terça-feira, setembro 20, 2005

Edukação Social


Ontem fui ver o filme “Os Edukadores”, um filme alemão que recomento bastante. Adorei o filme, tem um espírito muito sixties, não no sentido pindérico do “flower power” e afins, mas mais num contexto de Maio de 68, a revolução como expressão máxima da alienação juvenil.
O filme conta a história de três jovens alemães que, nos nossos dias, que decidem começar uma revolução contra o sistema capitalista que perverteu as nossas democracias e condena milhões a uma vida miserável para que alguns privilegiados vivam na abundância e no luxo. Não vou contar aqui a história do filme, mas vão ver porque vale a pena.
É um daqueles filmes que nos deixa a pensar. A pensar a sério. A pensar na nossa sociedade, a pensar na nossa vida, a pensar naquilo que fazemos e não devíamos fazer, naquilo que não fazemos e devíamos fazer. Convém deixar já aqui uma ressalva: o pessoal de direita escusa de ir ver o filme porque não vai sequer perceber o sentido do filme.
Por exemplo, com que frequência é que se lembram que num sistema capitalista global, é necessária uma África miserável e a passar fome, uma América latina em constante tumulto e uma Ásia Central violentada dos seus recursos para garantir a razoável qualidade média de vida dos Europeus e Norte-Americanos. Por cada televisão que temos em casa são mais umas bocas que ficam por alimentar num qualquer recanto do terceiro mundo. Isto pode parecer absurdo mas é verdade. O sistema assenta no princípio de que os recursos não chegam para todos, pelo que para alguns terem muito é necessário que outros não tenham nada. Claro que isso é cada vez mais agravado pelo crescimento da população. Quando penso nisto, enoja-me a ideia de que por vezes, por comodismo, vou de carro para o trabalho quando podia ir de transportes. Claro que não sou rico, muito longe disso. Mas sou infinitamente abastado, quando comparado com os desgraçados de tantos países (alguns já aqui em Portugal) que não têm mesmo nada. E o que é que eu faço em relação a este estado de coisas? Nada, absolutamente nada. O mínimo que posso fazer é conhecer esta realidade e divulga-la.
E tudo isto para que? Para vivermos com uma carrada de bens materiais de que não precisávamos à partida, mas de que a sociedade nos ensinou a depender. Olhem o telemóvel. Há 10 anos ninguém tinha telemóvel, porque é que agora não sobrevivemos sem um (ou dois, ou três)? E já pararam para pensar se a televisão acrescenta alguma coisa à nossa felicidade, ou se serve apenas para preencher o tempo morto, de maneira a não termos de pensar nos nossos problemas. Alguns dos maiores génios da humanidade viveram num mundo sem Internet, sem televisão e sem telecomunicações instântaneas, mas mesmo assim isso não os impediu de se tornarem os grandes vultos que foram. Agora, com tudo isto a nosso favor, não passamos de zombies anestesiados pelo portento da nossa tecnologia. Alguém viu a MTV nos últimos tempos? Se aquela programação não é desenhada para débeis mentais parece muito!
Não estou a dizer que devemos abandonar a tecnologia, longe de mim tal ideia, aliás seria hipócrita da minha parte, visto que hoje não estaria vivo se não tivesse sido operado (mais um exemplo de um avanço da tecnologia) com apenas um mês de vida. Só estou a dizer que pensar na vida de vez em quando, em vez de ficar especado à frente da TV a ver o ultimo vómito da TVI, pode ser uma boa ideia. Se olharem para o passado, todos os problemas que surgiram no nosso caminho foram ultrapassados pela força das ideias e da crença num mundo melhor. Não será agora que estamos apetrechados de todo este manancial de conhecimento e técnica que vamos ficar parados a ver o mundo ruir sobre as bases de um sistema económico corrupto e desumano, varado pelo caos da sobre-população e da catástrofe ambiental. Pessoalmente não acredito que alguma fez resolvamos satisfazmente estes problemas. Os ricos vão continuar a querer ser mais ricos e o mundo irá inevitavelmente cair no caos, os recursos vão começar a falhar e a guerra, as doenças e a degradação ambiental vão, potencialmente, destruir toda a humanidade no processo. Mas não faz parte da minha maneira de ser parar de acreditar, por um momento que seja, que temos de lutar até ao fim. Porque tenho a certeza que, no final, este é um jogo que não podemos ganhar, mas é precisa cair a lutar, até ao último fôlego, de outra maneira a vida não faria sentido.

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