Lembram-se quando a 2, na altura RTP2, começou a transmitir semanalmente, aos domingos, a “Magia da NBA”? Penso que já lá vão pelo menos quinze anos… Ao domingo, depois de almoço, uma hora sagrada em que nós, pobres desgraçados de um país de fim do mundo, podíamos apreciar toda a habilidade das estrelas do campeonato norte-americano de basquetebol.
Comentado pela mítica dupla formada pelo Carlos Barroca e pelo prof. João Coutinho, o programa criou toda uma geração de fãs do basquetebol, num tempo em esse estava longe de ser um dos desportos mais populares em Portugal. O programa incluía sempre meia hora de diferentes rubricas com os melhores momentos da semana, os melhores triplos, os melhores afundanços, os melhores passes, os melhores desarmes de lançamento (ou seriam contras?), e depois seguia para um resumo alargado do melhor jogo da semana.
Acho que o sucesso do programa se deveu a duas coisas, por um lado não estávamos habituados a todo aquele espectáculo a rodear um evento desportivo, desde os separadores com música ao ambiente festivo dos jogos e até a cores berrantes dos equipamentos, bem diferentes dos equipamentos mais sóbrios usados na Europa; por outro lado, o programa apanhou um dos melhores períodos da NBA, em que coexistiram uma série de monstros sagrados do basquetebol.
Era o tempo dos LA Lakers do mágico “Magic” Johnson, os Chicago Bulls do incomparável Michael Jordan, os tão irlandeses Boston Celtics do Larry Bird e do John McLane, os Detroit Pistons do Isiah Thomas e dos seus colegas peritos na defesa que ficaram conhecidos como os “bad boys”, eram os Utah Jazz dos “mailman” Karl Malone e do mestre das assistências John Stockton ou os Portland Trail Blazers do extraordinário Derek Harper. Depois ainda militavam na liga o “one man show” Charles Barckley, então nos Philadelphia 76ers, o desvairado Dennis Rodman, o “almirante” David Robinson e o brilhante Reggie Miller.
Continuo a gostar de ver um bom jogo da NBA, mas já não tem a magia que tinha então, talvez porque grande parte destes nomes já fazem parte do passado do jogo, ou porque tudo aquilo tinha muito mais encanto quanto eu tinha 9 ou 10 anos. Ficou desse tempo o facto de eu ainda hoje tender a torcer pelos LA Lakers, mesmo que o “Magic” já tenha deixado de jogar à mais de uma década.
Mais um blog despretensioso que pretende deixar mais algumas ideias à solta na net. Nunca se sabe quem as irá apanhar...
segunda-feira, fevereiro 27, 2006
Quantos somos?
Quando falamos na população humana, falamos sempre em números grandes, 6 mil milhões, 7 mil milhões, mas quantos seremos realmente? Segundo o Relógio Mundial da População atingimos este fim-de-semana os 6,5 mil milhões, sendo o ritmo actual de crescimento de 1.1% ao ano, resultado de 4,1 nascimentos por segundo contra apenas 1,8 óbitos por segundo. Se quiserem acompanhar de perto quantos somos, podem seguir o vertiginoso crescimento da praga humana aqui.
Baía dos Frangos
Em 1961, 1300 agentes da CIA, tentaram iniciar uma contra-revolução em Cuba, invadindo a Baía dos Porcos, no que se revelou um dos grandes fracassos da política externa americana no século XX. Ontem, o Porto veio à Luz só para naufragar na famosa Baía dos Frangos, um exemplo de um muito pequeno e insignificante fracasso do século XXI.
Aquele homem continua, aos 520 anos, a ser o guarda-redes português que mais espectaculo dá, ainda ontem encheu o estádio da Luz da sua mágia naquela semi-cambalhota com mortal encravado com que se desviou do remate desferido pelo Robert a aproximadamente 3,5 quilómetros da baliza do Porto, garantindo mais uma vez os três pontos para o Benfica.
Em declarações exclusivas para este blog, o seleccionador nacional Filipão Scolari revelou finalmente a verdadeira razão porque se recusa a convocar Baía para a selecção, e passo a citar "Se eu levasse o Baía à selecção, iamos todos correr um perigo tremendo de contágio de gripe aviária, podendo mesmo correr-se o risco de ver a equipa ser proibida de participar no mundial da Alemanha por motivos de ordem sanitária".
Quem falou também ontem a este blog depois do jogo foi o senhor Falulu Marekeke, selecionador nacional do Burkina Faso que voltou a dizer, e passo a citar "Se o Baía continuar a exibir-se a este nível, ponderamos a hipotese de o naturalizar para o pôr ao serviço da nossa equipa B do escalão de gajos quase tão velhos como o papa".
Já o escrevi aqui antes e volto a dize-lo: Vítor, tu és a nossa diversão!
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
A ampulheta estragada
O tempo arrasta-se lentamente. Uma gigantesca ampulheta em que todo os grãos de areia foram embebidos no mais espesso melaço. A respiração arquejante, a alma ferida de morte, cada um sinais de um destino que se apressa em não acontecer. A história triste de um ser que escolheu passar a vida sem viver. Num subterrâneo distante, ou no mais limpido dos céus azuis, algo quase acontecia sem acontecer, um raio de luz que desrespeitava todas as leis decidira ficar parado no ar. Por um momento, por um momento apenas, toda a realidade deixou de existir, um imenso piscar de olho universal. Nos céus de inverno, sob as nuvens de um chumbo opressivo, a vida corria normalmente, chovia e trovejava.
