Ontem, ouvi no telejornal que três jovens madeirenses foram hospitalizados depois de terem tomado um chá de erva do diabo, uma planta tóxica com propriedades alucinogénicas que, pelo menos para um deles, acabou por ser letal.
Fiquei a pensar um bocado sobre o assunto, a pensar sobre esse fascínio que os alucinogénicos têm sobre o Homem, a pensar em como os alucinogénicos têm sido uma constante da história da humanidade.
Desde tempos imemoriais que os xamãs das tribos consumiam plantas ou fungos alucinogénicos para "contactarem o mundo espiritual", tribos inteiras usavam venenos vários para entrar em estados de transe, os vikings usavam frequentemente a Amanita muscaria, um cogumelo com propriedades psicoactivas, para entrarem num estado alterado de consciência que lhes dava a sensação de invunerabilidade que os tornava guerreiros temíveis. Muitos filósofos e pensadores da antiguidade clássica recorriam a chás e infusões de diversas plantas para estimularem o seu génio, diversos cientistas recentes, por exemplo Carl Sagan, reconheceram que usavam Cannabis como forma de se inspirarem para a escrita dos seus livros.
O uso de drogas alucinogénicas e psicoactivas é hoje bem patente na sociedade, com todos os problemas de toxicodependência que são bem conhecidos. Mas porquê?
Bem vistas as coisas, os seres humanos andam à milénios em busca da alienação, a tentar fugir à sua própria existência. Drogas e alcoól, música e filmes, jogos de computador, até a incessante vontade de viajar que sou o primeiro a reconhecer, não são todas estas formas de alienação, de fuga à realidade, ou pelo menos a uma realidade? Porquê esta insatisfação, porque este mal estar connosco próprios? Na minha opinião, a nossa espécie sofre de um trade-off evolutivo. Na natureza nada é gratuito, tudo tem um custo. O supra-desenvolvimento acelerado dos nossos cérebros, para lá de tudo o que alguma vez ocorrera no mundo animal, originou inúmeros benefícios, uma linguagem, uma sociedade mais complexa e intrincada, tecnologia, cultura, garantiu a nossa segurança num mundo perigoso, assegurou a nossa preponderância num planeta em mudança, mas tinha talvez um senão. Com a explosão de capacidades intelectuais, com as infinitas possibilidades que resultam da interacção de miríades de neurónios hiperactivos, começamos a questionar a nossa existência. Inventamos o porquê. Não nos contentamos com a resposta porque sim.
Agora estamos condenados a procurar para sempre um significado para a nossa existência, que até podemos encontrar por vezes, nas palavras de algum filosofo ou teólogo, ou no olhar de alguém especial. Mas lá bem no fundo, no âmago da nossa existência, estará lá empre enterrado como um espinho esse "Porquê?"
Mas não estou a dizer que isto seja algo de mau. Haverá algo mais genuinamente humano que a sensação de eternamente viver à procura de algo sem saber o que procuramos nem onde o encontrar?
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