Mais um blog despretensioso que pretende deixar mais algumas ideias à solta na net. Nunca se sabe quem as irá apanhar...
sexta-feira, dezembro 30, 2005
Sem título
Venha daí 2006 com mais corrupção, com mais escândalos, com mais injustiça, com mais desgraças que é disso que o povão gosta! Basta ver que o telejornal mais visto é o TVI...
Em nome do ano novo, que é jovem e ainda não sabe ao que vem, vou amenizar o tom, só para lembrar que o dia 1 de Janeiro, tal como todos os outros, é "o primeiro dia do resto da tua vida".
Boas entradas e melhores saídas, porque este inevitável insatisfeito só volta à blogosfera em 2006. Até para o ano!
The End
Não quero com isto denegrir a música, que até é das minhas favoritas, e sempre ajuda a melhorar o pior post da história deste blog. No comments please!
quinta-feira, dezembro 29, 2005
Quintas-feiras culturais XVI
Esperança
Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade
Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?
Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.
Almada Negreiros
quarta-feira, dezembro 28, 2005
The Simpsons
Que coisa curiosa são as fotografias
Que curiosa coisas são as fotografias. Agora, na era digital, o contacto com as fotos já não é tão íntimo, à sempre a distância necessária dos “objectos” que estão do lado de lá do ecrã. O pior defeito da fotografia digital é que acabamos por olhar menos para as fotografias, um slide show para as ver, outro para mostrar aos amigos e acabamos por ficar por aqui.
Ontem à noite estava sozinho em casa, supostamente a trabalhar. Distraidamente, abri a pasta das minhas fotografias, no computador. Comecei a ver o manancial de momentos irrepetíveis e, alguns, inesquecíveis que por lá andam. Amigos que já não vejo há muito tempo, outros que vejo todos os dias mas já não me lembrava de ter visto naquelas situações, fotos de pessoas que na altura ainda não eram amigas, até fotos de pessoas muito especiais de quem não me lembrava ter fotografias.Fiquei perdido em devaneios revivalistas durante muito tempo, quanto não sei, só sei que quando parei já eram bem horas de me ir deitar! Tanto revivalismo, devo estar a ficar velho, os velhos é que vivem o presente a relembrar o passado. Se calhar são as fotografias que nos fazem velhos. E se calhar ser velho não é assim tão mau. Lá chegarei um dia, por agora ainda tenho muitos momentos para fotografar. Que coisa curiosa são as fotografias.
terça-feira, dezembro 27, 2005
Letargia Invernal
Começou o Inverno. Oficialmente os dias já começaram a crescer. Começaram a crescer, mas o corpo ainda não os nota maiores. A letargia adensa-se e a vontade de nada fazer vai pesando sobre tudo o que faço. Acho que é a forma de o meu corpo me dizer: "Vai mas é hibernar! Voltamos a falar na Primavera." Hoje invejo os ursos.
Se fico assim aqui, no nosso país ensolarado, o que seria de mim num Inverno escandinavo? Numa noite de meses, entrecortada por períodos de cinzento em que o Sol parece tão distante como se estivesse numa galáxia longínqua. Ao menos aqui vemos o Sol, mas ainda assim estes dias curtos não me satisfazem. Deixam-me vago e vazio, incapaz de me concentrar. Hoje sou um farrapo de mim.
Só me apeteçe enrroscar-me debaixo dos cobertores e abandonar-me a um dolce fare niente por dois ou três meses. Era bom, mas não pode ser. Tenho de trabalhar...
Pollock
Porque o Pollock era o típico génio louco e, segundo o filme, ia alternando os períodos em que o génio vencia, com outros em que era o louco o dominante. Vivia naquele mundo cinzento, a que eu gosto de chamar a angústia do criativo, numa infinita luta interna entre a vontade de criar e a certeza de que a suas criações nunca vão corresponder às suas expectativas. Na verdade acho que é isso que leva os génios à loucura. São geniais, no entanto, a sua genialidade torna-os infinitamente autocríticos, nada do que produzem consegue atingir os píncaros de perfeição que exigem a si mesmos, pois a realidade nunca consegue corresponder aos devaneios de uma mente brilhante.
No filme, e tenho a certeza que na realidade também era assim, Pollock chegava a passar semanas, a olhar para uma tela vazia, perdido em dúvidas sobre a sua qualidade como pintor, para depois, em pouco tempo, produzir uma obra genial num dos tais momentos em que o génio vencia o louco.
