domingo, setembro 18, 2011

Madeira

Foi curioso ouvir, consecutivamente nas notícias, esses dois grandes "campeões da democracia" dos nossos tempos, Mahmoud Ahmadinejad e Alberto João Jardim. Se todas as agressões às liberdades e à justiça são graves, ainda assim, aquelas que são perpetradas no meu próprio país são-me mais incómodas, pelo que me preocupa mais o último grande fascista português e o que ele faz na Madeira do que as maluquices do presidente iraniano.

Sinceramente, ainda me preocupam mais as negociatas escabrosas que o Jardim tem feito na Madeira e como elas nos vão afectar a todos. Não que a democracia seja menos importante que as finanças, muito pelo contrário. Mas se os madeirenses querem democracia, vão ter de ser eles a lutar por ela, nós já fizemos um 25 de Abril no continente, não temos culpa que os madeirenses tenham preferido escolher democraticamente a continuação do fascismo no seu cantinho do país.

Já a parte económica é algo que nos vai afectar a todos. Numa altura em que a Alemanha deseja anciosamente destruir a Europa (mais uma vez), estas negociatas e aldrabices várias do senhor Jardim ameaçam destruir Portugal. Não estou a falar só no rombo imenso que ele fez nas nossas já debilitadas finanças, crimes aliás pelos quais eu sonho (não vou dizer espero pois conheço bem demais a ineficácia da justiça portuguesa no que toca a este tipo de crimes) que ele venha um dia a dar com os costados na prisão. Mais grave do que isso, este incidente ameaça a unidade nacional do nosso país.
Convém lembrar que Portugal é uma das nações mais antigas da Europa e uma das nações que há mais tempo têm as suas fronteiras e a sua integridade nacional bem definidas. Isto, como é óbvio, inclui as nossas regiões autónomas nos arquipélagos macaronésicos. No entanto, estas negociatas da Madeira fizeram vir ao de cima um sentimento, em tudo igual ao "vamos explusar a grécia da Europa" dos alemãos, que defende que a Madeira está a mais em Portugal, que talvez não devesse fazer parte do país, ou pelo menos deveriam ser os madeirenses sozinhos a pagar as aldrabices do senhor Alberto João. Não vou dizer que estas ideias não me pareçam atraentes, mas são absurdas no contexto de um país uno e bem definido como Portugal. Se começássemos pela Madeira o que se seguiria? Expulsar as Beiras por serem pouco produtivas? Expulsar o Algarve por ter demasiado desemprego? Já agora expulsar Lisboa por ter demasiados políticos!

Quando levamos os argumentos até ao seu limite absurdo, eles costumam cair por terra facilmente. Isto aplica-se na perfeição à questão da Grécia na Europa, ou da Madeira em Portugal. Se na Europa temos o problema das diferentes regras e leis aplicadas em diferentes países, problema que só poderá ser resolvido quando a Europa se decidir a avançar na direcção do federalismo, já em Portugal convém lembrar que a constituição é a mesma no continente ou na Madeira, que a justiça é a mesmo no continente ou na Madeira e que, em última análise, o governo é o mesmo no continente ou na Madeira, apesar dos detalhes da limitada autonomia das regiões autónomas.

Assim, se querem encontrar bodes expiatórios para o défice da Madeira, olhem para o seu primeiro responsável, o Alberto João Jardim, e levem-no perante a justiça da nação. Olhem para o governo português que lhe dá liberdade para fazer o que bem entende, olhem para os responsáveis da economia e das finanças do país que permitiram que a situação da Madeira chegasse a este ponto. Olhem, talvez acima de tudo, para a nossa justiça inoperante, que é incapaz de combater o crime financeiro, seja no continente, na Madeira ou nos Açores.
Assim, não culpem os madeirenses, não os culpem por escolherem maus governantes, pois tal é um crime em que todos nós os 10 milhões incorremos constantemente, e não pensem que começar a retalhar o país é a solução (infelizmente, o actual governo acha que vender o país a retalho é de acto uma boa solução, mas isso são outras guerras).

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