Já lá vão duas semanas desde que vi o "Hotel Ruanda", um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. Fui ver um pouco com o pé atrás, porque apesar da crítica favorável suspeitei da presença de alguns nomes pesados de Hollywood (Nick Nolte e Joaquin Phoenix) que podiam fazer prever uma as habituais pahaçadas cheias de bandeiras americanas e heróis de trazer por casa. Nao se tratando de um filme de guerra, mas sim de uma história focada numa personagem particular apanhada no rebulíço trágico da guerra civil no Ruanda, o filme é agraciado pela visão, talvez mais intimista, do cinema não hollywoodesco (trata-se de uma parceria canadiano-anglo-italo-sulafricana), sendo o resultado final excelente.
O filme trata a história verídica de Paul Rusesabagina, o gerente do tal Hotel Ruanda, que por um misto de acaso, desespero, coragem e grande humanidade, salva cerca de um milhar de refugiados Tutsis que fogem aos massacres levados acabo pelos Hutos. São de realçar as grandes interpretações dos dois actores principais: Don Cheadle (no palel de Paul Rusesabagina) e de Sophie Okonedo (no pale da sua esposa, Tatiana Rusesabagina)
O filme retracta bem o horror dos massacres, sem nunca exagerar na violência mostrada nos ecrãs, mas deixando antever em breves vislumbres o que se passou. Mais do que pela violência física, somos afectados pela injustiça e pela descriminação absurda, que por vezes se torna quase sufocante, assim como somos perturbados pela forma como os poderes internacionais se movem e podem facilmente salvar ou deixar morrer centenas de milhares.
Ficamos também com uma instrutiva noção da história recente do Ruanda, que se assemelha tanto à de outros países africanos: durante o período colonial, o Ruanda foi belga, tendo os belgas criado os conceitos de Tutsi e Huto, duas etnias que nunca existiram, mas que foram criadas pelos pseudo-antropologos do período colonial, com base em leves diferenças no tom de pele e nas medidas da cabeça e, imagine-se, das narinas. Os tutsis eram usados pelos belgas para governar o país, de forma autoritária, contra a maioria Huto, o que levou a que logo após a descolonização tenham sido destituidos de poder e reduzidos a um papel secundário na sociedade, agora liderada pelos Hutos que sempre aspiraram a excluir os tutis do país. A história é mais complexa pois involve ligações étnicas e políticas aos países circundantes, mas básicamente, a guerrilha tutsi começou uma longa guerra civil contra as forças Huto, tendo-se finalmente chegado ao ponto em que, fruto de anos de propaganda e de instigação ao ódio, as milícias urbanas de Hutos (Interhame) decidiram começar o exterminio sistemático de todos os hutos no país.
Não vou agora contar como é a história do filme e como se insere neste contexto, mas deixo apenas um conselho: vejam o filme, é imperdível.
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