Estar longe do nosso país ajuda bastante a conhecer melhor as nossa própria cultura. Desde que aqui estou, na Holanda, apercebi-me que não há música que mais me recorde de Portugal do que as músicas do Sérgio Godinho. Nomeadamente, e talvez porque em Lisboa eu moro ao pé da Feira da Ladra, à uma música que me deixa sempre sempre cheio de saudades da tugolândia:
É Terça-Feira
É terça-feira
e a feira da ladra
abre hoje às cinco
de madrugada
E a rapariga
desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas
ao desbarato
vai vender
juras falsas
amargura
ilusões
trapos e cacos e contradições
É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração é incapaz de dizer
"tanto faz"
parte p'ra guerra
com os olhos na paz
É terça-feira
e a feira da ladra
quase transborda
de abarrotada
E a rapariga
vende tudo o que trazia
troca a tristeza
pela alegria
E todos querem
regateiam
amarguras
ilusões
trapos e cacos e contradições
É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p'ra guerra
com os olhos na paz
É terça-feira
e a feira da ladra
fica enfim quieta
e abandonada
e a rapariga
deixou no chão um lamento
que se ergue e gira
e roda com o vento
e rodopia
e navega
e joga à cabra-cega
é de nós todos
e a ninguém se entrega
É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p'ra guerra
com os olhos na paz
Sérgio Godinho
Aquela parte do lamento, que rodopia, e naveja, e joga à abra-cega, lembra-me a imagem que tantas vezes vi, do final da feira da ladra, qundo as pessoas já são poucas e os restos (no fundo, o lixo) espalhados pelo chão, são arrastados pelo vento e colhidos pelos empregados da câmara. Enfim, estou a ficar nostalgico, vou ficar por aqui. Mas haverá alguma coisa mais lisboeta e, inevitavelmente, portuguesa do que esta imagem aqui pintada em música e palavras?
Mais um blog despretensioso que pretende deixar mais algumas ideias à solta na net. Nunca se sabe quem as irá apanhar...
sexta-feira, março 31, 2006
A Quinta Dimensão
Turoruro turoruro turoruro (musica da Twilight Zone)
Imaginem este homem. Desde à duas semanas que não tem notícias de alguém de quem ele gosta muito. Alguém que está muito longe. Um dia este homem tem um sonho com essa pessoa, acorda e olha para o relógio. Eram 3:30.
No dia seguinte esse homem vai à sua vida, sem ligar a esta ocorrência aparentemente banal. Já à noite, vai ver o seu e-mail e lá está, um e-mail dessa pessoa, escrito às 3:30 na noite anterior... Este homem está a viver... na quinta dimensão.
Mas não, não aconteceu na quinta dimensão, aconteceu na Holanda e foi comigo. Já dizia a minha avó: "Ele há coisas do diabo!"
Imaginem este homem. Desde à duas semanas que não tem notícias de alguém de quem ele gosta muito. Alguém que está muito longe. Um dia este homem tem um sonho com essa pessoa, acorda e olha para o relógio. Eram 3:30.
No dia seguinte esse homem vai à sua vida, sem ligar a esta ocorrência aparentemente banal. Já à noite, vai ver o seu e-mail e lá está, um e-mail dessa pessoa, escrito às 3:30 na noite anterior... Este homem está a viver... na quinta dimensão.
Mas não, não aconteceu na quinta dimensão, aconteceu na Holanda e foi comigo. Já dizia a minha avó: "Ele há coisas do diabo!"
sexta-feira, março 17, 2006
Holanda
Os rumores confirmam-se, estou a escrever este post na Holanda, onde este inevitavel insatisfeito vai passar os proximos meses, contentando-se com pequenas restias de Sol neste pais sem ceus azuis.
O meu acesso a net por aqui ainda e incerto, pelo que o blog vai andar um pouco morto nos proximos tempos. Espero vir a ter net em casa brevemente e ai ja vou poder voltar as lidas bloguisticas em pleno.
Para quem esteja interessado, a minha localizacao exacta e uma pequena e pitoresca aldeia chamada Gaast, localizada na Frisia, nas margens do Ijsselmeer. A temperatura por ca ronda os 0 graus e a regiao tem um aspecto muito bocolico, cheia de pastagens, vacas, ovelhas e muitos, muitos patos e gansos ansiosos por espalharem a gripe das aves por todos nos!
Se os diques da Holanda finalmente cederem, vou ser dos primeiros a irem a vida, pois estou a poucos quilometros do dique principal e o local onde estou fica a uns 4 metros abaixo do nivel do oceano... Espero que nao chova muito nos proximos meses!
