domingo, fevereiro 19, 2006

Morbidez lusa

Hoje o país parou para ver um cadáver atravessar metade da zona centro do país. A tal velhinha, que quando tinha dez anos deciciu provar umas bagas maradas ali para os lados de Fátima com os irmão e depois teve uma trip um bocado decontrolada e achou que viu uma virgem que tinha tido um filho de um tal de Espiríto Santo. Já agora, e num a parte, essa deve ser a desculpa mais enfarrapada que alguma mulher alguma vez deu quando enganou o marido, mas de alguma maneira pegou...
Que as pessoas católicas fossem a Fátima prestar homenagem a um símbolo importante das suas crenças, tudo bem. Estamos num país livre, façam o que bem vos apetecer. Mas que as televisões nacionais, nomeadamente a televisão pública, façam especiais de 8h em directo, que se feche um troço da auto-estrada a mais importante do país para passar o carro funerário, isso já me parece algo estranho num país laico.

Todo o fenómeno de Fátima parece-me o exemplo típico do chico-espertismo português. Dava jeito para o pessoal ganhar uns trocos da cena da religião, e nunca foi difícil fazer os portugueses acreditarem que viram coisas que não existem, basta reparar que todos os fins-de-semanas milhões portugueses juram a pés juntos que viram uma falta na área do Benfica e os restantes juram a pés juntos o contrário... e ainda hoje, 6 anos depois, muitos continuam a garantir que o Abel Xavier não jogou a bola com a mão naquela famigerada meia-final do Euro 2000 contra a França (os leitores masculinos saberão bem do que estou a falar!), mesmo depois de cerca de meio milhão de repetições a mostrar o contrário.
Arranjam-se umas testemunhas insuspeitas, os pastorinhos tão inocentes e puros, inventa-se algo de bastante rebuscado, ao que dizem até o Sol se mexeu no céu. Poupem-me, mesmo em Lourdes limitaram-se a dizer que a testemunha falou linguas estranhas e mexeu o corpo de maneiras estranhas, a cena do Sol a mexer é tipicamente portuguesa, temos de ir sempre um bocadinho de longe com as nossas tangas. É um bocado como o pescador que "quase" pescou o robalo de 30 Kg, ou o caçadro que viu um bando de "pelo menos" meio milhão de pombo.

Reduzam a data ao que realmente foi. Hoje milhares de pessoas juntaram-se à chuva e ao vento para verem um cadáver ser transladado de um local para outro. Um hino à proverbial morbidez lusa, o mesmo que nos faz parar parar ver o "sangue e tripas" nos acidentes de viação, que nos faz gostar de falar da crise, se calhar aquilo que nos faz viver em eterna crise nacional. E não estou a dizer que eu seja melhor do que essas pessoas, também estou aqui a perder tempo a escrever isto e passo a vida a pensar em idiotices em vez de agir. Mas se alguém ler isto e pensar: "É pá, realmente, essa cena da transladação da velhota foi um bocado ridícula, fogo, nós os tugas nunca mais aprendemos..." já terá valido a pena.

7 comentários:

Ana Elias disse...

SINTONIA!

Marco Fav disse...

Estás a ficar amargo Rapaz! Se queres que respeitem as coisas a que dás importância, tens de fazer o mesmo pelos outros. Vá, larga lá essas pedras que tens nas mãos!

Dito isto, que fique claro que o Blog é um sítio onde dizes o que te dá na real gana e assim deve continuar, obviamente!

Peace and Love.

Unknown disse...

Gostei da tua "protecção à liberdade de expressão no fim do coment".
E eu respeito o teu direito a estares em desacordo comigo! Aliás, isso é que torna os debates interessantes e enrriquecedores.

Paz sempre, mas para coisas relacionadas com a igreja prefiro manter as pedras na mão, é que eles têm um passado muito, muito triste! Um passado que eu dispenso rever no futuro...

Filipe disse...

Grande Pedro, esta é a melhor oportunidade para te devolver um comentário que fizeste aqui à tempos no meu blog, portanto aí vai:
"Concordo e assino por baixo, Pedro!"

E mais uma coisa, aposto que o carro funerário, mais a comitiva que o acompanhava, não pagaram portagem.

Unknown disse...

Pagar portagem até pagou, só que a conta foi por nossa conta. Curiosamente eu não sou católico...

Marco Fav disse...

Eu nunca disse que estava em desacordo!
Foi um comentário imparcial.
Não foi o assunto que comentei, mas a forma como o disseste.

Cleared For Take Off disse...

A Portugal dava jeito ser um polo de direita e católico. Vivia-se a guerra WWI e deve ter servido também para focar a malta no que devia.

è de facto vergonhoso o embuste que aquilo é, com a conivência da Santa Sé, e visões e segredos da treta.

As idas e promessas a Fátima são de um terceiro mundo comparável á IURD. Dos 3F, troca-se o Fado pela Pimabalhada mas os outros 2 estão fortes ai.

Positivo é vir gente do estrangeiro (e trazer a massa para gastar) para Fátima rezar.