quinta-feira, outubro 19, 2006

Quintas-feiras Culturais XXX

Lembrei-me agora que ainda é quinta-feira, deixo-vos com Alberto Caeiro no seu melhor:

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele

Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro


É dificil encontrar às vezes essa inocência, que deixámos pelo caminho à muitos tempo. Mas às vezes encontramo-la pelo caminho, é por esses momentos preciosos que o caminho merece ser percorrido

3 comentários:

Zorze Zorzinelis disse...

Grande Pedro; sempre escolhas interessantes. Um abraço para ti aí na... Holanda?!

Filipe disse...

Alberto Caeiro. Ora aqui está uma óptima escolha!
Um abraço

Marco Fav disse...

Ai a cultura, a cultura... nunca nos demos bem depois do "divórcio" (fim de aulas de Português, onde era forçado a ler este tipo de textos).