O meu acesso a net por aqui ainda e incerto, pelo que o blog vai andar um pouco morto nos proximos tempos. Espero vir a ter net em casa brevemente e ai ja vou poder voltar as lidas bloguisticas em pleno.
Para quem esteja interessado, a minha localizacao exacta e uma pequena e pitoresca aldeia chamada Gaast, localizada na Frisia, nas margens do Ijsselmeer. A temperatura por ca ronda os 0 graus e a regiao tem um aspecto muito bocolico, cheia de pastagens, vacas, ovelhas e muitos, muitos patos e gansos ansiosos por espalharem a gripe das aves por todos nos!
Se os diques da Holanda finalmente cederem, vou ser dos primeiros a irem a vida, pois estou a poucos quilometros do dique principal e o local onde estou fica a uns 4 metros abaixo do nivel do oceano... Espero que nao chova muito nos proximos meses!
domingo, março 12, 2006
Arco-Íris
Um dia, enquanto ria, dei por mim rodeado por um arco-iris:
Vermelho, que de tantos anos é já quase sangue do meu sangue
Laranja, que é alegria e espalha alegria em sua volta
Amarelo, que, às vezes, parece ter um pouco da luz e do calor do Sol
Verde, esperança, que será sempre a última a morrer
Azul, envolve-se por vezes de uma estranha serenidade que gera confiança
Anil, que é tão forte e dá força, mesmo sem o saber
Violeta, de flor não tem nada, mas, por vezes, é uma florzinha de estufa
Todas as cores do arco-íris, juntas, formam a luz branca. Tudo o que a vida necessita para sobreviver. ..
Vermelho, que de tantos anos é já quase sangue do meu sangue
Laranja, que é alegria e espalha alegria em sua volta
Amarelo, que, às vezes, parece ter um pouco da luz e do calor do Sol
Verde, esperança, que será sempre a última a morrer
Azul, envolve-se por vezes de uma estranha serenidade que gera confiança
Anil, que é tão forte e dá força, mesmo sem o saber
Violeta, de flor não tem nada, mas, por vezes, é uma florzinha de estufa
Todas as cores do arco-íris, juntas, formam a luz branca. Tudo o que a vida necessita para sobreviver. ..
sábado, março 11, 2006
Filosofia de Ponta II
Aqui está o regresso da rubrica masculina da inevitavel insatisfação. Para hoje, uma questão inquietante, ou talvez não, a dificil decisão de qual destas beldades de Hollywood melhor fica no papel de heroína. No fundo, a pergunta profunda e estruturante para a existência do homem de hoje que eu quero colocar é:
Por qual destas heroínas em vestes provocantes preferiam ser salvos (ou não), pela Aeon Flux, Charlize Theron; ou pela Catwoman, Halle Berry?
Temos aqui um potencial empate técnico. Mas por mim, vou pela Charlize, que fica tão bem com o cabelo escuro... E o filme também é melhorzito que o outro, mas isso não interessa mesmo nada!
Por qual destas heroínas em vestes provocantes preferiam ser salvos (ou não), pela Aeon Flux, Charlize Theron; ou pela Catwoman, Halle Berry?
Temos aqui um potencial empate técnico. Mas por mim, vou pela Charlize, que fica tão bem com o cabelo escuro... E o filme também é melhorzito que o outro, mas isso não interessa mesmo nada!
sexta-feira, março 10, 2006
À Espera de um Milagre
Acabei de ver o sorteio da liga dos campeões... é pois isto que nos espera:
A armada invencível do barça, a equipa que eu próprio já chamei várias vezes, este ano, uma trituradora de adversários, calhou em sorte ao Benfica. Agora só lá vamos com um milagre. E não estou a falar de uma cena para turista ver ao estilo de Fátima, seria um milagre a sério como aqueles que os que os deuses gregos gostavam de fazer nesses tempos olímpicos!
Ou isso ou alguém sugerir ao Koeman esta minha singela táctica:
O Petit com uma cabeçada endireita os dentes ao Ronaldinho. O Beto exibe a sua cabeleira loura ao Eto'o que, sem grandes pilosidades cefálicas suas, caí logo num pranto de desgosto e abandona o jogo. Depois, alguém lembra ao Deco que, agora que é português, se quer ir à selecção tem de o merecer e portanto se quer marcar golos que o faça na baliza do Barça. Com os dentes direitos o equilibrio do Ronaldinho vai por água abaixo e deixa de ser capaz de, sozinho, esfacelar qualquer equipa adversária. Ficamos assim com 11 contra 8... a esperança é a última a morrer!