Quantos aos quadros, os tais das respingas não gosto muito, alguns são interessantes, mas não fazem muito o meu estilo, mas antes dessa fase ele pintava coisas abstractas menos estranhas e nesse período pintou quadros realmente geniais.
Moby Dick por Jackson Pollock
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Estamos chumbados
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Feliz Natal!
quinta-feira, dezembro 22, 2005
Quintas-feiras Culturais XV
Uma criança perguntou O que é a erva? estendendo-me
as mãos cheias dela;
Como poderia eu responder-lhe? Não sei mais que ela.
Talvez seja a bandeira do meu sentir, tecida com os verdes
fios da esperança.
Ou talvez seja o lenço do Senhor,
Uma prenda perfumada, uma lembrança intencionalmente
perdida com um nome bordado num dos cantos, para que
ao vê-lo possamos perguntar: De quem é?
Suponho que a própria erva seja uma criança, o filho da
vegetação.
Ou talvez seja um hieróglifo uniforme
que significa: Broto de igual forma em campos largos e estreitos,
Cresço entre os negros tal como entre os brancos,
Entre os Kanuck e os Tuckahoe, entre os congressistas e os
negros, dou-lhes o mesmo
E deles recebo o mesmo.
E agora parece-me ser a longa e bela cabeleira dos túmulos.
ternamente te usarei, ondulada erva,
Talvez transpires no peito dos jovens,
Talvez eu os tivesse amado, se os tivesse conhecido,
Talvez sejas dos velhos, ou dos meninos prematuramente arrancados
Ao regaço das mães,
E aqui és o regaço das mães.
Esta erva é muito escura para pertencer à cabeça grisalha das mães,
Mais escura do que a barba sem cor dos anciãos,
Escura demais para brotar do céu-da-boca, vermelho e pálido.
Ah, eu conheço afinal tantas línguas,
E sei que não brotam em vão do céu-da-boca.
Walt Whitman
Desconcertante, não? Bonito mas desconcertante.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Mensagem subliminar...
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
NÃO VOTEM NO CAVACO!
A sério pá, o mostrengo não pode voltar para nos azucrinar, esse tipo de coisas só acontecem nos filmes de terror, não na realidade!
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Óh mar salgado
O vento rasgava a superfície espelhada do mar como uma paixão violenta. Por entre as nuvens negras da tempestade, enormes massas de água elevavam-se muitos metros acima do barco, gigantes de água, com dentes de espuma e hálito salgado. O barco, uma pequena escuna de madeiras negras, parecia inevitavelmente perdida enquanto o capitão continuava corajosamente atrás da roda do leme.
Abandonado pela sua tripulação, o velho lobo-do-mar esperava o momento porque tinha ansiado toda a sua vida, destino último de um verdadeiro capitão, o dia em que acompanharia o seu barco na viagem final até ao fundo do oceano. De súbito tudo se desenrolou finalmente, a tempestade esmagou enfim a resistência do navio, com uma velocidade estonteante só comparável à lentidão com que tudo se passou na mente do capitão.
O casco quebrou, o grande mastro, que já fora um imponente carvalho numa floresta nortenha, quebrou pela raiz, sucumbindo ao assalto final das ondas. Finalmente perdido, o capitão, ele que dissera um dia que o mar era a sua única paixão e que sonhava com o dia em que se afogaria no seu leito azul como nunca se havia afogado no leito de nenhuma mulher, ele cujos olhos perscrutantes rivalizavam apenas com as rugas salgadas, profundamente sulcadas pelos ventos do alto, pensou apenas por um segundo: “Depois da tempestade, virá a bonança”.
Morreu nos braços desse mar que tanto amara, olhando ainda a superfície, onde viu um último vislumbre de claridade antes de cair para a abissal escuridão que o devorou.
Sobre o mar a tempestade amainou, as sombrias nuvens apartaram-se, permitindo às estrelas reencontrarem o seu reflexo na superfície do mar cinzento.
Cão como nós
Este é o Sting, o meu cão! Podia dizer que é o cão mais inteligente do mundo, o mais divertido, mais fixe, mais giro ou até mais o mais comilão, ele é tudo isto certamente, mas acima de tudo é o meu cão!
