Muito sinceramente, acho que nunca serei um muito bom biólogo. Sou demasiado disperso. Passo horas e horas no campo e acabo por me distrair sempre a pensar sobre assuntos tão distantes do que estou de facto a fazer que as vezes me parece que talvez a minha verdadeira vocação fosse a filosofia. Ou talvez não...
Surgiu-me no outro dia uma alegoria que me parece inquietante e de resolução dificil. Coloque-mos dois homens, dois homens banais numa mesma situação. Ambos são judeus, vivem em Varsóvia em 1939, ambos estão agarrados por dois soldados das SS e à sua frente têm o seu filho (ou a mulher, ou o irmão, ou outro alguém que amam verdadeiramente) e um tenente alemão com uma arma apontada à cabeça desse ente querido. Na sua cabeça guardam um segredo que, mantido como tal, poderá salvar a vida de milhares de outros judeus, a escolha, só uma: ou revelam o segredo ou a pessoa amada será morta ali mesmo, a sangue frio.
O primeiro, guardou o segredo, assistiu à morte de uma pessoa que amava e teve de viver o resto da vida com a imagem dessa cena na cabeça e com a certeza que essa pessoa morreu por sua culpa. Contudo, a sua coragem e sacrifício salvaram milhares de vidas.
O segundo, revelou o segredo. Os alemães cumpriram a palavra e ele e outra pessoa sobreviveram e viveram muitos anos felizes, mas teve de viver para sempre com a certeza de que milhares morreram devido à sua indiscrição.
Agora a minha pergunta, qual dos dois é um herói?
3 comentários:
para a história, o herói seria o primeiro. mas duvido que se sentisse como um.
Os Alemães cumpriram a palavra???! Get real! Se eles o tinham a ele e família, já era como se estivessem mortos: o melhor a fazer é estar calado e não levar milhares com ele. Frequentemente, o poder de escolha é pura ilusão.
Não resisto a dizer "desde que inventaram a pólvora deixou de haver heróis..."
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