Cá está mais uma quinta-feira cultural. Hoje um poema do António Gedeão, o poeta cientista. Porque a esperança é sempre a última a morrer...
Dez réis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
5 comentários:
um email que segue o anterior ou que contrasta?
(sou fãzérrima das quintas feiras culturais)
hj n vou ver museus, vou ver se consigo eventualmente ir ver o nosso presidente da republica que esta ca. ha comes e bebes d graça! venham todos, era o k dizia o cartaz! ai jesus! ser tuga emigrante... :p
n era email k keria dizer. trabalhar e ver blogs ao mesmo tempo tem destas coisas... era post! era post!!!! leia-se post onde diz email!
relaxa nokas, a malta leu logo post à primeira... as gralhas são aos montes de todos nós que isto de estar com um olho no burro (chefe) e outro no cigana (blogs) dá esse lindo resultado. Gosto do António Gedeão. Isto de um poeta estar ligado às ciências e não às artes ou às letra, dá um resultado muito cru e curioso. Havia um poema dele que descreve o bulício na cidade, que eu achava muito interessante. Começava mais ou menos desta maneira: Esta é a cidade e é bela. Pela ocular da janela foco o sémen da rua. Um formigueiro se agita, se esgueira...(e por diante).não sei porquê mas imaginava sempre que ele estava numa janela do Rossio a escrever aquilo, e parecia-me perfeito
Se por acaso viram o "Alice", aquele filme português que está agora nos cinemas, a imagem que lá mostram da cidade de Lisbopa ajusta-se na perfeição a esses versos do António Gedeão que tu referes.
Quanto às gafes, isto é a net, a ideia é ser um ambiente relaxado, liberal e sem regras, portanto, ninguém precisa de se desculpar por causa disso.
Bem bonito, meu caro Pedro. Abraço alienado!
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