Pode ser só um cão, mas é um verdadeiro companheiro quando quero de companhia, um verdadeiro amigo quando quero um, ou apenas um cão, quando é apenas isso que quero. Grande Sting!
sábado, dezembro 17, 2005
Os gajos dos Audis
Passando agora ao assunto deste post, já repararam que 9 em cada 10 alarvidades cometidas nas ruas de lisboa começam num gajo que conduz um Audi. Quer dizer, há outros suspeitos do costume: BMWs e Mercedes por um lado, e por outro Seats Ibiza e Fiats Punto com aquelas alterações revoltantemente horrorosas a que os pintas gostam de chamar tunning, mas os condutores dos Audis são reis e senhores da barbárie automóvel citadina.
Não são tanto as infrações graves, e, verdade seja dita, não causam muitos acidentes, o meu problema é mais com a atitude dessa gente. Meterem-se à bruta na fila do lado, "não repararem" que só a fila da direita (que está entupida) serve para ir para onde querem ir e por isso ultrapassarem tudo para no final se meterem à má fila, em geral aproveitando o lapso de tempo em que uma velhinha deixa o carro ir abaixo na bicha. Depois à clássica situação das ruas em que duas faixas se reduzem a uma só... claro que muitas pessoas usam a regra simples de passar ora um carro de uma faixa, ora um da outra, os condutores dos Audis não. Como são muito importantes, e tempo deles é mais importante que o dos outros, passam à frente de tudo e todos, mantendo sempre uma cara de indignação enquanto evitam olhar para o condutor a quem roubaram o lugra, como quem diz "prefiro nem me dignar a olhar para a fuça deste inutil que aqui vem num mini a tentar passar à frente do meu Audi".
Depois à o estacionamento. Na quinta-feira ia a descer a rua que vai do Rato para S. Bento. Num certo ponto da rua deparo-me com um lindo espectaculo. Trânsito parado, tudo a buzinar e a gritar, ninguém conseguia passar, ou só passavam com muita dificuldade e alguma diplomacia, porquê? Porque apesar de haver um lugar mesma à porta de uma certa pastelaria, o dono de um Audi topo de gama, que foi a essa pastelaria, tinha estacionado o carro não no lugar, mas no meio da estrada, mesmo ao lado do lugar de estacionamento. E como tinha os quatro piscas postos, não deve ter visto necessidade de vir à rua tirar o carro parqa resolver o caos de trânsito que tinha provocado. Resta dizer que estive ai parado quase dez minutos até conseguir passar o tal Audi (com umas terriveis ganas de sair do carro e de lhe partir aquela merda toda!) e o digno condutor, ou condutora, nem se deu ao trabalho de sair da pastelaria para ver o que se passava cá fora.
Sugestão de prenda de Natal: um lança-misseis para instalar no meu carro! muhahahahaha...
sexta-feira, dezembro 16, 2005
Gosto de A a Z
Gosto de Brincar. Gosto de brincar porque tudo o que há de bom em nós já cá estava quando éramos crianças e brincávamos.
Gosto de Cinema. Gosto de passar duas horas numa sala escura, perdido dentro de uma história que não é a minha.
Gosto de Dormir. Gosto de me aconchegar sob cobertores e lençóis e perder-me num sono cheio de sonhos.
Gosto de Elipses. Gosto de elipses porque são muito mais redondas que os quadrados, mas não se acham perfeitas como os círculos.
Gosto de Florestas. Gosto de passear na floresta e sentir a vida florescer à minha volta.
Gosto de Guloseimas. Gosto porque sou guloso, gosto de bolos, de pudins e de mousses, de tudo o que é doce.
Gosto do Horizonte. Gosto de olhar o horizonte e sonhar com o infinito que está para além dele.
Gosto do Inverno. Gosto de ver os ventos a imporem a sua força, de árvores sem folhas e de ver o mar cinzento elevar-se em ondas de grande altura.
Gosto de Jogar. Jogar futebol ou jogar voleibol, às vezes também basquetebol. Com amigos, à sexta-feira, grandes jogatanas.
Gosto da Lua. Gosto de ver a lua cheia nascer, sobre uma planície alentejana, numa noite cálida de Verão.
Gosto do Mar. Gosto de cheirar o mar, de ver o mar, de sentir o mar. Não sou capaz de viver sem ter o mar por perto.
Gosto de Nadar. No mar ou na piscina, gosto de sentir o meu corpo bem leve, na água, e de sentir o líquido fresco na minha pele.
Gosto de Objectivos. Gosto de ter objectivos, de ter uma ideia, ainda que vaga, do que vou fazer a seguir.
Gosto de Pássaros. Gosto de todos, mas sobretudo das minhas limícolas, com bicos compridos e as patas de molho.
Gosto de Queijo. Queijo da serra, queijo das ilhas, queijo alentejano… Hum, um queijinho, pão e azeitonas são às vezes a melhor parte da refeição.