A armada invencível do barça, a equipa que eu próprio já chamei várias vezes, este ano, uma trituradora de adversários, calhou em sorte ao Benfica. Agora só lá vamos com um milagre. E não estou a falar de uma cena para turista ver ao estilo de Fátima, seria um milagre a sério como aqueles que os que os deuses gregos gostavam de fazer nesses tempos olímpicos!
Ou isso ou alguém sugerir ao Koeman esta minha singela táctica:
O Petit com uma cabeçada endireita os dentes ao Ronaldinho. O Beto exibe a sua cabeleira loura ao Eto'o que, sem grandes pilosidades cefálicas suas, caí logo num pranto de desgosto e abandona o jogo. Depois, alguém lembra ao Deco que, agora que é português, se quer ir à selecção tem de o merecer e portanto se quer marcar golos que o faça na baliza do Barça. Com os dentes direitos o equilibrio do Ronaldinho vai por água abaixo e deixa de ser capaz de, sozinho, esfacelar qualquer equipa adversária. Ficamos assim com 11 contra 8... a esperança é a última a morrer!
quinta-feira, março 09, 2006
Quintas-feiras culturais XXI
Para a quinta-feira cultural de hoje, última antes de eu mudar arraiais para as frias paragens do norte da Holanda, contive-me de arranjar um poema sobre o benfica (que ficaria também muito bem), e escolhi o clássico dos clássicos da poesia portuguesa, um dos mais famosos poemas do nosso maior poeta, o Camões, e também a melhor descrição que conheço desso estranho sentimento que é o amor.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões
Qual dia de luto, qual carapuça
quarta-feira, março 08, 2006
Amanhã, meus caros, é dia de luto nacional
A Despedida
O rio parecia um lago, espraiado no leito largo do seu estuário. Águas calmas, margens plácidas, o murmurio quase ternurento da pequena ondulação que beijava incessantemente aquela praia de areias brancas e rochas escuras.
O barco partia por fim, despedia-se daquelas paragens calmas com o silvo grave da sirene, no ar as gaivotas e as andorinhas-do-mar despediam-se também com assobios e gritos estridentes, enquanto procuravam vislumbrar nas águas pardacentas algum sinal da sua próxima refeição. Começou a mover-se, primeiro lentamente, depois mais rápido. A proa começou a sulcar as águas numa comoção de espuma e ondas, o mar fendia-se sob o casco, como que acolhendo o navio no seu leito frio e salgado. A refrescante brisa que se levantava do alto, assim como os suaves salpicos que pintalgavam as faces dos passageiros, eram tanto uma benção como um aviso, o mar podia ser o mais belo dos infitriões, mas também se poderia tornar o mais insensível dos carrascos.
Depois dos primeiros metros navegados, um cortejo de golfinhos juntou-se à procissão, os alegres foliões dos mares vinham brincar nas ondas levantadas pelo imponente casco branco, enchendo o mar de animação e o peito dos passageiros de esperança.
Haviam sorrisos nas faces que do barco olhavam terra, outros entre os olhares que de terra prescutavam o convés do barco, à procura de uma cara familiar. Mas, aqui e ali, uma lágrima honesta sulcava as bochechas sorridentes e mentirosas. Partiam para a guerra, muitos nunca voltaram...
O barco partia por fim, despedia-se daquelas paragens calmas com o silvo grave da sirene, no ar as gaivotas e as andorinhas-do-mar despediam-se também com assobios e gritos estridentes, enquanto procuravam vislumbrar nas águas pardacentas algum sinal da sua próxima refeição. Começou a mover-se, primeiro lentamente, depois mais rápido. A proa começou a sulcar as águas numa comoção de espuma e ondas, o mar fendia-se sob o casco, como que acolhendo o navio no seu leito frio e salgado. A refrescante brisa que se levantava do alto, assim como os suaves salpicos que pintalgavam as faces dos passageiros, eram tanto uma benção como um aviso, o mar podia ser o mais belo dos infitriões, mas também se poderia tornar o mais insensível dos carrascos.
Depois dos primeiros metros navegados, um cortejo de golfinhos juntou-se à procissão, os alegres foliões dos mares vinham brincar nas ondas levantadas pelo imponente casco branco, enchendo o mar de animação e o peito dos passageiros de esperança.
