguma prespectiva a estes resultados, eis outros resultados interessantes:
sexo: 9660000 hits
mamas: 2570000 hits
futebol: 2570000 hits
benfica: 2080000 hits
fim do mundo: 2290000 hits
extraterrestre: 2560000 hits
Agora sim, temos algo de interessante. Qualquer dos candidatos é completamente irrelevante para as nossas vidas. O que é interessante sim é que, como podemos ver, o futebol iguala a importancia das mamas, ambos ganhando por pouco aos extraterrestres. Claro que todos estes ficam a anos luz do sexo. O fim do mundo é 10x mais interessante que qualquer dos candidatos e até o nosso campeão nacional (aproveitar enquanto posso usar esta expressão junto da palavra Benfica) esmaga qualqalquer dos candidatos a presidente.
Presidenciais 2006 - A revolta da terceira idade
Cavaco, o filho da mãe que nos andou a lixar com F grande durante 10 anos, e que agora voltou com falinhas mansas a dizer que tal e o camandro e até percebe bué de economia, será a partir de agora o Grande Satã dos Números, até porque aquela fuça de vampiro faz um lembrar um bocado as representações bíblicas do tal Mafarrico que era um bocado mal visto por bandas do céu e arredores.
O Garcia Pereira é um candidato pequenito, tanto em estatura como em número de votos, mas isso não o impede de ser um gajo todo aguerrido, sempre à luta e à pancada. Por isso merece a honra de se chamar a Formiga Proletário-atómica. Digam lá se não o conseguem imaginar a dizer "Up and atom, proletários do meu país!"
O Jerónimo é um velhote cheio de genica, com jeito para dançar (dizem). Sempre que necessário, gosta de arregaçar as mangas, como fazia no tempo em que era operário metalúrgico (ou algo semelhante, não propriamente um jornalista para saber estas cenas). Por isso vai ser o Metalúrgico Dançante. Reparem que em inglês, “The Dancig Metal Worker” soaria muito melhor e até dava um bom nome para um banda de Folk britânico ou irlandês.
O Louçã, apesar de ser um gajo de esquerda, não tem nada aquele estilo trauliteiro típico, pelo contrário até é um bocado beto e às vezes parece ser irritantemente certinho. Não querendo ser demasiado mau para ele e porque ele não só é vermelho na política como também é do Benfica, vai ser o Beto Vermelho. Não confundir com aquele rapaz alourado que joga no Benfica mas não percebe muito de futebol.
Soares, finalmente, e tentando não ir directo às piadinhas óbvias sobre a idade da criatura, lembrei-me que todos dizem ser um verdadeiro animal político. Ora com umas bochechas daquelas só há um animal que me vem à cabeça, daí o nome, o Bulldog Geriátrico da Política.
Espero que este momento de inspiração matinal domingueira tenha ajudado a clarificar a situação das próximas presidenciais. Aqui está “A Inevitável Insatisfação do Ser” a prestar serviço público mais uma vez. Portanto em resumo, para não esquecerem, aqui ficam os nomes a ser usados por essa campanha fora:
Manuel Alegre, o Velho do Mar.
Cavaco Silva, o Grande Satã dos Números.
Garcia Pereira, a Formiga Proletário-atómica.
Jerónimo de Sousa, o Metalúrgico Dançante.
Francisco Louça, o Beto Vermelho.
Mário Soares, o Bulldog Geriátrico da Política.
Tenho dito.
quinta-feira, novembro 17, 2005
Quintas-feiras culturais XII
O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
terça-feira, novembro 15, 2005
sexta-feira, novembro 11, 2005
O feitiço da face misteriosa
As vezes à músicas de que não gosto pelo simples facto de passarem constantemente na rádio. Aconteceu isso com essa música do James Blunt que passa de cinco em cinco minutos na rádio, a "You're Beautifull". Irritava-me tanto que nem sequer lhe prestava grande atenção, até que um dia destes, quando ia no carro sozinho a ouvir rádio, começei a ouvir a música e dei-me ao trabalho de ouvir bem a letra.
