Foi a loucura! Não sei se foram os longos 11 anos de espera, se foi o campeonato super-disputado até à última, se foi só o estravazar de alegria em milhões de adeptos, mas a noite de ontem foi algo de memorável.
No meu caso, tudo começou no Parque das Nações. A rua dos bares, cheia. Milhares de adeptos vestidos de vermelho, pintados de vermelho, banhados em vermelho. O nervosismo era muito e a incerteza grande, mas a confiança era, apesar de tudo, elevada. Começam os jogos e ouvem-se os primeiros aplausos, parece que o Braga marcou, é bom sinal, eles também jogam de vemelho! Depois os 3 golos do Nacional em Alvalade ajudaram a alegrar os ânimos, enquanto se começavam a multiplicar os cânticos de apoio à equipa. Parecia que estavamos no estádio. Depois, a primeira verdadeira manifestação de euforia. Golo do Benfica! Mas a festa durou pouco, o Boavista marcou logo a seguir e tudo voltava à estaca zero. Entretanto, o Porto ia jogando contra a Académica, mal e porcamente como já vai sendo hábito. Ensaiei um grito de apoio à Académica: Brioooooosa! Briooooooosa! Durante 30 segundos todos fomos da Académica.
A segunda parte foi-se alongando. Os nervos aumentavam, as unhas diminuiam. O Benfica ia falhando golos e o nó no estômago ia-se complicando. "Isto ainda vai acabar mal" regurgitavam os profectas da desgraça. O Porto marcou golo. Praticamente ninguém reagiu. "Por mim tanto me faz, até podem marcar 10 desde que nós não percamos".
O jogo caminhava perigosamente para o final e o Benfica tardava em marcar o golo da segurança, a qualquer momento o Boavista podia num lançe furtuito oferecer o título ao Porto... e de repente, minuto 90, um burburinho começa a levantar-se por entre a multidão. "O que foi?" perguntava-se. "Foi no Porto?" Finalmente soou o grito que todos queriamos ouvir: "Foi golo, foi da Académica!" A reacção foi indescrível, gritou-se, saltou-se, chorou-se, todos os cachecois esvoaçavam sobre as cabeças, nas faces era agora já uma certeza: "Vamos ser campeões."
Os cânticos multiplicavam-se, "ninguém pára o Benfica" gritava-se já aos céus. Os últimos momentos do jogo passaram num frenesim de festa contida, já ninguém via o jogo, suspeito que já ninguém o jogava também. Finalmente a vitória era nossa.
Apito final. Abraços, beijos, apertos de mão, chapadas amigáveis e todas as outras formas que temos de exprimir sentimentos. Todos os braços no ar, poucos pés no chão. A loucura descia à cidade. Gritava-se pelo Benfica, gritava-se por Portugal, gritava-se por Cabo Verde, Angola e Moçambique, gritava-se até pela Académica, nossa aliada nestes instantes finais de sofrimento. A festa era nossa, ninguém nos ia calar.
Digo ao meu amigo: "Rapido vamos para o carro sair daqui se não é o caos!". Apesar da nossa pressa, já encontrei o meu carro rodeado de viaturas alegremente engalanadas de vermelho, com buzinas e pulmões a estravazarem todo o barulho que conseguiam. Pessoas que nunca antes se tinham visto congratulavam-se, por um dia a buzina não era a arma da guerra do trânsito mas sim o veículo do reconhecimento mutuo, se buzinas és do Benfica, eu vou buzinar porque também sou. Decidimos ir ter com mais amigos que já se juntavam no Marquês de Pombal, habitual centro das festividades desportivas. Felizmente deixei o carro muito longe, não havia outra hipotese. Nas avenidas em torno da rotunda, o trânsito já não existia, tudo era um mar de gente, em tons vermelho e branco. Todos gritavam, todos cantavam, todos eramos hoje irmãos. No Marquês, a loucura. Pessoas empoleiradas por toda a estátua, pessoas em cima das árvores, em cima de carros, até em cima de paragens de autocarro. De um lado um grupo dançava gritando "slb, slb", do outro anunciava-se que "quem não bate palmas é tripeiro", alguns entoavam já o mitico "We are the Champions" dos Queen. Os polícias, longe de estarem a ter problemas, eram antes convidados a fazer parte da festa, chegando até a tirar fotografias junto das hostes frenéticas, eles próprios com cachecois vermelhos sobre os ombros. "Isto é tudo boa gente, é tudo do Benfica" gritava alguém.
Já reunidos em grupo, alguém sugeriu irmos até ao Estádio da Luz, a noite era divina, estava na hora de visitar a catedral da nossa religião. Fomos de metro. Todo o metropolitano vibrava. As carragens abanavam com os saltos de centenas de passageiros enlouquecidos, as galerias escuras ecoavam os cânticos da noite. Noutro dia o condutor teria proibido as pessoas de fazerem tal confusão, mas há muito que todos tinham percebido que este não era um dia como os outros. As mãos estavam já vermelhas de tanto bater palmas, as gargantas já roucas de tanto gritar, e eis que chegámos à Catedral. Um onda humana vermelha envolvia já o edifício. Rapidamente descobrimos que as portas de acesso ao estádio estavam abertas. Entrámos, chegara a hora da comunhão.
Lá dentro, 55 mil gargantas gritavam até ficar sem voz "Benfica, benfica, benfica" de mil maneiras diferentes. O espéculo improvisado pelo clube, diga-se, era fraquinho. Que raio de musicos eram aqueles? Mas a verdade é que bastava chegarem lá e gritarem qualquer coisa acabado em "benfica" que todo o estádio lhes respondia. O espectáculo fazia-se por si.
Uns dos últimos a entrar, estes sim músicos já bem conhecidos, os Da Weasel, arracaram para uma curta intrepetração do seu principal sucesso, mas a meio decidiram elevar a fasquia da festa. "Agora vamos gritar mais alto para o Pinto da Costa nos ouvir". Não sei se ele nos ouviu, mas até o estádio pareceu vibrar em festa.
Pouco depois (entretanto já eram 4 da manhã), chegaram os jogadores. Os vencedores que foram buscar o título à cidade do adversário. Um por um foram chamados e sublimemente ovacionados. Era a consumação de uma noite de festa incrivel. pode ser que para o ano haja mais, até pode haver mais já para a semana, mas até lá fizemos por aproveitar.
Ser benfiquista
É ter na alma
A chama imensa
Que nos conquista
E leva à palma
A luz intensa
Do Sol que lá no céu
Risonho vem beijar
Com orgulho muito seu
As camisolas berrantes
Que nos campos a vibrar
São papoilas saltitantes
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