Entre-dentes
o tempo suspirou, tanto tempo perdido a lembrar. Na velha idade, das
rochas e do mar, o tempo suspirou sem tempo para cantar. Sob a luz do
Sol, provecta e terna, o tempo suspirou sem tempo para dançar.
Arrependido, perdido em si sem tempo para acordar, o tempo suspirou e
perdeu a vez de jogar.
Num
lugar distante, longe no tempo, longe no espaço, um átomo chorou a
sua força nuclear. Um átomo sozinho, sem companhia, sem vida e sem
par. Perdido que estava num éter sem fim, chorou a sua vida, chorou
o seu lugar. Manietado por leis e por regras, ali abandonado à beira
do mar, chorou o seu fado, chorou o seu pesar.
Ali
numa poça, tão cheia de vida, a célula cantou no seu jeito
invulgar. Perdida em danças, rodeada de paz, cantou alegrias, feliz
por cantar. Dormindo sozinha, sob a luz das estrelas, sonhou com a
vida, acordou a cantar. Entre-dentes o tempo sussurrou-lhe ao ouvido,
ela olhou para o lado, não viu o átomo passar.
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