O senhor Justino Certo era um homem muito certinho.
O Justino era sempre bem educado, nunco faltou ao respeito de ninguém. Respeitou sempre os patrões e tratou sempre com justiça os seus subalternos. Nunca excedeu os limites de velocidade nem estacionou o carro sem pagar no parquímetro. Nunca chamou nomes a ninguém, nem mesmo aos árbitros que roubavm o seu clube. Pagou sempre todos os impostos, tinha sempre as contas em dia. Na praia, nunca nadou com bandeira amarela e nunca tomou banho com bandeira vermelha, nunca chegou sequer perto da água quando era hasteada a bandeira de xadrez. Para os amigos foi sempre correcto, nunca deixou de por o bem-estar deles à frente do seu, nunca os incomodou com os seus problemas. À sua esposa nunca levantou a voz, aos filhos nunca levantou a mão. Nunca respondeu torto aos pais, nunca deixou de cumprir os conselhos dos mais velhos. Nunca fumou, nunca bebeu, nunca se divertiu em demasia. Foi sempre ordeiro e respeitador, nunca faltou ao cumprimento das leis e deveres.
Os seus amigos diziam dele que era um homem às direitas, os vizinhos chamavam-no uma pessoa muito honrada. Nas costas todos o tinham como a criatura mais aborrecida à face da terra.
Um dia, quando justino voltava do trabalho, encontrou a mulher na cama com outro homem, não querendo armar um escandalo, afastou-se surrateiramente e saíu de casa sem ser notado. Há porta do prédio encontrou os seus filhos a consumirem heroína, ouviu horrorizado os filhos a dizerem que o faziam porque não queriam um dia ser como ele.
Nao sabendo ao certo o que fazer, meteu-se no automóvel, mas tendo excedido pela primeira vez na vida o limite de velocidade ao passar a 95 numa estrada de limite 90, deixou o carro derrapar numa curva onde um camião tinha largado óleo. Envolveu-se num terrível acidente em que faleceram dois peões que passavam ao lado da estrada. Quando acordou, um mês depois, estava preso a uma cadeira de rodas, todas as suas poupanças haviam sido gastas a pagar indeminizações às famílias das vítimas. Telefonou à mulher, que vivia agora com um produtor de filmes pornograficos que colecionava BMWs e tinha uma vivenda no Estoril, mas esta desejou-lhe apenas boa sorte e pediu-lhe para nunca mais a voltasse a incomodar. Os filhos, agora heroínomanos sem retorno, disseram-lhe que contasse com eles quando necessitasse de uma autorização para lhe desligarem as máquinas.
Quando teve alta do hospital, sem dinheiro, sem sítio para onde ir e sem direito a ajudas do estado devido às suas dívidas para com o hospital, procurou abrigo debaixo de uma ponte. Quando, no meio de uma chuvada, os sem abrigo o expulsaram daquele local por ser "o pouso deles", disse pela primeira vez na vida: "Porra, puta de vida". Matou-se no dia seguinte, lançando-se para a frente de um comboio apesar da culpa que sentia por ir perturbar a vida dos passageiros da CP.
Ninguém compareceu no funeral.
1 comentário:
....pedro...se precisares de falar...
Granda filme pá!
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