Gosto de Rádio. Gosto de ouvir rádio, sobretudo quando ando de carro sozinho.
Gosto do Sol. Gosto de acordar com o Sol a brilhar na minha cara.
Gosto de Ti. Sim de Ti. De facto não há nada de que eu goste mais. Talvez devesse um dia dizer-te isto.
Gosto do Universo. Gosto do Universo e dos seus mistérios, estrelas, galáxias, planetas e buracos negros.
Gosto do Verão. Gosto do tempo quente, de ir à praia e mergulhar no oceano.
Gosto de Xisto. Gosto de ver lâminas de xisto bem negro na paisagem. Rochas bem quentes, ao Sol, sobretudo à beira dos rios e ribeiras do Sul.
Gosto do Z, do Z de zebra, do Z de zoologia, do Z que é a última letra do alfabeto mas consegue às vezes ser a primeira.
Toranja
Half Full
“What are you doing honey?” Asked his wife as she saw him filling the fourth glass with vodka. “Delaying death sweetheart, just delaying death” he answered.
“What do you mean?” Replied the woman, staring with an empty gaze at the half-full glasses on the table.
“Just doing what everybody else does… for as long as we live” The man delivered his answer with the cold certainty of an empty mind.
sábado, dezembro 10, 2005
Negros são os corvos da cor do carvão...
Depois de ter lido alguns excertos do famoso poema "The Raven" de Edgar Allan Poe, fiquei com vontade de ler o poema completo. Não foi muito difícil, uma busca simples no google devolveu logo dezenas de páginas com o poema na íntegra. É demasiado longo para reproduzir aqui e hoje não é quinta-feira, mas aconselho vivamente a quem não conhecer esta obra de Edgar Allan Poe a seguir este link para ler o poema. "The Raven", ou "O Corvo", em português, já serviu, por exemplo, de base a um episódio dos Simpsons num dos miticos Halloween Specials, mas não é por isso que mereçe ser lido. Fantástico pelo conteúdo, mas ainda mais interessante pela musicalidade que tão naturalmente surge na língua inglesa, mas que tão difícil é de encontrar na língua de Camões, é mesmo um poema extraordinário!
A corrida de 100 metros
Linha de partida, eu contra várias versões de mim próprio. Largada a corrida pelo tiro de partida arrancava em grande estilo, só para tropeçar nos meus atacadores ao fim de poucos metros, escorregava, caía com grande estrondo, mas conseguia equilibrar-me com alguma espectacularidade, e retomar a corrida antes de perder muito balanço. Concentrava-me na corrida, sentia a adrenalina a fazer o coração bombear fortemente o sangue para os meus musculos, punha todo o meu empenho em cada passada, toda a minha força de vontade canalizada para o objectivo que me obssecava os sentidos. Corria desalmadamente até estar já próximo da meta. Incrivelmente, achava-me em primeiro e o único resultado possivel parecia ser a vitória.
Quando me prepavara já para levantar os braços e receber em jubilo as aclamações do público, um dos meus adversários gritava:" Tás mas é parvo, alguma vez tu vais conseguir isso, tudo na tua imaginação meu caro, se a meta tivesse já ai já tinhas chocado com ela". Desamparado pela surpresa, em vez de atravessar a meta corria para o lado, chocava contra os meus alter-egos aversários, caíamos todos numa amalgama de pernas e braços, a escassos centimetros da meta, sem nunca lá chegar... Nas bancadas o público não sabia se deveria rir ou chorar.
O mais estranho é que só quando começo a achar que vou perder a corrida é que a calma se apodera de mim como um porto de abrigo. Era tão mais fácil se os resultados da corrida saissem no jornal do dia anterior...
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Purple Haze
Graças a esse grande milagre dos tempos modernos que é o E-Mule, a colecção de música que acumulo no computador já vai numas interessantes 101h. Isso implica que algumas músicas são raramente ouvidas. Ultimamente ganhei o hábito de ligar o Media Player e deixar o computador correr a biblioteca de músicas aleatoriamente. Às vezes ligo o programa e começa uma música que já não ouvia à bastante tempo. É um pouco como reencontrar um velho amigo!
Ontem cheguei a casa exausto, liguei o computador mais para ouvir música do que para fazer qualquer outra coisa. Eis que o Media Player deita cá para fora o grande Jimy Hendrix a tocar o mítico “Purple Haze”. Grande música! Aquele homem tocava a guitarra como ninguém, sou incapaz de não ficar aqueles quase 3 minutos a apreciar os acordes que ele tira do instrumento.