Haviam sorrisos nas faces que do barco olhavam terra, outros entre os olhares que de terra prescutavam o convés do barco, à procura de uma cara familiar. Mas, aqui e ali, uma lágrima honesta sulcava as bochechas sorridentes e mentirosas. Partiam para a guerra, muitos nunca voltaram...
segunda-feira, março 06, 2006
sábado, março 04, 2006
Star Spangled Banner
Era um país onde as pessoas viviam sob a falsa crença de que viviam em liberdade, um país onde o chefe de estado tinha sido eleito através de uma descarada fraude eleitoral, sem que isso impedisse o povo de votar nele numa segunda eleição. Um estado onde os poderes económicos controlam o poder político, um estado onde a verdade é controlada pelos meios de comunicação e onde os meios de comunicação são controlados pelos mesmo poderes económicos que controlam o governo. Um país fechado ao mundo, onde a maioria da população não sabe encontrar num mapa os seus vizinhos mais próximos.
Este país, que invadia impunemente outras nações, gozava com as instituições internacionais vergando-as sob o seu imenso poderio político e militar, um estado que se achava no direito de controlar os acontecimentos que se passavam noutros estados, que derrubava regimes só porque estes se recusavam a prestar-lhe vassalagem, um país que armazenava um infinito arsenal do mais terrível pesadelo de guerra alguma vez sonhado num pesadelo humano. Um país que desprezava todos os outros, que desprezava o bem-estar dos seus cidadãos, que desprezava o bem-estar do próprio planeta, que em nome da defesa da liberdade retirava, uma a uma, as liberdades pelas quais o seu povo tinha lutado durante incontáveis gerações. Um país que envergonhava o próprio conceito de democracia, mas que a usava como pretexto para invadir as pobres nações miseráveis que se entrepusessem entre eles e os recursos que desejavam. Um estado que mantinha campos de concentração onde prendia e torturava os seus inimigos e inúmeros inocentes, culpados apenas de terem estado no local errado à hora errada. Um país que defendia a liberdade religiosa mas mostrava querer iniciar uma cruzada fundamentalista cristã contra a fé islâmica, que apoiava os judeus por serem ricos e poderosos, mas abandonava ao seu destino até os próprios cristãos só por serem pobres e não lhes terem nada a oferecer. Que país seria este?
Andam todos tão preocupado por o Irão poder estar perto de construir uma bomba atómica, mas ninguém se preocupa com a infinita prepotência do maior coleccionador mundial de ogivas nucleares. Pessoalmente, sinto-me mais descansado com uma ou duas ogivas guardadas em Teerão do que com a ideia que um louco imbecil ter, em Washington, os códigos de acesso ao maior arsenal nuclear do mundo, até porque foram eles o único país que, de facto, chegou ao ponto de usar essa solução final… duas vezes, contra um inimigo que estava já encostado às cordas e prestes a render-se. Se qualquer outro país tivesse feito metade das atrocidades e crimes que os Estados Unidos cometeram nos últimos 50 anos, teria no mínimo sido alvo de todo o tipo de sanções económicas e castigos diplomáticos, e muito provavelmente teria já tido o seu governo esquizo-totalitário* deposto por uma qualquer coligação internacional.
Não seria já altura de a Europa rever quem realmente queremos como nossos aliados?
* governo esquizo-totalitário: um governo totalitário que sofre de esquizofrenia, mostrando por isso duas personalidade ligeiramente distintas, uma democrática e outra republicana.
Este país, que invadia impunemente outras nações, gozava com as instituições internacionais vergando-as sob o seu imenso poderio político e militar, um estado que se achava no direito de controlar os acontecimentos que se passavam noutros estados, que derrubava regimes só porque estes se recusavam a prestar-lhe vassalagem, um país que armazenava um infinito arsenal do mais terrível pesadelo de guerra alguma vez sonhado num pesadelo humano. Um país que desprezava todos os outros, que desprezava o bem-estar dos seus cidadãos, que desprezava o bem-estar do próprio planeta, que em nome da defesa da liberdade retirava, uma a uma, as liberdades pelas quais o seu povo tinha lutado durante incontáveis gerações. Um país que envergonhava o próprio conceito de democracia, mas que a usava como pretexto para invadir as pobres nações miseráveis que se entrepusessem entre eles e os recursos que desejavam. Um estado que mantinha campos de concentração onde prendia e torturava os seus inimigos e inúmeros inocentes, culpados apenas de terem estado no local errado à hora errada. Um país que defendia a liberdade religiosa mas mostrava querer iniciar uma cruzada fundamentalista cristã contra a fé islâmica, que apoiava os judeus por serem ricos e poderosos, mas abandonava ao seu destino até os próprios cristãos só por serem pobres e não lhes terem nada a oferecer. Que país seria este?
