terça-feira, novembro 13, 2007

Toda a verdade sobre um doutoramento

Imagino que qualquer pessoa que faz um doutoramento passa uma parte considerável do seu tempo a pensar se os possíveis ganhos que advenham de um doutoramento algumas vez valerão os sacrifícios que ele acarreta. A resposta é só uma, um sonoro e cáustico NÃO. Claro que há bons momentos, há alegrias, muitas coisas até fazem valer a pena; contudo, nunca de forma alguma tudo isso compensa os sacrifícios. O stress acumulado que potencialmente ficará para toda a vida, os maus tratos à nossa saude, os maus tratos à nossa vida social, o tempo perdido a trabalhar que puderia ser usado para viver, os muitos momentos de descrença, a dúvida como forma de vida, a certeza de que tudo isto não virá a ser compensado por benefícios significativos à nossa vida.
Hoje apanhei-me a pensar, o que é que o doutoramento alguma vez fez por mim? Em que é que ele alguma vez contribuiu para a minha felicidade? Se eu não fosse tão teimoso e incapaz de deixar coisas a meio acho que tinha acabado com o doutoramento logo ali. Continuei e horas depois recebo um telefonema de um jornalista da SIC, interessado em me fazer perguntas sobre o meu trabalho, devido ao seu potencial impacto na escolha do local do novo aeroporto de Lisboa. Pronto, esta foi uma dessas raras ocasiões de satisfação, afinal o meu trabalho até tem, por vezes, alguma utilidade...
Enfim, dizem os autores da BD que aqui coloquei que fazer um doutoramento é viver num limbo. É a verdade.

Um conselho a eventuais leitores: Não se metam num doutoramento nem que disso dependa a vossa vida!

5 comentários:

Marco Fav disse...

Ah, Pedro, Pedro - o eterno optimista!
O limbo não é assim tão mau: se tivesses dito "Inferno", assustava-me. Mas ainda não acaste o teu Doc, pois não?

Maçã Azul disse...

Por vezes a ideia de fazer um doutoramento passa pela minha cabeça... penso, porque não?
Depois entro numa fase mais racional e penso, para quê? o que ganho com isso?
Depois vejo testemunhos (nem todos tão dramáticos como este) e constato que em Portugal um Doc serve para pouco mais do que ser remunerado durante 4 anos - o que tendo em conta a actual conjuntura é algo fantástico e algo que nunca tive como certo. Mas mesmo assim não me parece ser suficiente para me lançar numa empreitada desse nível.
Inscrevi-me este mês na tese de mestrado... para já não me atrevo a mais!
Resta-me desejar toda a sorte para os corajosos que encaram o desafio! E esperar que as fases boas do doutoramento venham depressa!
Boa sorte Pedro!

Unknown disse...

Enfim Maçã, não é assim tão mau. Agora que é uma forma bastante inutil de gastar 4 anos da tua vida, isso é. Não acredito nem por um segundo que me venha trazer grandes beneficios futuros e exige uma dedicação, um esforço e uma entrega extremas. Mas como escreveste, nos dias que correm 4 anos de pagamento garantido não é nada de se deitar fora.
Havendo lternativa, aconselho a toda a gente que faça algo de util com a sua vida, mas se a alternativa é o desemprego, ou trabalhar no Mac Donalds, então um doutoramento é concerteza melhor.

smallworld disse...

Hmm, tambem tenho esses mesmos pensamentos... Alias, acho que nao conheco nenhum aluno de doutoramento que nao os tenha... As vezes eh facil embarcar nos sonhos de grandeza e pensar, ah, vou publicar na Nature um dia, e quem sabe ter uma posicao numa universidade, mas cada vez mais percebo que a vida academica nao eh para quem quer, eh para quem quer *muito*... Nao sei se estou preparada para estes sacrificios. Mas realmente a alternativa nao eh la grande espingarda...

Anónimo disse...

Nos Estados Unidos costumava-se dizer: "If you could be discouraged from doing a Ph.D., you should." Diz tudo.