A conspiração
As aves migradoras realizam viagens épicas, são capazes de esforços físicos inacreditáveis para concluir os seus longos voos migratórios. No extremo, os fuselos do Canadá fazem voos directos do Canadá para a Nova Zelândia, numa distância de cerca de 14000 km, ninguém sabe se param alguma vez, algures no meio do Pacífico para descansar. São conhecidos vários casos de aves que viajam 4000 km em apenas 2 ou 3 dias, e no decurso destas maratonas aéreas, chegam a perder metade do seu peso, tal é o dispêndio de energia necessário.
Agora digam-me, se vocês estivessem com gripe eram capazes de correr uma maratona? Obviamente não! É por isso que me custa muito a acreditar na premissa habitual, martelada constantemente pelos serviços noticiosos, de que são as aves migradoras que estão a trazer a gripe das aves para a Europa. Ou seja, mal sentem um pingo no nariz, as aves arrancam para a viagem, voam milhares de quilómetros e chegam à Alemanha mesmo a tempo de caírem mortas com a certeza de terem cumprido os seus pérfidos propósitos: levar o temível H5N1 até à Europa…
Agora outra hipótese, mais simples e crível, mas menos politicamente correcta. O vírus já chegou à Europa há meses, via galinhas e patos domésticos vendidos ilegalmente da Ásia para a Europa. Os produtores querem esconder o facto para não perderem a clientela, os governos não sabem, ou preferem também esconder o facto para evitar alarmismos excessivos, como aqueles a que estamos agora a assistir. Agora, que as pobres aves migradoras começaram a voltar, o histerismo regressou à Europa, um pombo não pode dar um espirro sem que todas as televisões e rádios se acotovelem para o entrevistar, é impossível continuar a esconder essa realidade. As aves chegam, debilitadas pelas longas viagens, contactam com aves domésticas infectadas e apanham a doença, que as mata rapidamente. Nas notícias surgem informações sobre a praga das aves migradoras que chegam à Europa carregadas de gripe…
É uma longa tradição por a culpa no mais fraco. Na Idade Média culparam as bruxas pela Peste Negra, na Alemanha Nazi tudo era culpa dos judeus, nos Estados Unidos, nos anos 50, tudo o que acontecia de mal era culpa de agitadores comunistas. No contexto actual temos as aves migradoras, a lutarem para sobreviver num mundo em que os habitats naturais são cada vez mais raros, os interesses económicos preferiam que elas não existissem, preferiam poder drenar os últimos lagos e estuários, derrubar as ultimas florestas, arrasar as ultimas pradarias. Depois temos as aves domésticas, um produto da nossa sociedade actual, um valiosíssimo recurso económico um pouco por todo o mundo. Se quisermos escolher um bode expiatório, quem seria a melhor escolha, uma galinha que vale 5 euros no mercado, ou um pato selvagem que impede a construção de fábricas e urbanizações porque as agências de conservação da natureza querem proteger o lago onde ele vive?
Agora digam-me, se vocês estivessem com gripe eram capazes de correr uma maratona? Obviamente não! É por isso que me custa muito a acreditar na premissa habitual, martelada constantemente pelos serviços noticiosos, de que são as aves migradoras que estão a trazer a gripe das aves para a Europa. Ou seja, mal sentem um pingo no nariz, as aves arrancam para a viagem, voam milhares de quilómetros e chegam à Alemanha mesmo a tempo de caírem mortas com a certeza de terem cumprido os seus pérfidos propósitos: levar o temível H5N1 até à Europa…
Agora outra hipótese, mais simples e crível, mas menos politicamente correcta. O vírus já chegou à Europa há meses, via galinhas e patos domésticos vendidos ilegalmente da Ásia para a Europa. Os produtores querem esconder o facto para não perderem a clientela, os governos não sabem, ou preferem também esconder o facto para evitar alarmismos excessivos, como aqueles a que estamos agora a assistir. Agora, que as pobres aves migradoras começaram a voltar, o histerismo regressou à Europa, um pombo não pode dar um espirro sem que todas as televisões e rádios se acotovelem para o entrevistar, é impossível continuar a esconder essa realidade. As aves chegam, debilitadas pelas longas viagens, contactam com aves domésticas infectadas e apanham a doença, que as mata rapidamente. Nas notícias surgem informações sobre a praga das aves migradoras que chegam à Europa carregadas de gripe…
É uma longa tradição por a culpa no mais fraco. Na Idade Média culparam as bruxas pela Peste Negra, na Alemanha Nazi tudo era culpa dos judeus, nos Estados Unidos, nos anos 50, tudo o que acontecia de mal era culpa de agitadores comunistas. No contexto actual temos as aves migradoras, a lutarem para sobreviver num mundo em que os habitats naturais são cada vez mais raros, os interesses económicos preferiam que elas não existissem, preferiam poder drenar os últimos lagos e estuários, derrubar as ultimas florestas, arrasar as ultimas pradarias. Depois temos as aves domésticas, um produto da nossa sociedade actual, um valiosíssimo recurso económico um pouco por todo o mundo. Se quisermos escolher um bode expiatório, quem seria a melhor escolha, uma galinha que vale 5 euros no mercado, ou um pato selvagem que impede a construção de fábricas e urbanizações porque as agências de conservação da natureza querem proteger o lago onde ele vive?
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Os malefícios do ensino
Eu não percebo nada de ensino. Passei, tal como a grande maioria de nós, mais de uma década nesse pântano que é o sistema de ensino português, e conseguiria facilmente apontar uma longa lista de defeitos que tem. Mas como, tal como começei por dizer, não percebo nada de ensino, não sei quais são as soluções para esses defeitos, pelo que acho inconsequente por-me aqui a listar problemas sem sugerir soluções para eles.