Viva o E-Mule e a cultura para todos! Viva o Hendrix e a sua guitarra!
Grande Benfica!
quarta-feira, dezembro 07, 2005
Quintas-feiras culturais XIV
Circo de Feras
A vida vai torta
Jamais se endireita
O azar persegue
Esconde-se à espreita
Nunca dei um passo
Que fosse correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo
E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto
De modo que a vida
É um circo de feras
E os entretantos
São as minhas esperas
E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto.
Xutos e Pontapés
Se quiserem apreciar um verdadeiro poema, dêm um salto ao blog do meu amigo queirosene, o Apocalipse Já, onde ele pôs um poema lindíssimo de Miguel Torga que tive bastante vontade de plagiar por aqui...
terça-feira, dezembro 06, 2005
O diabo em pessoa
Meus caros, contra todas as minhas crenças, acabei de ter informação exclusiva de que o diabo existe. Chamasse Condoleezza Rice e anda agora pela Europa a dizer que não faz mal torturar árabes desde que sejam terroristas, se bem que segundo ela os EUA nunca torturaram prisioneiros... Pois, e eu sou o Pai Natal!
Esta tipa é a criatura mais assustadora à face da terra, muito mais que o imbecil do Bush ou que o sacana do Rumsfeld. O mais terrível é que se percebe que ela é extremamente inteligente e que sabe exactamente aquilo que anda a fazer, ou seja é o mal na sua essência mais pura. Estou para aqui quase a dar para o místico... Mas esta gaja é escória humana do nível mais baixo.
Raiva! Tanta bala gasta neste mundo a matar inocentes e ninguém lhe enfia uma por entre os olhos? Que criatura mais peçonhenta!
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Pontos de inflexão
Se tudo correr bem já todos pararam de ler por aqui.
Agora observem o grafico típico de uma parábola, de função x quadrado:
Este é o modelo matemático para o clássico "bater no fundo". A curva desce a pique, acalma um pouco no final, bate no fundo e, ultrapassado o ponto de inflexão, recupera, primeiro lentamente e depois mais depressa, até voltar ao topo. A boa notícia aqui é que tudo o que desce sobe.
Depois à outra hipótese, outra curva que tem algumas semelhanças, mas uma grande diferença. Observem o gráfico da função x ao cubo:
O que aqui acontece é que atingido o "fundo", a curva desacelera, parece até estabilizar no "fundo", só para depois acelerar vertiginosamente na direcção do que está para lá do fundo, algo a que um matemático chamaria tender para menos infinito!
Neste segundo caso não existe um ponto de inflexão, é mais estilo "Highway to Hell" ao som dos riffs roufenhos e agressivos dos AC/DC.
Substituam os pontos dos gráficos pelo nosso estado de espírito em cada dia e depois venham cá dizer se a matemática não se aplica à vida! Ás vezes o que precisamos é de pontos de inflexão, antes que o x ao cubo tome conta de nós...
And the Oscar for the most demented post goes to... ME!
domingo, dezembro 04, 2005
Os Filmes da minha Vida
E assim, em directo do Salão Neuronal, na Avenidade Nervosa entre o hipotálamo e o cortex frontal do cérebro do Pedro, apresentamos em directo, a gala dos "Filmes da minha Vida".
1. O Império do Sol, simplesmente genial, o horror tragico da 2ª guerra mundial visto pelo olhar de uma criança. A cena em que o miúdo canta o hino do Japão é dos melhores momentos da história do cinema.
2. Forest Gump, uma história bonita que no fundo é uma satira bem negra ao ideal do sonho americano. Run Forest, run.
3. Contacto, A maravilha da maior descoberta da história da ciência, inspirada num livro desse grande divulgador de ciência que foi o Carl Sagan. Com uma muito grande Jodie Foster.
4. Os Condenados de Shawshank, A mais brilhante história de prisioneiros alguma vez contada.
5. O Pianista, Um filme com muito poucas palavras, muito poucos diálogos, mas com uma das melhores interpretações da história do cinema do Adrien Brody. Um dos pouquissimos filmes que me fez chorar!
6. American History X, Negro mais negro não há. Uma viagem aos horrores da america moderna.
7. Platoon, O melhor filme de guerra alguma vez feito?
8. Apocalipse Now, Um pesadelo psicadélico em que a guerra é apenas o pano de fundo. E que banda sonora monumental.
9. Senhor dos Anéis, Para mim, os 3 filmes são um só, uma magistral adaptação da mais fabulosa aventura fantástica alguma vez escrita.
