segunda-feira, abril 30, 2012

Como salvar o mundo


Crescer é, talvez mais do que tudo, aprender que não vamos salvar o mundo apenas com as nossas próprias mãos. Infelizmente, a crença de que sozinhos poderemos mudar o mundo é apenas uma faceta da soberba natural da juventude. Felizmente, isso não significa que não podemos mudar o mundo.
Envelhecer é algo bem diferente de crescer. Eu diria que enquanto o crescimento se caracteriza pela perda dessa crença nas nossas capacidades infinitas, o envelhecer é algo mais triste que definiria como o encontrar a paz com essa nossa incapacidade. É nesse caminho entre o crescer e o envelhecer que acabamos por acreditar que nada do que fazemos tem um impacto no mundo que nos rodeia.
Mas nada poderia ser mais falso. A verdade é que salvar o mundo não passa por descobrir num momento de génio uma solução única e individual para o problema, salvar o mundo não é um problema técnico, é um problema político. Atenção que não me refiro aqui a política no habitual sentido sujo do termo, tantas vezes sinonimizado com a politiquice rasteiras da ralé a que se instituiu denomear classe política. Falo da política que é o encontrar formar de incendiar o coração dos homens e leva-los a encontrar formas de juntos se tornarem uma soma muito maior do que as partes.
Olhemos para um exemplo. Num rio uma canoa desgovernada é arrastada a grande velocidade pela corrente, os seus 10 ocupantes, incapazes de se unirem, remam cada um à sua maneira e a canoa dirige-se cada vez mais depressa para um final trágico no fundo de um imensa queda de água. A solução técnica do nosso espírito jovem e apaixonado seria acreditar que sozinho um dos remadores seria capaz de, através das suas capacidades superiores, pegar no seu remo e arrastar toda a canoa para águas seguras. A solução política passa por conseguir juntar o carisma necessário para por os 10 remadores a remar em uníssono, para juntos levarem a sua embarcação a bom porto.

Enquanto crescemos, perdemos a crença nas nossas capacidades, mas com o envelhecer acomodamo-nos, deixar até mesmo de acreditar que o mundo precisa de mudar. Para quê salvar o planeta, se o nosso tempo nele é cada vez mais escasso? Para quê mudar uma sociedade injusta se já encontramos o nosso nicho onde conseguimos enfrentar as ondas de injustiça numa posição confortável?
É aí que entra a geração seguinte. Antes mesmo de nascer, a nossa prole lembra-nos que existem motivos muito fortes para mudar o mundo, para salvar o que ainda houver para salvar. Queremos deixar como legado aos nossos filhos ao menos um planeta habitável e uma sociedade justa. É nesse momento que se reúnem em nós as condições necessárias para mudar o mundo: já ultrapassamos a crença juvenil numa solução milagrosa para os problemas, mas ainda arde em nós uma vontade férrea de mudar o mundo, se não para nós, ao menos para os nossos filhos.

Resta-nos a maior dificuldade de todas. Como vamos encontrar formas de unir toda a humanidade neste esforço? Como acordar no espírito dos outros, que podem ser jovens e demasiado crentes, envelhecidos e demasiado descrentes, ou simplesmente desinteressados de todo o problema? Esta é a verdadeira questão e uma para a qual não tenho resposta clara. Se tivesse, seria fácil demais...

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