terça-feira, abril 12, 2005

A tal inevitável (in)satisfação

Inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira,
Sistole, diastole, sistole, diastole, sistole, diastole,
Contrai, relaxa, contrai, relaxa, contrai, relaxa...
Qual é então o sentido da vida?

Pessoalmente, não sendo uma pessoa religiosa, nem dada a grandes crenças no destino, eu contento-me com o nihilismo. Para mim o objectivo da vida é viver! O que eu quero dizer é que perante a questão: "Ser ou não ser?", a minha resposta seria simplesmente: "ser, porque sim", ou "ser, porque sou". Nunca ninguém resumiu também esta questão como os soldados britânicos da primeira guerra mundial, que no contexto muito especifico das trincheiras do Somme cantavam, ao ritmo do "Auld Lang Syne": "We're here because we're here, because we're here, because we're here. We're here because we're here, because we're here, because we're here."
Estranhamente, este que é talvez o conceito de vida mais simples que existe, é imcomprensível para a maioria das pessoas, que logo perguntam: "então e viver para quê? Qual é o propósito disto tudo?" Claro que essa pergunta não tem resposta possível, mas vem à ideia uma outra questão mais pretinente: "De onde vem esta necessidade de um propósito, esta impossibilidade de aceitar a vida como uma mera volta do acaso?" Poderá isso ter tido uma grande vantagem evolutiva algures na história da nossa espécie, ou será um ideal embutido pelo lento avançar das ideologias das sociedades humanas?
Outra coisa que não percebo é a razão porque imediatamente alguém se levanta para dizer como é horrivel esta visão tão fria da vida, tão desprovida de sentido e de grandiosidade. Acham mesmo que reduzir a vida a um capricho (já ouvi alguém chamar-lhe um peido intelectual) de um Deus todo poderoso é torna-la bela e grandiosa?
Pois para mim, o que é verdadeiramente belo, infinitamente grandioso e digno de admiração é o surgimento da vida através de um fenomenal acaso tornado inevitável pelas maquinações aleatórias da mecânica quântica. Verdadeiramente bela é a forma como aleatorimente e na ausência de qualquer vontade ou plano superior, as partículas elementares, regidas apenas pelos inevitáveis principios básicos descritos pela física, poderam lentamente, ao longo dos vastos oceanos de tempo, inconcebíveis até para a mente mais bem preparada, criar as estrelas, planetas e galáxias, gases e liquídos, rochas e calhaus e finalmente aquela preciosidade cósmica a que chamamos vida. E depois, seguiram o seu caminho na escala evolutiva, permitindo chegar ao ponto em que esta amálgama de átomos e moléculas a que os meus pais decidiram chamar Pedro, se pode sentar ao computador e escrever este pequeno texto. Isto sim é prodigioso!

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Pedro!
Foi preciso ter visto um link no blog do Filipe para saber que também tinhas um! Está fixe. A propósito, fui eu que fiz aquele comentário na Eutanásia - esqueci-me de assinar! Sorry!
Boa inspiração para futuros posts! E as melhoras das dores de cabeça!

Marco V.

Anónimo disse...

"pertinente"