10. Alien, um dos melhores filmes de ficção científica de sempre. E haverá algum monstro mais perturbadoramente monstruoso?
11. Monty Python and the Holy Grail, o mais delicioso non-sence dos grandes Monty Python.
12. Cidade de Deus, A mais dura das realidades, no país de toda a alegria. Ainda por cima falado em Português (açucarado).
13. Mente Brilhante, o amor e a razão face à mais triste das doenças. E ainda por cima aconteceu na realidade.
14. Adeus Lenine!, inteligente, brilhante e uma magnifica visão de um dos momentos mais marcantes da História recente da Europa.
15. Philadelphia, um Tom Hanks absolutamente brilhante, num filme duro sobre uma realidade inquietante.
Existencialismo aos 25
Em 25 anos não se aprende muito, mas como fiz anos, dá-me para o existencialismo e para as dúvidas existenciais. Decidi organizar em adágios aquilo que aprendi à cerca da vida neste quarto de século. Aqui fica:
1 .
A vida é um conjunto de ideias,
pensamentos largados ao mar, perdidos no espaço,
sentidos na carne com o fulgor de um ferro em brasa.
2.
A vida é a maior paixão dos apaixonados
a maior dos dor dos deprimidos
a maior esperança dos amotinados.
3.
A vida é uma longa espera,
um lento definhar para um final inevitável,
o seu resultado final em muito depende daquilo que aprendemos
com aqueles que vamos encontrando pelo caminho.
4.
A vida é um caminho tortuoso,
quanto mais rapidamente o percorremos
mais depressa lhe encontramos o fim.
5.
A vida é uma amora silvestre,
às vezes rubra mas azeda
pode rapidamente tornar-se negra mas doce,
só raramente a achamos rubra e doce.
6.
A vida pode ser o mais divinal dos doces,
mas temos de acrescentar algum açucar nosso.
7.
A vida é um grande mistério,
a mais bela criação do Universo.
Há que aproveitar o pouco a que temos direito.
8.
A vida pode ser um sono recheado de sonhos,
ou um inferno de mil pesadelos,
cabe-nos encontar um rumo entre estes dois extremos.
9.
A vida são todos os pequenos nadas,
tudo aquilo que se passa
entre as ocorências a que costumamos dar importância.
10.
A vida é uma rota de destinos perdidos,
uma meta de propósitos inacabados,
uma memória de lembranças esquecidas.
11.
A vida? A vida, meus caros,
a vida é aquilo que fazemos dela!
Só capaz de ter escrito aqui uma verdade ou duas, só tenho pena de eu próprio não respeitar estes adágios na minha própria vida...
Já agora só mais um, tirado de um dos meus filmes favoritos, o "Forest Gump": Life is a box of chocolates, you never know what you're gonna get.
sexta-feira, dezembro 02, 2005
Homenagem à Bondade Pública
Eu estava numa rua de pouco movimento, mas ainda assim, passaram por mim uns 20 carros e talvez umas 10-15 pessoas a pé, eu estava ao lado do carro e o carro tinha o capôt aberto. Adivinhem quantas pessoas se deram ao trabalho de me perguntar se eu precisava de ajuda?
Exactamente zero! Aliás, algumas até olhavam de lado como se eu estivesse ali a prejudicar o bem estar delas.
Realmente eu não precisava de ajuda. Mas será que sou só eu que costumo perguntar às pessoas se precisam de ajuda quando as vejo com problemas no carro? Será que custa assim tanto abrir um pedacito o vidro do carro e verificar se a pessoa está enrrascada?
Eu sei que hoje em dia toda a gente tem assistência automóvel, e telemóvel para pedir ajuda, mas ainda assim...
...ainda bem que os lisboetas são umas criaturas assim bondosas e preocupadas com o próximo.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
Quintas-feiras Culturais XIII
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
Feriado? Qual feriado?
E o mais deprimente da situação é que sou eu quem, neste momento, define os meus horártios de trabalho... vida de biólogo é dura!
