30 –
Vampiros
Numa das noites encontramos duas almas-negras a lutar violentamente. |
Na última semana começamos o trabalho de recolha de
sangue de vinte adultos e crias nos ninhos novos que fomos detectando
nas semanas anteriores. Tínhamos um total de trinta e quatro ninhos,
número mais que suficiente se não se desse o caso de alguns ninhos
terem sido predados desde que foram encontrados e do problema já
referido de os adultos não virem todas as noites ao ninho. Na
primeira noite deste trabalho subimos ao planalto por volta das 22
horas, fazendo uma ronda dos trinta e quatro ninhos. Nos primeiros
cinco ninhos encontramos quatro adultos e parecia serem favas
contadas encontrar vinte em trinta e quatro... mas não foi. Depois
da sorte inicial apanhamos vários ninhos que haviam sido predados e
muitos em que a cria estava sozinha, pelo que no final da ronda
tínhamos apenas onze adultos, ainda assim um excelente resultado,
outra noite semelhante e estaria a amostragem feita.
No dia seguinte pela manhã começamos a amostrar as
crias. Este trabalho não levanta grandes problemas, pois as crias
estão sempre "em casa", mas recolher uma amostra de sangue
de uma cria é um pouco mais difícil por serem mais pequenos e é
uma daquelas tarefas que sabe um pouco mal fazer. Mas correu bastante
bem, apesar de pequenas a veia braquial, na asa, é já perfeitamente
visível, um risco escuro sobre o osso branco, logo abaixo da pele,
junto à articulação correspondente ao nosso cotovelo. Neste
primeiro dia amostrámos treze crias, parando apenas porque o vento
fortíssimo que se fazia sentir nesse dia acabou por empurrar tantas
poeiras para o meu olho que me causou forte incómodo e a necessidade
de voltar à base para lavar o olho e colocar algumas gotas de
colírio.
Chegada a noite, e com os olhos já em melhor estado,
subimos novamente ao planalto para continuar a nossa actividade de
vampiros. A noite correu bastante bem, não só colhemos as nove
amostras de sangue de aves adultas que faltavam como ainda colocamos
os primeiros quatro geolocators para seguir a migração. O vento
continuava assustador, uivando aos nossos ouvidos sem para, e era
necessário manter sempre os olhos semi-cerrados para nos protegermos
da poeira que andava no ar. Apesar da tormenta, o único percalço
foi uma alma-negra que por stress ou vingança me vomitou em cima uma
mistura de lulas e peixe, a sua refeição mais recente. Acho justo,
eu também lhes ando a espetar agulhas. Para acabar a campanha
vampiresca, na manhã seguinte recolhemos amostras de mais sete
crias. Com o treino era já bastante fácil colher sangue das veias
diminutas das asas das crias, mas continuava a saber um pouco mal
perturbar assim animais tão pequenos e jovens.
Missão cumprida! Mas ainda faltam colocar dezasseis
geolocators pelo que temos ainda pela frente mais algumas noites de
trabalho nos poucos dias que faltam da estadia.
Sem comentários:
Enviar um comentário