Andam todos tão preocupado por o Irão poder estar perto de construir uma bomba atómica, mas ninguém se preocupa com a infinita prepotência do maior coleccionador mundial de ogivas nucleares. Pessoalmente, sinto-me mais descansado com uma ou duas ogivas guardadas em Teerão do que com a ideia que um louco imbecil ter, em Washington, os códigos de acesso ao maior arsenal nuclear do mundo, até porque foram eles o único país que, de facto, chegou ao ponto de usar essa solução final… duas vezes, contra um inimigo que estava já encostado às cordas e prestes a render-se. Se qualquer outro país tivesse feito metade das atrocidades e crimes que os Estados Unidos cometeram nos últimos 50 anos, teria no mínimo sido alvo de todo o tipo de sanções económicas e castigos diplomáticos, e muito provavelmente teria já tido o seu governo esquizo-totalitário* deposto por uma qualquer coligação internacional.
Não seria já altura de a Europa rever quem realmente queremos como nossos aliados?
* governo esquizo-totalitário: um governo totalitário que sofre de esquizofrenia, mostrando por isso duas personalidade ligeiramente distintas, uma democrática e outra republicana.
And the Oscar goes to...
Aproxima-se mais uma cerimónia de entrega dos Óscares, mais uma série de estatuetas douradas com formato vagamente fálico vão premiar aqueles que mais se destacaram na sétima arte, no último ano. Este ano a cerimónia vai ser apresentada pelo John Stewart o genial apresentador do Daily Show da Comedy Central da CNN, gargalhadas garantidas pela noite dentro. Vou tentar ver a cerimónia, apesar de já não ter a resistência para directas que tinha há uns anitos atrás... ai a velhice!
Há vários anos que tenho a tradição de fazer as minhas escolhas/previsões de vencedores, para depois comparar com os resultados da entrega dos Óscares. Mesmo nas categorias em que desconheço os nomeados, não resisto a escolher um favorito, nem que seja por gostar do nome. Aqui ficam os meus óscares para 2006:
Filme
Brokeback Mountain
Capote
Crash
Good Night, and Good Luck
Munich
Actor
Philip Seymour Hoffman em Capote
Terrence Howard em Hustle & Flow
Heath Ledger em Brokeback Mountain
Joaquin Phoenix em Walk the Line
David Strathairn em Good Night, and Good Luck
Actriz
Reese Witherspoon em Walk the Line
Judi Dench em Mrs. Henderson Presents
Felicity Huffman em Transamerica
Keira Knightley em Pride & Prejudice
Charlize Theron em North Country
Actor Secundário
Paul Giamatti em Cinderella Man
George Cloney em Syriana
Matt Dillon em Crash
Jake Gyllenhaal em Brokeback Mountain
William Hurt em A History of Violence
Actriz Secundária
Rachel Weisz em The Constant Gardener
Amy Adams em Junebug
Catherine Keener em Capote
Frances McDormand em North Country
Michele Williams em Brokeback Mountain
Realizador
George Clooney em Good Night, and Good Luck
Paul Haggis em Crash
Ang Lee em Brokeback Mountain
Bennett Miller em Capote
Steven Spielberg em Munich
Argumento Adaptado
Larry McMurtry e Diana Ossana, Brokeback Mountain
Argumento Original
Paul Haggis e Bobby Moresco, Crash
Direcção Artística
Memoirs of a Geisha
Filme de Animação
Moving Castle
Cinematografia
Brokeback Mountain
Vestuário
Memoirs of a Geisha
Filme Documentário
Darwin's Nightmare
Documentário Curto
God Sleeps in Rwanda
Edição
Crash
Filme de Língua Estrangeira
Joyeux Noël (França)
Maquiagem
The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch, and the Wardrobe
Banda Sonora Original
John Williams, Memoirs of a Geisha
Música Original
''In the Deep", Crash
Curta-metragem (animação)
The Mysterious Geographic Explorations of Jasper Morello
Curta-metragem (acção)
Six Shooter
Edição de Som
War of the Worlds
Mistura de Som
War of the Worlds
Efeitos Visuais
War of the Worlds
Nos meus óscares o vencedor da noite seria o "Crash" um filme que já estreou há tanto que já ninguém se lembra dele... Mas era um filme genial e por isso são estas as minhas escolhas!