Aguardem para dentro de momentos a quinta-feira cultural numero XIII...
terça-feira, novembro 29, 2005
Astrologia da batata
Ora então, eu sou sagitário, ou seja nasci quando o Sol andava perto da constelação Sagittarius (o que ele andava por lá a fazer não sei...). Agora vejam no mapa que constelações são vizinhas dessa: Aquila (águia), Ara (arara), Grus (grou) e Microscopium (microscópio). Agora reparem na subtiliza, eu sou biológo (gajo que usa microscópios) e estudo aves... e ainda por cima sou do Benfica. E depois, não muito longe, ainda estão as constelações Cygnus (cisne) e Corvus (corvo), mais duas avezinhas. No resto do mapa astral inteiro só à mais uma constelações cujo nome lembra uma ave, mas essa mitológica, a Phoenix (fénix), portanto, como diria numa linguagem cientifica, à uma concentração significativamente superior de constelações com nomes de aves na zona próxima do meu signo do que no resto do céu.
Vou mas é dedicar-me à astrologia!!
segunda-feira, novembro 28, 2005
Post número 100
Antecipando uma má notícia na estranheza da situação, sinto a adrenalina fluir nas minhas veias enquanto a respiração acelera e o coração dispara. Num instante, o som electrónico do acordar do aparelho cede o lugar à monotonia da chuva electrostática. Desapontamento.
Visto-me a correr e corro para as ruas. Uma escuridão asfixiante tomou conta das ruas, como se o dia anterior fosse um sonho há muito esquecido. Folhas outonais cobrem as pedras da calçada, ainda húmidas da chuva que horas antes dera as boas noites à cidade. Começo a perceber que a escuridão não é total, há como que uma penumbra, um véu escuro que tolda a coloração natural de tudo o que me rodeia.
Subo a rua, desço a rua, nos passeios nem vivalma, ao longe, nenhum um farol tenta penetrar o escuro tom da cidade. Lembro-me de telefonar a um amigo, só para verificar, já sem grande espanto, que o telemóvel não tem rede. Desço a rua a correr, enquanto a leve sensação de pânico começa a tomar os contornos de um enorme elefante em fúria. Na minha pressa ansiosa, escorrego no musgo das pedras e caio, um trambolhão digno de umas boas gargalhadas.
Levanto-me, atordoado com a queda, confundido pela escuridão, penso ver um vulto mover-se na esquina. Levanto-me, sacudindo as calças sujas com um gesto que tem tanto de mecânico como de fútil. Na esquina, o agoiro adensa-se. Um gato morto, um gato preto morto. Começo a pensar que fui parar a um filme do Ingmar Bergman, na verdade, com tanta escuridão, tudo parece ser matizado nos infinitos tons de cinzento dos filmes a preto e branco. Inconscientemente, imagino um espectro de capa e capuz preto que se aproxima de mim com a foice dos condenados.
Olho à volta. Nada. Lembro-me que não é a morte que me atemoriza, pelo menos não a minha. Desço as escadas a quatro e quatro só para me encontrar novamente no início da descida. Alto lá! A que tipo de Universo paralelo surreal é que eu vim parar? De repente, tudo faz sentido. Estou a sonhar. A certeza da minha convicção permite-me um momento de infinito alívio. Estou a sonhar.
Esforço-me para acordar. Tento abrir os olhos mas já estão abertos, tento sentir o doce conforto dos cobertores mas só consigo sentir o frio que me toca como dedos mórbidos na escuridão. Cada vez mais assustado, procuro a salvação no proverbial beliscão. Nada. Não acordo. Isto não é um sonho. O pânico esmaga-me como uma imensa onda que rebenta numa falésia. Volto a correr, subo a rua enquanto contenho um grito atroz no silêncio da minha garganta.
Lembro-me da estação de comboios, próximo de minha casa. No buliçoso centro dos transportes citadinos a animação é sempre muita, terá de haver por lá alguém. Volto a descer as escadas, cuidadosamente desta vez. É com cuidadosa alegria que verifico conseguir chegar à rua de baixo. Tudo parece igual ao que ali existia na véspera, apenas deserto e penumbroso. Corro para a porta de entrada na estação enquanto reparo que o enorme relógio, que há anos certifica a pontualidade dos comboios, anuncia as 9:30.
Olho o meu próprio relógio que continua a apontar a mesma hora. Os relógios estão parados. Volto a minha atenção para o telemóvel, o pequeno símbolo da sociedade moderna insiste na hora 9:30. Desconcertado, paro um momento para pensar. Como pode isto ser, os relógios de ponteiros podem parar, mas o relógio do telemóvel é controlado por um chip, pelo deus de silício da nova religião da humanidade, enquanto tiver electricidade irá continuar a contar o tempo, e se o telemóvel está ligado existe electricidade. Como nota mental, ponho de parte os cenários trágico-hollywoodescos do pulso electromagnético que segue a explosão da bomba nuclear. Por um momento ínfimo permito-me um sorriso, mesmo neste momento de crise e desespero a minha mente continua afinadamente racional.