Dito isto, vou limitar-me a descrever duas situações, completamente distintas, uma passada em Portugal, outra passada em Espanha. Não são sequer remotamente comparáveis, pelo que vou estar a ser injusto para o sistema português, são apenas dois casos, não necessariamente representativos do panorama geral do ensino de cada país, mas fica aqui à vossa consideração.
Um belo dia em Portugal...
Ia eu andar na rua, ali para os lados de Alfama, quando vi uma turma de miúdos do pré-escolar, em plena "visita de estudo". Enquanto os meninos e meninas andavam de mãos dadas, duas professoras iam calmamente a conversar sobre a novela da noita anterior, uma delas ainda por cima a fumar, a terceira professora tinha como tema interessante de conversa massacrar os petizes (que iam até bastante bem comportados), com irritantes criticas dirigidas, imagine-se, na terceira pessoa: "Olhe, Francisco, se você tivesse ido à casa de banho na escola, não precisava de ir agora", "Catarina, feche o casaco que está muito frio", "Despache-se António, dê mão à sua colega para nos despachar-mos". Tremo só de pensar que alguém trate por você uma criança de 4-5 anos. É que não pareciam sequer uma manada de putos betos de algum colégio fino da linha, eram criancinhas perfeitamente normais, de um qualquer infantário alfacinha. Tratar crianças por você? Deviam ter vergonha!
Um belo dia em Espanha
Fui visitar o Museu Rainha Sofia, o principal museu de arte contemporânea de Madrid. Achei o museu fantástico, mas fiquei ainda mais maravilhado quando notei uma turma de crianças, também em idade pré-escolar, que acompanhadas pelas suas professoras tinham direito a uma visita guiada que, de tão boa, me levou a acompanha-las também durante algum tempo. E garanto que aprendi umas coisas. Obviamente ninguém era tratado por você, essa praga não afecta os nuestros hermanos que preferem, como eles dizem, "tutear" toda a gente. O que as professoras (e eram professoras normais, não eram guias especializadas do museu) faziam era passear com as crianças pelo museu sem as chatear muito, deixando-as apreciar os quadros à vontade e incentivando-as a fazer tantas perguntas quantas quisessem. Depois, junto aos quadros mais importantes, sentavam a turma toda no chão, junto ao quadro, e analisavam a obra em conjunto com as crianças. Assisti a isto junto ao "Guernika" o famoso quadro de Picasso. Em vez de atirar informações à cara dos miúdos, a professora ia-lhes perguntando o que achavam deste ou daquele pormenor do quadro, encaminhando lentamente a turma para a compreenssão do seu significado. Perguntavam, por exemplo, qual era a forma dos olhos da mãe que tem um filho morto nos braços. Depois dos miúdos verificarem que tinham a forma de gotas, perguntavam por que seria que o pintor os tinha feito assim. Um dos miúdos sugeriu que talvez quisesse dizer que a mulher estava a chorar (achei brilhante da parte de uma criança de apenas 4-5 anos, que supostamente, segundo as teorias de Piaget, ainda não desenvolveu muito o raciocínio abstracto). Depois, a professora seguiu por aí fora: "Porque estaria a mulher a chorar", "O que teria acontecido à criança", etc. Tenho a certeza que, depois desta visita, aqueles miúdos não só aprenderam imenso sobre arte, como ficaram a apreciar arte, coisa que é bem mais difícil de ensinar!
Não estou aqui a tirar conclusões, estou só a descrever o que vi...
Dito isto, vou limitar-me a descrever duas situações, completamente distintas, uma passada em Portugal, outra passada em Espanha. Não são sequer remotamente comparáveis, pelo que vou estar a ser injusto para o sistema português, são apenas dois casos, não necessariamente representativos do panorama geral do ensino de cada país, mas fica aqui à vossa consideração.
Um belo dia em Portugal...
Ia eu andar na rua, ali para os lados de Alfama, quando vi uma turma de miúdos do pré-escolar, em plena "visita de estudo". Enquanto os meninos e meninas andavam de mãos dadas, duas professoras iam calmamente a conversar sobre a novela da noita anterior, uma delas ainda por cima a fumar, a terceira professora tinha como tema interessante de conversa massacrar os petizes (que iam até bastante bem comportados), com irritantes criticas dirigidas, imagine-se, na terceira pessoa: "Olhe, Francisco, se você tivesse ido à casa de banho na escola, não precisava de ir agora", "Catarina, feche o casaco que está muito frio", "Despache-se António, dê mão à sua colega para nos despachar-mos". Tremo só de pensar que alguém trate por você uma criança de 4-5 anos. É que não pareciam sequer uma manada de putos betos de algum colégio fino da linha, eram criancinhas perfeitamente normais, de um qualquer infantário alfacinha. Tratar crianças por você? Deviam ter vergonha!
