As aves migradoras realizam viagens épicas, são capazes de esforços físicos inacreditáveis para concluir os seus longos voos migratórios. No extremo, os fuselos do Canadá fazem voos directos do Canadá para a Nova Zelândia, numa distância de cerca de 14000 km, ninguém sabe se param alguma vez, algures no meio do Pacífico para descansar. São conhecidos vários casos de aves que viajam 4000 km em apenas 2 ou 3 dias, e no decurso destas maratonas aéreas, chegam a perder metade do seu peso, tal é o dispêndio de energia necessário.
Agora digam-me, se vocês estivessem com gripe eram capazes de correr uma maratona? Obviamente não! É por isso que me custa muito a acreditar na premissa habitual, martelada constantemente pelos serviços noticiosos, de que são as aves migradoras que estão a trazer a gripe das aves para a Europa. Ou seja, mal sentem um pingo no nariz, as aves arrancam para a viagem, voam milhares de quilómetros e chegam à Alemanha mesmo a tempo de caírem mortas com a certeza de terem cumprido os seus pérfidos propósitos: levar o temível H5N1 até à Europa…
Agora outra hipótese, mais simples e crível, mas menos politicamente correcta. O vírus já chegou à Europa há meses, via galinhas e patos domésticos vendidos ilegalmente da Ásia para a Europa. Os produtores querem esconder o facto para não perderem a clientela, os governos não sabem, ou preferem também esconder o facto para evitar alarmismos excessivos, como aqueles a que estamos agora a assistir. Agora, que as pobres aves migradoras começaram a voltar, o histerismo regressou à Europa, um pombo não pode dar um espirro sem que todas as televisões e rádios se acotovelem para o entrevistar, é impossível continuar a esconder essa realidade. As aves chegam, debilitadas pelas longas viagens, contactam com aves domésticas infectadas e apanham a doença, que as mata rapidamente. Nas notícias surgem informações sobre a praga das aves migradoras que chegam à Europa carregadas de gripe…
É uma longa tradição por a culpa no mais fraco. Na Idade Média culparam as bruxas pela Peste Negra, na Alemanha Nazi tudo era culpa dos judeus, nos Estados Unidos, nos anos 50, tudo o que acontecia de mal era culpa de agitadores comunistas. No contexto actual temos as aves migradoras, a lutarem para sobreviver num mundo em que os habitats naturais são cada vez mais raros, os interesses económicos preferiam que elas não existissem, preferiam poder drenar os últimos lagos e estuários, derrubar as ultimas florestas, arrasar as ultimas pradarias. Depois temos as aves domésticas, um produto da nossa sociedade actual, um valiosíssimo recurso económico um pouco por todo o mundo. Se quisermos escolher um bode expiatório, quem seria a melhor escolha, uma galinha que vale 5 euros no mercado, ou um pato selvagem que impede a construção de fábricas e urbanizações porque as agências de conservação da natureza querem proteger o lago onde ele vive?
6 comentários:
Finalmente uma visão interessante sobre a gripe das aves e companhia. Concordo plenamente ctg!
Mas em Portugal é sempre assim... Aqui na Alemanha o stress não é assim tanto e, estão bem mais perto do dito foco da doença.
Pois, já calculava, os portugueses são histéricos por natureza...
É bom saber que o pessoal aí no Norte da Europa é mais racional.
Pedro, tu que percebes de aves , diz-me uma coisa: Porque é que elas não passam na farmácia a comprar um Cêgripe? É que se é gripe...Cêgripe!
é pá desculpem lá... sei que não tem muita graça, mas apeteceu-me
Lótus:
1. Nas farmácias é proibida a entrada a animais... uma daquelas incomensuráveis injustiças da vida.
2. As aves não têm bolsos onde guardar dinheiro, logo não têm posses para comprar o Cêgripe.
3. Coitadas estão a acabar de chegar de viagem, vêm com jet-lag e são apanhadas de surpresa pelo vírus, nem têm tempo de reagir coitadinhas!
Obrigada pelo esclarecimento, amigo Pedro! Agora que me explicas parece-me óbvio. Como é que não me ocorreu isso antes??? ;)
Bem, realmente nunca tinha pensado no assunto desta maneira (tou a falar do post, mas já agora, também nunca tinha pensado no porquê das aves nunca passarem pela farmácia a comprarem Cêgripe...). Faz sentido, principalmente se tivermos em conta que o dinheiro é que rege o mundo.
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