Há vários anos que tenho a tradição de fazer as minhas escolhas/previsões de vencedores, para depois comparar com os resultados da entrega dos Óscares. Mesmo nas categorias em que desconheço os nomeados, não resisto a escolher um favorito, nem que seja por gostar do nome. Aqui ficam os meus óscares para 2006:
Filme
Brokeback Mountain
Capote
Crash
Good Night, and Good Luck
Munich
Actor
Philip Seymour Hoffman em Capote
Terrence Howard em Hustle & Flow
Heath Ledger em Brokeback Mountain
Joaquin Phoenix em Walk the Line
David Strathairn em Good Night, and Good Luck
Actriz
Reese Witherspoon em Walk the Line
Judi Dench em Mrs. Henderson Presents
Felicity Huffman em Transamerica
Keira Knightley em Pride & Prejudice
Charlize Theron em North Country
Actor Secundário
Paul Giamatti em Cinderella Man
George Cloney em Syriana
Matt Dillon em Crash
Jake Gyllenhaal em Brokeback Mountain
William Hurt em A History of Violence
Actriz Secundária
Rachel Weisz em The Constant Gardener
Amy Adams em Junebug
Catherine Keener em Capote
Frances McDormand em North Country
Michele Williams em Brokeback Mountain
Realizador
George Clooney em Good Night, and Good Luck
Paul Haggis em Crash
Ang Lee em Brokeback Mountain
Bennett Miller em Capote
Steven Spielberg em Munich
Argumento Adaptado
Larry McMurtry e Diana Ossana, Brokeback Mountain
Argumento Original
Paul Haggis e Bobby Moresco, Crash
Direcção Artística
Memoirs of a Geisha
Filme de Animação
Moving Castle
Cinematografia
Brokeback Mountain
Vestuário
Memoirs of a Geisha
Filme Documentário
Darwin's Nightmare
Documentário Curto
God Sleeps in Rwanda
Edição
Crash
Filme de Língua Estrangeira
Joyeux Noël (França)
Maquiagem
The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch, and the Wardrobe
Banda Sonora Original
John Williams, Memoirs of a Geisha
Música Original
''In the Deep", Crash
Curta-metragem (animação)
The Mysterious Geographic Explorations of Jasper Morello
Curta-metragem (acção)
Six Shooter
Edição de Som
War of the Worlds
Mistura de Som
War of the Worlds
Efeitos Visuais
War of the Worlds
Nos meus óscares o vencedor da noite seria o "Crash" um filme que já estreou há tanto que já ninguém se lembra dele... Mas era um filme genial e por isso são estas as minhas escolhas!
Shine On You Crazy Diamond
Was it just a mid-summer’s night dream? Just another dream destined to linger and fade away into the cold shattered mists of a long lost memory?
Time will weather all, like winds over sand dunes. Sandstone is slowly eroded by the hands that slowly shaped this world. But in the heart of the sandstone there is something bright that still glitters, enduring the storm with the hardness of diamond. Will you shatter this diamond? Will you make it shine brighter?
quinta-feira, março 02, 2006
Quintas-feiras Culturais XX
Depois de um longo interregno, o regresso das quintas-feiras culturais, com o grande José Régio. Deixo aqui para vosso deleite, o "Poema do Silêncio". Um pouco longo, mas vale a pena.
Poema do Silêncio
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.
José Régio
Poema do Silêncio
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.
José Régio
CIA - Central Intelligence Agency
quarta-feira, março 01, 2006
Filosofia de Ponta I
Começa aqui uma nova rubrica deste blog. Não sei se virá a ser regular, sazonal ou se se voltará sequer a repetir, a ver vamos. Chama-se "Filosofia de Ponta" e pretende trazer à baila questões pretinentes da vivência do homem moderno, diria mesmo: as questões que realmente interessam. Trata-se de uma rubrica destinada aos bloguistas masculinos, mas caras leitoras, sintam-se à vontade para lerem e comentarem à vontade.
Ora para a "Filosofia de ponta" de hoje, a questão que nos assola à meses, desde que a série estreou. No "Desperate Housewives", Terri Hatcher ou Eva Longoria?
Ora para a "Filosofia de ponta" de hoje, a questão que nos assola à meses, desde que a série estreou. No "Desperate Housewives", Terri Hatcher ou Eva Longoria?
Começando por dizer que só sei que nada sei, deixo a minha humilde escolha à vossa consideração. Eu cá escolhia a Terri.
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