Um belo dia em Espanha
Fui visitar o Museu Rainha Sofia, o principal museu de arte contemporânea de Madrid. Achei o museu fantástico, mas fiquei ainda mais maravilhado quando notei uma turma de crianças, também em idade pré-escolar, que acompanhadas pelas suas professoras tinham direito a uma visita guiada que, de tão boa, me levou a acompanha-las também durante algum tempo. E garanto que aprendi umas coisas. Obviamente ninguém era tratado por você, essa praga não afecta os nuestros hermanos que preferem, como eles dizem, "tutear" toda a gente. O que as professoras (e eram professoras normais, não eram guias especializadas do museu) faziam era passear com as crianças pelo museu sem as chatear muito, deixando-as apreciar os quadros à vontade e incentivando-as a fazer tantas perguntas quantas quisessem. Depois, junto aos quadros mais importantes, sentavam a turma toda no chão, junto ao quadro, e analisavam a obra em conjunto com as crianças. Assisti a isto junto ao "Guernika" o famoso quadro de Picasso. Em vez de atirar informações à cara dos miúdos, a professora ia-lhes perguntando o que achavam deste ou daquele pormenor do quadro, encaminhando lentamente a turma para a compreenssão do seu significado. Perguntavam, por exemplo, qual era a forma dos olhos da mãe que tem um filho morto nos braços. Depois dos miúdos verificarem que tinham a forma de gotas, perguntavam por que seria que o pintor os tinha feito assim. Um dos miúdos sugeriu que talvez quisesse dizer que a mulher estava a chorar (achei brilhante da parte de uma criança de apenas 4-5 anos, que supostamente, segundo as teorias de Piaget, ainda não desenvolveu muito o raciocínio abstracto). Depois, a professora seguiu por aí fora: "Porque estaria a mulher a chorar", "O que teria acontecido à criança", etc. Tenho a certeza que, depois desta visita, aqueles miúdos não só aprenderam imenso sobre arte, como ficaram a apreciar arte, coisa que é bem mais difícil de ensinar!
Não estou aqui a tirar conclusões, estou só a descrever o que vi...
domingo, fevereiro 19, 2006
Morbidez lusa
Hoje o país parou para ver um cadáver atravessar metade da zona centro do país. A tal velhinha, que quando tinha dez anos deciciu provar umas bagas maradas ali para os lados de Fátima com os irmão e depois teve uma trip um bocado decontrolada e achou que viu uma virgem que tinha tido um filho de um tal de Espiríto Santo. Já agora, e num a parte, essa deve ser a desculpa mais enfarrapada que alguma mulher alguma vez deu quando enganou o marido, mas de alguma maneira pegou...
Que as pessoas católicas fossem a Fátima prestar homenagem a um símbolo importante das suas crenças, tudo bem. Estamos num país livre, façam o que bem vos apetecer. Mas que as televisões nacionais, nomeadamente a televisão pública, façam especiais de 8h em directo, que se feche um troço da auto-estrada a mais importante do país para passar o carro funerário, isso já me parece algo estranho num país laico.
Todo o fenómeno de Fátima parece-me o exemplo típico do chico-espertismo português. Dava jeito para o pessoal ganhar uns trocos da cena da religião, e nunca foi difícil fazer os portugueses acreditarem que viram coisas que não existem, basta reparar que todos os fins-de-semanas milhões portugueses juram a pés juntos que viram uma falta na área do Benfica e os restantes juram a pés juntos o contrário... e ainda hoje, 6 anos depois, muitos continuam a garantir que o Abel Xavier não jogou a bola com a mão naquela famigerada meia-final do Euro 2000 contra a França (os leitores masculinos saberão bem do que estou a falar!), mesmo depois de cerca de meio milhão de repetições a mostrar o contrário.
Arranjam-se umas testemunhas insuspeitas, os pastorinhos tão inocentes e puros, inventa-se algo de bastante rebuscado, ao que dizem até o Sol se mexeu no céu. Poupem-me, mesmo em Lourdes limitaram-se a dizer que a testemunha falou linguas estranhas e mexeu o corpo de maneiras estranhas, a cena do Sol a mexer é tipicamente portuguesa, temos de ir sempre um bocadinho de longe com as nossas tangas. É um bocado como o pescador que "quase" pescou o robalo de 30 Kg, ou o caçadro que viu um bando de "pelo menos" meio milhão de pombo.
Reduzam a data ao que realmente foi. Hoje milhares de pessoas juntaram-se à chuva e ao vento para verem um cadáver ser transladado de um local para outro. Um hino à proverbial morbidez lusa, o mesmo que nos faz parar parar ver o "sangue e tripas" nos acidentes de viação, que nos faz gostar de falar da crise, se calhar aquilo que nos faz viver em eterna crise nacional. E não estou a dizer que eu seja melhor do que essas pessoas, também estou aqui a perder tempo a escrever isto e passo a vida a pensar em idiotices em vez de agir. Mas se alguém ler isto e pensar: "É pá, realmente, essa cena da transladação da velhota foi um bocado ridícula, fogo, nós os tugas nunca mais aprendemos..." já terá valido a pena.
Que as pessoas católicas fossem a Fátima prestar homenagem a um símbolo importante das suas crenças, tudo bem. Estamos num país livre, façam o que bem vos apetecer. Mas que as televisões nacionais, nomeadamente a televisão pública, façam especiais de 8h em directo, que se feche um troço da auto-estrada a mais importante do país para passar o carro funerário, isso já me parece algo estranho num país laico.
Todo o fenómeno de Fátima parece-me o exemplo típico do chico-espertismo português. Dava jeito para o pessoal ganhar uns trocos da cena da religião, e nunca foi difícil fazer os portugueses acreditarem que viram coisas que não existem, basta reparar que todos os fins-de-semanas milhões portugueses juram a pés juntos que viram uma falta na área do Benfica e os restantes juram a pés juntos o contrário... e ainda hoje, 6 anos depois, muitos continuam a garantir que o Abel Xavier não jogou a bola com a mão naquela famigerada meia-final do Euro 2000 contra a França (os leitores masculinos saberão bem do que estou a falar!), mesmo depois de cerca de meio milhão de repetições a mostrar o contrário.
