O dia amanhece cinzento. Uma chuva pressistente borrifa as janelas com o desdem das ondas que se esmagam numa falesia distante. Dolorosamente, a vontade ultrapassa a preguica e o corpo renuncia aos prazeres de almofadas fofas e edredons quentes. O toque confortavel da agua quente do duche, antecipa o toque mais aspero da fria lamina de barbear, uma gota de sangue unica rola pela face como uma lagrima chorada sem sentido.
Um suspiro largado sem pensar, o copo de leite morno tragado como um comprimido. Um breve vislumbre pelas noticias do dia antes de enfrentar de queixo levantado a humidade de mais um dia que comeca cansado.
Um salto para o selim da bicicleta, as primeiras pedalas saem lentas, moles como as pernas. A pouco e pouco o corpo entra no ritmo, o ar comeca a bater fresco na cara e o tropor afasta-se lentamente da mente. Pedalando sem pensar, a mente deambula, afasta-se do corpo e viaja em todas as direccoes. Sem pensar muito nisso, as ideias alinham-se o cerebro reencontra-se. Timidamente, o dia comeca finalmente.
Dedos que teclam, martelam suavemente o teclado com a raiva de um pianista, com a docura de um baterista. As horas passam-se e o ecra do computador preenche a realidade. Segundos de distracao, minutos passados a completar mecanicamente as tarefas necessarias, o espirito saltita entre a exaltacao e o desalento. Os relances lancados na direccao do relogio multiplicam-se, a hora do almoco aproxima-se com a lentidao de uma vaca a pastar nos campos.
Chega a hora de almoco, a distracao exigida pelo cerebro amorfo, a satisfacao pedida pelo estomago insatisfeito. Conversas mastigadas por entre o lento processar da comida. Risos, diversoes, opinioes, dicussoes. Entre duas dentadas num croquete, a mesa de almoco ve nascerem teorias, ideias, ideiais. Dicussoes em varias linguas, o ingles dominante ve-se ameacado pelo espanhol incipiente, o frances e o alemao tem a sua palavra, ate o portugues se aventura na forma de verbos e adjectivos, enquanto um ruido de fundo relembra a presenca dominante do holandes.
Satisfeito o corpo, complemeta-se a refeicao com alimentos para a mente. Planos de actividades, uma visita a um novo bar, um ajuntamento para assistir a um jogo de futebol, idas ao cinema. No regresso ao encarceramento da maquina o cerebro sente-se agora livre, com espaco para voar. Agora tem algo para esperar. No fundo de um milhao de ideias, nasce um pequeno plano, uma distracao final antes do regresso ao trabalho. Que tal tentar apaziguar o portugues...
1 comentário:
É 'persistente' que se escreve. não 'pressistente'
Enviar um comentário