A música fala de um homem que viu uma mulher desconhecida no metro que o maravilhou e do seu desespero por saber que nunca a vai voltar a ver. Realmente, é um tema tão obvio para uma música que já devem haver outras musicas sobre o tema, mas passei a gostar da música, quanto mais não seja gostei do tema. Acho que já aconteceu a todos aquilo que vou aqui chamar "O feitiço da face misteriosa". Normalmente chamar-lhe-ia o feitiço da miúda misteriosa, para para não ser acusado de machismo e chauvinismo fica assim. Vamos no metro descansados, a olhar para nada em particular, as faces das pessoas à nossa volta são uma metafora pintada ao expoente máximo da alienação urbana que é o metro. Todos olham para lado nenhum, olhares vagos de animais a caminho do matadouro. De repente, num lampejo de luz na escuridão do túnel, vemos uma face, um olhar que subitamente nos desperta os sentidos dormentes e olhamos. Não é mais do que uma simples troca de olhares, quanto muito um leve sorriso timidamente disfarçado, depois cada um sai numa paragem diferente, segue o seu caminho e não se voltam a ver. Não seria nada, se horas ou dias depois não nos viesse, por um só instante, aquele olhar à cabeça e não pensassemos "E se?", antes de esquecer o assunto para sempre...
Pérolas para porcos
"Era uma vez um rapaz, chamado Pedro, que tinha na altura uns quinze anos. Como tinha vários amigos que jogavam futebol nos juvenis do Caldas (o jovem é natural das Caldas da Rainha), ia com frequencia ver jogos dessa grande equipa, contra outras equipas de igual grandesa como o Alcains, o Torreense, o Marrazes ou o Lourinhanense. Em geral, além dele e de mais alguns jovens de semelhante idade, os unicos seres desocupados ao ponto de irem ver estes jogos eram os idosos da cidade, nomeadamente os avôs dos jogadores do Caldas, que muitas vezes se envolviam em cenas de violência gerontica de cada vez que um deles tecia um comentário menos agradável sobre a forma de jogar do neto de outro idoso. Foi num destes jogos, já não sei contra que adversário, que um destes velhotes se saíu com a tirada mítica, a laivo de exultação à qualidade da arbitragem, que justificou todo este inenarrável texto. Aqui fica o registo: "Seu ganda filho da puta, se não fosses paneleiro e gostasses, enfia-te um das Caldas de cinco litros pelo cú acima que até te saiam as hemorroidas pela boca". E pronto, foi um bonito momento, digno de figurar para sempre na história dessa grande instituição que é o Caldas Sport Clube. Até diria mais, vitória, vitória... acabou-se a história!"
Com poesia desta nos estádios, como podem dizer que o futebol não é uma forma de cultura?
Questionários
Which File Extension Are You?
Sou um .gif, o que segundo eles significa que por vezes sou animado, mas a maior parte do tempo só estou para ali parado e bonitinho... Esta muito, muito longe de ser uma boa descrição de mim!
Which Operative System Are You?
Sou o Linux, segundo eles isso significa que sou o mais inteligente dos meus pares, mas sou frequentemente considerado louco, as minhas soluções elegantes podem demorar um pouco mais tempo, mas produzem bons resultados com pouco esforço... Isso de me compararem ao Linux até me agrada bastante, não tanto a parte da inteligencia e loucura (se bem que de louco até tenho bastante), mas sobretudo pela rebeldia natural do Linux, contra as grandes empresas de software, o Linux é o revolucionário liberal dos sistemas operativos.
Enfim... A existência destes questionário só prova que à pessoas com demasiado tempo livre nas suas mãos... e obviamente este post demonstra que eu sou uma delas!
quinta-feira, novembro 03, 2005
Quintas-feiras culturais XI
Deitar-me
Deitar-me uma noite na cama
Virar a cara para o lado
E dormir
Dormir, e dormir anos
Dormir anos a fio
E não pensar mais em ti
Não pensar mais na vida
Cair no prazer de um sonho
Eterno
Cair, deixar-me cair
Num poço sem fundo
Num poço sem fim
Deitar-me uma noite na cama
Virar a cara para o lado
E dormir