Arranjam-se umas testemunhas insuspeitas, os pastorinhos tão inocentes e puros, inventa-se algo de bastante rebuscado, ao que dizem até o Sol se mexeu no céu. Poupem-me, mesmo em Lourdes limitaram-se a dizer que a testemunha falou linguas estranhas e mexeu o corpo de maneiras estranhas, a cena do Sol a mexer é tipicamente portuguesa, temos de ir sempre um bocadinho de longe com as nossas tangas. É um bocado como o pescador que "quase" pescou o robalo de 30 Kg, ou o caçadro que viu um bando de "pelo menos" meio milhão de pombo.
Reduzam a data ao que realmente foi. Hoje milhares de pessoas juntaram-se à chuva e ao vento para verem um cadáver ser transladado de um local para outro. Um hino à proverbial morbidez lusa, o mesmo que nos faz parar parar ver o "sangue e tripas" nos acidentes de viação, que nos faz gostar de falar da crise, se calhar aquilo que nos faz viver em eterna crise nacional. E não estou a dizer que eu seja melhor do que essas pessoas, também estou aqui a perder tempo a escrever isto e passo a vida a pensar em idiotices em vez de agir. Mas se alguém ler isto e pensar: "É pá, realmente, essa cena da transladação da velhota foi um bocado ridícula, fogo, nós os tugas nunca mais aprendemos..." já terá valido a pena.
sábado, fevereiro 18, 2006
Voleyball de sexta à tarde
Quem me conhece, sabe que não sobrevivo sem o meu jogo semanal de voley, às sextas feiras. Durante duas horas, o jogo serve para libertar todos os stresses, tensões e frustrações da semana porque durante esse bocadinho sou só eu contra a bola, a minha equipa contra a outra. Os jogos são sempre muito divertidos, até porque somos todos amigos e divertimo-nos imenso durante os jogos, mas o melhor de tudo é durante aquele bocado não pensar em mais nada que não seja arranjar maneira de ganhar o próximo ponto.
Era tão bom se tudo na vida fosse tão simples, se tudo funcionasse com um conjunto de regras simples e bem definidas à partida: a bola não pode bater no chão no nosso campo, cada equipa só tem três toques para colocar a bola no campo adversário, um jogador nunca pode tocar duas vezes consecutivas na bola...
Simples e divertida, era assim que a vida deveria ser!
Depressão
A angústia atemoriza
A vida amarga
A felicidade morre
A solidão esmaga
A alegria esvai-se
A dor viciaA vida amarga
A felicidade morre
A ansiedade sofoca
O sonho liberta
O dia encarcera
A noite alonga-se
A realidade dilacera
O riso engana
A lágrima esconde-se
A existência atormenta
A condição anula-se
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Manias
O desafio foi-me lançado pela minha amiga bloguista Lótus Azul:
Enumerar cinco manias, hábitos muito pessoais que nos diferenciem.Escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo reproduzir este "regulamento" no blogue.Agora as MANIAS:
1) Quando ando sobre uma chão em mosaico, andar sempre sobre os quadrados da mesma cor. Caso sejam todos da mesma cor, evitar pisar as linhas que separam os quadrados. O mesmo se aplica a passadeiras.
2) Mexer nas sobrancelhas. Sempre que estou distraido, por exemplo agora, a olhar para o monitor a pensar na próxima mania, começo a “catar” as sobrancelhas cuidadosamente. Talvez seja por isso que tenho uma sobrancelhas tão farfalhudas...
3) Nunca desatar os sapatos. Alguns pares de ténis que tenho só foram atados uma vez, no primeiro dia em que os usei, nunca faço nós muito apertados de maneira que consigo sempre calçar e descalçar os sapatos sem ter de estar sempre a atar e desatar nós.
4) Arranjar sempre uma maneira altamente metafórica e rebuscada para dizer o que quero dizer. Passa a vida a acontecer-me, em vez de dizer simplesmete o que quero ou o que sinto, arranjo uma maneira tão complicada de o fazer que muitas vezes não me compreendem...
5) Nunca, mas mesmo nunca, escrever nos livros. Nem que seja a lápis, recuso-me determinantemente a escrever num livro, nem mesmo nos livros da escola. Se o fizesse sentir-me-ia como alguém que tivesse acabado de violar algo de sagrado
As cinco pessoas que tenho de escolher para desafiar serão: o Filipe, o Gemini, a Nokas, a JuAna e a Ana. Fico à espera das vossas manias.
Enumerar cinco manias, hábitos muito pessoais que nos diferenciem.Escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo reproduzir este "regulamento" no blogue.Agora as MANIAS:
1) Quando ando sobre uma chão em mosaico, andar sempre sobre os quadrados da mesma cor. Caso sejam todos da mesma cor, evitar pisar as linhas que separam os quadrados. O mesmo se aplica a passadeiras.
2) Mexer nas sobrancelhas. Sempre que estou distraido, por exemplo agora, a olhar para o monitor a pensar na próxima mania, começo a “catar” as sobrancelhas cuidadosamente. Talvez seja por isso que tenho uma sobrancelhas tão farfalhudas...
3) Nunca desatar os sapatos. Alguns pares de ténis que tenho só foram atados uma vez, no primeiro dia em que os usei, nunca faço nós muito apertados de maneira que consigo sempre calçar e descalçar os sapatos sem ter de estar sempre a atar e desatar nós.
4) Arranjar sempre uma maneira altamente metafórica e rebuscada para dizer o que quero dizer. Passa a vida a acontecer-me, em vez de dizer simplesmete o que quero ou o que sinto, arranjo uma maneira tão complicada de o fazer que muitas vezes não me compreendem...
