Ser poeta é ser mais alto, maior do que os homens, dizia Florbela Espanca. Não concordo, ser poeta é ser mais pequeno, como uma criança de idade tenra, e ter em si o coração de uma criança que compreende as emoções no seu caso não por ser inocênte, mas por ter o dom de as compreender e saber exprimir de uma forma que muitos tentam fazer sem conseguir.
É isso que eu leio neste poema do Eugénio de Andrade, que um amigo me enviou um dia destes:
Há diasHá dias em que julgamosque todo o lixo do mundonos cai em cimadepois ao chegarmos à varanda avistamosas crianças correndo no molhe enquanto cantam não lhes sei o nome uma ou outra parece-me comigoquero eu dizer :com o que fui quando cheguei a ser luminosa presença da graça ou da alegria um sorriso abre-se então num verão antigo e dura dura ainda. Eugénio de Andrade