Imagino que qualquer pessoa que faz um doutoramento passa uma parte considerável do seu tempo a pensar se os possíveis ganhos que advenham de um doutoramento algumas vez valerão os sacrifícios que ele acarreta. A resposta é só uma, um sonoro e cáustico NÃO. Claro que há bons momentos, há alegrias, muitas coisas até fazem valer a pena; contudo, nunca de forma alguma tudo isso compensa os sacrifícios. O stress acumulado que potencialmente ficará para toda a vida, os maus tratos à nossa saude, os maus tratos à nossa vida social, o tempo perdido a trabalhar que puderia ser usado para viver, os muitos momentos de descrença, a dúvida como forma de vida, a certeza de que tudo isto não virá a ser compensado por benefícios significativos à nossa vida.
Hoje apanhei-me a pensar, o que é que o doutoramento alguma vez fez por mim? Em que é que ele alguma vez contribuiu para a minha felicidade? Se eu não fosse tão teimoso e incapaz de deixar coisas a meio acho que tinha acabado com o doutoramento logo ali. Continuei e horas depois recebo um telefonema de um jornalista da SIC, interessado em me fazer perguntas sobre o meu trabalho, devido ao seu potencial impacto na escolha do local do novo aeroporto de Lisboa. Pronto, esta foi uma dessas raras ocasiões de satisfação, afinal o meu trabalho até tem, por vezes, alguma utilidade...
Enfim, dizem os autores da BD que aqui coloquei que fazer um doutoramento é viver num limbo. É a verdade.
Um conselho a eventuais leitores: Não se metam num doutoramento nem que disso dependa a vossa vida!
5 comentários:
Ah, Pedro, Pedro - o eterno optimista!
O limbo não é assim tão mau: se tivesses dito "Inferno", assustava-me. Mas ainda não acaste o teu Doc, pois não?
Por vezes a ideia de fazer um doutoramento passa pela minha cabeça... penso, porque não?
Depois entro numa fase mais racional e penso, para quê? o que ganho com isso?
Depois vejo testemunhos (nem todos tão dramáticos como este) e constato que em Portugal um Doc serve para pouco mais do que ser remunerado durante 4 anos - o que tendo em conta a actual conjuntura é algo fantástico e algo que nunca tive como certo. Mas mesmo assim não me parece ser suficiente para me lançar numa empreitada desse nível.
Inscrevi-me este mês na tese de mestrado... para já não me atrevo a mais!
Resta-me desejar toda a sorte para os corajosos que encaram o desafio! E esperar que as fases boas do doutoramento venham depressa!
Boa sorte Pedro!
Enfim Maçã, não é assim tão mau. Agora que é uma forma bastante inutil de gastar 4 anos da tua vida, isso é. Não acredito nem por um segundo que me venha trazer grandes beneficios futuros e exige uma dedicação, um esforço e uma entrega extremas. Mas como escreveste, nos dias que correm 4 anos de pagamento garantido não é nada de se deitar fora.
Havendo lternativa, aconselho a toda a gente que faça algo de util com a sua vida, mas se a alternativa é o desemprego, ou trabalhar no Mac Donalds, então um doutoramento é concerteza melhor.
Hmm, tambem tenho esses mesmos pensamentos... Alias, acho que nao conheco nenhum aluno de doutoramento que nao os tenha... As vezes eh facil embarcar nos sonhos de grandeza e pensar, ah, vou publicar na Nature um dia, e quem sabe ter uma posicao numa universidade, mas cada vez mais percebo que a vida academica nao eh para quem quer, eh para quem quer *muito*... Nao sei se estou preparada para estes sacrificios. Mas realmente a alternativa nao eh la grande espingarda...
Nos Estados Unidos costumava-se dizer: "If you could be discouraged from doing a Ph.D., you should." Diz tudo.
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