5) Nunca, mas mesmo nunca, escrever nos livros. Nem que seja a lápis, recuso-me determinantemente a escrever num livro, nem mesmo nos livros da escola. Se o fizesse sentir-me-ia como alguém que tivesse acabado de violar algo de sagrado
As cinco pessoas que tenho de escolher para desafiar serão: o Filipe, o Gemini, a Nokas, a JuAna e a Ana. Fico à espera das vossas manias.
Amanhecer
O toque suave do Sol matinal despertou-o cuidadosamente. Ele abriu os olhos, lentamente, aspirando as primeiras impressões do novo dia. Olhou para o lado e viu-a. Ainda adormecida, calma como um dia de Primavera, ela dormia ali ao lado. A luz da manhã, levemente esbatida pelas cortinas cerradas, desenhava a sua face com ténues pinceladas numa tela em branco. A luz evidenciava cada detalhe dela, cada curva, cada linha, cada tom da sua pele, e ele olhou-a longamente. Olhou-a cuidadosamente. Meio envergonhado, analisou lentamente cada contorno das suas feições, cada pormenor desta visão doce como o trinado de um rouxinol. Memorizou-a como se temesse nunca a voltar a ver.
Ainda envolta nas nuvens do seu sono, viajando no país distante dos sonhos, algum pensamento alegre deve ter percorrido a sua mente, pois na sua face esboçou-se um sorriso. No peito dele o seu coração sorriu também. Por um momento teve a certeza que o mundo era perfeito.
Ainda envolta nas nuvens do seu sono, viajando no país distante dos sonhos, algum pensamento alegre deve ter percorrido a sua mente, pois na sua face esboçou-se um sorriso. No peito dele o seu coração sorriu também. Por um momento teve a certeza que o mundo era perfeito.
Raízes
Quando ando no campo, atrás dos pássaros com que trabalho, é absolutamente essencial o rádio sempre ligado. Nos últimos dias, descobri um programa genial, na Antena 2, por volta da hora de almoço. Chama-se Raízes e apresenta-nos músicas tradicionais de diferentes países, músicas quase de certeza ninguém conhece, mas quase sempre excelentes. Ainda hojem passaram músicas de Madagáscar e do Cazaquistão, no outro dia tinham focado a Finlândia e Guadalupe. Muito bom mesmo, aconselho vivamente a experimentarem ouvir um dia.
Os loucos de Lisboa
Espero não ser mal intrepertado neste post, vou tentar explicar-me bem. Não acham que os loucos das ruas são um aspecto importante da identidade de uma cidade? Não existe como que um conforto estranho na ideia de sabermos que eles existem, de sabermos onde os vamos encontrar e de os conhecermos?
Se calhar digo isto porque sempre suspeitei que um dia, no futuro, eu vou ser um deles. Mas à algo de fascinante e poético nesses loucos que andam nas ruas, a anunciar o fim do mundo, a discutir o preço da chuva, a chamar nomes às àrvores, ou simplemente a dizerem boa tarde a quem passa. Não que eu não tenha penas destas pessoas, que tantas vezes vivem em situações de grande solidão e angustia, ou mesmo em condições de profunda miséria, claro que seria melhor se não fossem loucos, se tivessem uma casa e uma família e vivessem felizes. Mas olhando para a cidade como um todo, pensando de fora, sem pensar nos indivíduos, à algo de reconfortante em saber que na esquina junto ao Júlio de Matos estará sempre um senhor a conversar com a árvore, que no Saldanha está aquele senhor vestido de branco a dizer olá aos carros que passam, que na Rua do Cruzeiro, na Ajuda, onde eu vivia antigamente, está sempre lá o senhor que todos, mas todos os dias me pedia cigarros, por mais que eu lhe dissesse que não fumava, e que me desejava bons dias em todos os dias que me via, mesmo quando eu não lhe oferecia uma bolacha em troca do seu sorriso.
De alguma forma, os loucos da cidade enriquecem a cidade de Lisboa, dão-lhe um toque de fascinio que, aliás, já foi notado antes, ou não existiria aquela música sobre eles:
Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao sorrir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios correm para o mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal
Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã
Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.
João Monge / Ala dos Namorados
Se calhar digo isto porque sempre suspeitei que um dia, no futuro, eu vou ser um deles. Mas à algo de fascinante e poético nesses loucos que andam nas ruas, a anunciar o fim do mundo, a discutir o preço da chuva, a chamar nomes às àrvores, ou simplemente a dizerem boa tarde a quem passa. Não que eu não tenha penas destas pessoas, que tantas vezes vivem em situações de grande solidão e angustia, ou mesmo em condições de profunda miséria, claro que seria melhor se não fossem loucos, se tivessem uma casa e uma família e vivessem felizes. Mas olhando para a cidade como um todo, pensando de fora, sem pensar nos indivíduos, à algo de reconfortante em saber que na esquina junto ao Júlio de Matos estará sempre um senhor a conversar com a árvore, que no Saldanha está aquele senhor vestido de branco a dizer olá aos carros que passam, que na Rua do Cruzeiro, na Ajuda, onde eu vivia antigamente, está sempre lá o senhor que todos, mas todos os dias me pedia cigarros, por mais que eu lhe dissesse que não fumava, e que me desejava bons dias em todos os dias que me via, mesmo quando eu não lhe oferecia uma bolacha em troca do seu sorriso.
De alguma forma, os loucos da cidade enriquecem a cidade de Lisboa, dão-lhe um toque de fascinio que, aliás, já foi notado antes, ou não existiria aquela música sobre eles:
Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao sorrir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios correm para o mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal
Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã
Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.
João Monge / Ala dos Namorados
terça-feira, fevereiro 14, 2006
De Humani Corporis Fabrica
No século XVI, Andreae Vesalii chocou o mundo com o seu livro de anatomia De Humanis Corpore Fabrica. Essencialmente conhecido pela descoberta da circulação sangínea, Vesalius foi na verdade um dos primeiros naturalistas a sugerir que o corpo humano funciona como uma máquina, uma máquina extramente complexa, mas limitada aos mesmo príncipios fisico-químicos que regem qualquer outra máquina.
Esta visão, tão contrastante com os ideais bem mais espitualistas da época, alida ao facto de o seu trabalho se ter baseado na cuidadosa dissecação de inúmeros cadáveres humanos, não o fez ganhar de certo muitos amigos, mas foi esta ideia que veio a servir de base para toda a medicina moderna, tendo os rápidos avanços da fisica e da química nos séculos subsequentes permitido à biologia compreender em grande medida o funcionamento destas nossas máquinas corporais.
Somos máquinas altamente sofisticadas e autosuficientes, capazes de garantir a nossa sobrevivência com base apenas em água, ar, nutrientes e uma temperatura relativamente amena. Depois, as miriades de células, corpusculos, vesículas, vasos, glândulas, orgãos, etc. garantem um funcionamento regular.
No entanto...
Se uma destas máquinas é deixada sozinha por muito tempo, rapidamente enlouquece, perde a razão e põe por vezes em causa a sua sobrevivência.
Muitas máquinas, sem que isso interfira com a sua sobrevivência, decidem exterminar a existencia de outras máquinas só porque sim.
As vezes, só porque uma máquina não está presente, outra destas máquinas deixa de funcionar correctamente. As papilas gustativas continuam lá mas a comida deixa de ter sabor, a retina continua lá mas as cores perdem intensidade, os termoreceptores da pele deixam de sentir o calor do Sol, a máquina continua viva, mas limita-se a sobreviver.
Podemos ser só máquinas, mas somos ainda muito mais complexos do que aquilo que muitas vezes pensamos.
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Profetas há muitos
Por causa deste inocente cartoon, andam a incendiar embaixadas, tumultos nas ruas, guerras de palavras, problemas diplomáticos, etc. Por favor!!
Será que alguém pode explicar a essa gente um conceito muito curioso, a liberdade de expressão? É mais ou menos assim: todos os seres humanos são livres, independentemente da raça, credo, sexo, posição política, idade, etc. A forma mais pura, mais revolucionária e mais evoluída de liberdade é a liberdade de expressão. Foi uma das ideias mais revolucionárias de toda a história da humanidade, o conceito de que as pessoas tinham o direito de dizerem o que pensam, de o falarem, de o escreverem, de o desenharem...
As nossas opiniões podem ser estupidas, ignorantes, absurdas, extremistas, erróneas, infelizes ou até boas, mas acima de tudo, temos o direito a tê-las e esse direito não pode nunca voltar a ser retirado às pessoas. Reparem que se todas as pessoas tiverem liberdade de expressão, quem não está de acordo com uma opinião tem também o direito de o dizer, gerar-se-ia assim um saudável debate de ideias, em principio mutuamente enriquecedor para os dois lados.
Voltando agora ao tal cartoon, a piada pode ser de mau gosto, pode ter sido infeliz, mas ninguém. NINGUÉM, tem o direito de proibir o seu autor de o publicar onde quer que seja e muito menos têm o direito de o fazer por meios violentos. Podem criticar, podem repudiar, podem dizer tanto mal quanto quiserem, mas terão sempre de aceitar a liberdade do autor do cartoon se exprimir desta forma.
Infelizmente, em muitos países árabes as pessoas desconhecem ainda a ideia de liberdade de expressão, assim como não entendem o conceito de um estado laico, onde as pessoas são livres de escolher a sua religião. E por isso acham que um cartoon desenhado por um inocente cartoonista dinamarquês é um ataque civilizacional à sua fé. Talvez não saibam que na Europa eu tenho, felizmente, a liberdade para desenhar um cartoon a gozar com Maomé, com Jesus Cristo, com Buda, Shiva, ou com qualquer divindade, sem que daí advenha mal ao mundo. Os crentes dessas religiões estariam então no seu direito de me criticarem, de repudiarem o meu desenho, mas não me poderiam nunca proibir de o fazer.
A liberdade de expressão é uma daquelas poucas boas ideias que surgiram ao longo da nossa história, não a venham agora querer destruir por causa de um profeta qualquer. Se reparem bem, profetas à muitos, agora liberdade, liberdade à só uma e o que eu mais desejo é que possa chegar a todos!
Será que alguém pode explicar a essa gente um conceito muito curioso, a liberdade de expressão? É mais ou menos assim: todos os seres humanos são livres, independentemente da raça, credo, sexo, posição política, idade, etc. A forma mais pura, mais revolucionária e mais evoluída de liberdade é a liberdade de expressão. Foi uma das ideias mais revolucionárias de toda a história da humanidade, o conceito de que as pessoas tinham o direito de dizerem o que pensam, de o falarem, de o escreverem, de o desenharem...
As nossas opiniões podem ser estupidas, ignorantes, absurdas, extremistas, erróneas, infelizes ou até boas, mas acima de tudo, temos o direito a tê-las e esse direito não pode nunca voltar a ser retirado às pessoas. Reparem que se todas as pessoas tiverem liberdade de expressão, quem não está de acordo com uma opinião tem também o direito de o dizer, gerar-se-ia assim um saudável debate de ideias, em principio mutuamente enriquecedor para os dois lados.
Voltando agora ao tal cartoon, a piada pode ser de mau gosto, pode ter sido infeliz, mas ninguém. NINGUÉM, tem o direito de proibir o seu autor de o publicar onde quer que seja e muito menos têm o direito de o fazer por meios violentos. Podem criticar, podem repudiar, podem dizer tanto mal quanto quiserem, mas terão sempre de aceitar a liberdade do autor do cartoon se exprimir desta forma.
Infelizmente, em muitos países árabes as pessoas desconhecem ainda a ideia de liberdade de expressão, assim como não entendem o conceito de um estado laico, onde as pessoas são livres de escolher a sua religião. E por isso acham que um cartoon desenhado por um inocente cartoonista dinamarquês é um ataque civilizacional à sua fé. Talvez não saibam que na Europa eu tenho, felizmente, a liberdade para desenhar um cartoon a gozar com Maomé, com Jesus Cristo, com Buda, Shiva, ou com qualquer divindade, sem que daí advenha mal ao mundo. Os crentes dessas religiões estariam então no seu direito de me criticarem, de repudiarem o meu desenho, mas não me poderiam nunca proibir de o fazer.
A liberdade de expressão é uma daquelas poucas boas ideias que surgiram ao longo da nossa história, não a venham agora querer destruir por causa de um profeta qualquer. Se reparem bem, profetas à muitos, agora liberdade, liberdade à só uma e o que eu mais desejo é que possa chegar a todos!
domingo, fevereiro 05, 2006
IKEA - A vida familiar
Os meus pais queriam comprar um móvel, para o meu irmão arrumar a sua infitamente longa colecção de CDs (pirateados). Assim, vieram ter comigo a Lisboa e toca de ir a família toda ao IKEA.
Encontramos facilmente a secção dos móveis para CDs, depois do que passamos cerca de 2h numa agradável discussão familiar, que só por pouco não envolveu cenas de pugilato e destruição de propriedade alheia ao melhor estilo dos filmes de Hollywood, para tentarmos escolher qual o melhor móvel para as nossas necessidades. O preço, a utilidade e a estética eram os principais argumentos, a que se acrescenta o "E se eu te partisse a porra do móvel nos cornos, oh puto estupido" nas partes da discussão entre mim e o meu irmão.
Depois de escolhido o móvel, lá continuamos o nosso caminho, cada um repetindo diversas vezes:
"Isto é fantástico, que organização, se alguma vez os portugueses eram capazes de fazer algo assim" (o meu pai)
"Olha que cozinha tão gira" (a minha mãe)
"Quando é que nos vamos embora" (o meu irmão)
"Os gajos do IKEA são uns porcos capitalistas, isto está tudo feito para lixar os pobres proletários" (Eu)
Ah, como eu gosto destas actividades em família! Resta dizer que depois fomos para casa construir o móvel e ficamos todos amigos outra vez...
Encontramos facilmente a secção dos móveis para CDs, depois do que passamos cerca de 2h numa agradável discussão familiar, que só por pouco não envolveu cenas de pugilato e destruição de propriedade alheia ao melhor estilo dos filmes de Hollywood, para tentarmos escolher qual o melhor móvel para as nossas necessidades. O preço, a utilidade e a estética eram os principais argumentos, a que se acrescenta o "E se eu te partisse a porra do móvel nos cornos, oh puto estupido" nas partes da discussão entre mim e o meu irmão.
Depois de escolhido o móvel, lá continuamos o nosso caminho, cada um repetindo diversas vezes:
"Isto é fantástico, que organização, se alguma vez os portugueses eram capazes de fazer algo assim" (o meu pai)
"Olha que cozinha tão gira" (a minha mãe)
"Quando é que nos vamos embora" (o meu irmão)
"Os gajos do IKEA são uns porcos capitalistas, isto está tudo feito para lixar os pobres proletários" (Eu)
Ah, como eu gosto destas actividades em família! Resta dizer que depois fomos para casa construir o móvel e ficamos todos amigos outra vez...
Medicina assim, sim!
Foi divulgado esta semana um estudo médico que indica que olhar durante 5 minutos por dia para umas belas mamocas é benéfico para o coração. Ora este brilhante estudo levanta toda uma série de questões:
a) Onde é que nos inscreve-mos para ser cobaias nestes estudos?
b) Qual é a instituição que financia estudos destes?
c) Se na próxima visita ao meu cardiologista eu lhe falar deste estudo, poderá ele sugerir uma nova aproximação terapêutica para o meu ligeiro problema na valvula aórtica?
d) Será que a Playboy e revistas afins vão passar a poder entrar no IRS como despesas médicas? e) A notícia não explicava se este efeito era só em homens ou não. Se não, será que o facto de as mulheres se puderem auto-medicar olhando-se simplesmente ao espelho explica porque razão os problemas cardíacos têm maiôr incidência nos homens?
Como só quero o melhor para os meus amigos e outros leitores deste blog, quero proporcionar-vos alguns momentos salutares, benéficos para o vosso coração:
a) Onde é que nos inscreve-mos para ser cobaias nestes estudos?
b) Qual é a instituição que financia estudos destes?
c) Se na próxima visita ao meu cardiologista eu lhe falar deste estudo, poderá ele sugerir uma nova aproximação terapêutica para o meu ligeiro problema na valvula aórtica?
d) Será que a Playboy e revistas afins vão passar a poder entrar no IRS como despesas médicas? e) A notícia não explicava se este efeito era só em homens ou não. Se não, será que o facto de as mulheres se puderem auto-medicar olhando-se simplesmente ao espelho explica porque razão os problemas cardíacos têm maiôr incidência nos homens?
Como só quero o melhor para os meus amigos e outros leitores deste blog, quero proporcionar-vos alguns momentos salutares, benéficos para o vosso coração:
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