Rapidamente caio em mim. O meu raciocínio não me aproximou nem um pouco da solução para o labirinto absurdo a que vim parar. Os relógios pararam, mesmo os que nunca param. Avanço os últimos passos até à estação de comboios. É já sem grande surpresa que deparo com os terminais completamente vazios, como se nunca ser humano algum ali tivesse estado. Desalentado, desconcertado, perdido numa realidade que não era a minha, sento-me num banco e olho o infinito.
Recomeço a minha busca, agora dentro de mim. Pesquiso nas minhas memórias uma explicação para o fenómeno que se me deparou. Quando tudo o resto falha, chego à única explicação que me satisfaz. Enlouqueci. Perdi a razão e deixei de ter noção do que me rodeia. Tento abarcar as desmedidas implicações de tal sina. Procuro um local sólido, na areia movediça, onde prostrar uma fundação para os meus pensamentos.
Perdido nestes devaneios, sinto que se passam horas enquanto me sento no banco a olhar para uma parede branca. Digo sinto pois nada prova que o tempo realmente passa. Nada se move, nada se passa, não há um som que encha o vazio pressentido pelos meus sentidos. Penso em dormir, talvez ao acordar tudo esteja de volta ao normal. Deito-me e fecho os olhos, mas nunca antes me sentira tão disperto como naquele momento. Enfadado com o fracasso do meu plano, levanto-me num salto e recomeço a minha busca.
Parvoíce. Claro que não enlouqueci. Os meus pensamentos parecem-me tão claros como sempre. Caminho ao longo de mais uma rua escura, acompanhado apenas pelo som ritmado dos meus passos. Ao fim de alguns metros convenço-me de que estou a ser seguido. O meu perseguidor cuida os seus passos de forma a soarem exactamente como os meus, aproveita as sombras para se ocultar. Olho para trás de repente, na esperança de o surpreender. Resultou. Denunciou-se com um leve movimento. Atrás de um automóvel que parecia nunca ter conhecido a alegria da mobilidade, um modelo antigo cuja cor, há muito esquecida, dificilmente se distinguia da penumbra que tudo o resto cobria. Espreito o espaço atrás do carro.
O meu perseguidor estava lá. Envolto numa capa andrajosa, cinzento para melhor se confundir com o resto do mundo, um homem idoso devolveu-me o olhar com orbes de um cinzento-esverdeado profundo. Quem és tu? Perguntei, sem saber se queria conhecer a resposta. Olhou para mim como uma tarde de Outono que anuncia a chegada do Inverno. Sou só mais um. Respondeu ele. Só mais um que foi esquecido pelo tempo, abandonado aqui como um órfão da luz e da vida.
Sem compreender as suas palavras, voltei a perguntar. Quem és? Em vez de responder, olhou para mim com ar de espanto, tombando a cabeça alguns graus para a esquerda. De repente, começou a rir, primeiro com suavidade, pausadamente, depois cada vez mais ruidosamente, gargalhada após gargalhada o som fez-me lembrar uma avalanche numa imensa montanha de seixos rolados, primeiro caí um, depois dois, quatro, cem, mil, até toda a montanha tombar no chão com um estrondo ensurdecedor. Riu durante vários minutos, até se calar de súbito, como se uma mão invisível lhe tivesse tapado a boca. Depois começou a chorar. Lágrimas correram em catadupa pelas suas faces. Gota após gota percorreram o terreno sulcado pelas rugas, memórias fugidias de uma vida já esquecida. Chorou até as poças esverdeadas das suas íris parecerem o leito seco de um ribeiro que depois de um longo Verão enxuto espera avidamente as primeiras águas do Outono.
Sem saber o que dizer, sem saber o que fazer, olhei para ele e esperei. Diz-me quem és? Voltei a perguntar. Quem és e porque choras? Já cansado de chorar, com o peito arquejante à procura de novo fôlego, olhou para mim como quem olha para um buraco sem fundo. Olhou para mim e disse simplesmente. Eu sou quem tu és, eu sou tu e tu és eu, apenas o tempo se entrepôs entre nós. No pesadelo senti-me desfalecer, como se os meus membros se tivessem reduzido a uma papa amorfa, senti-me rodear por rolos de algodão cinzento. Caí para trás, sem esperança de encontrar apoio no chão duro da rua. E então percebi. Aquela era a memória da vida que não vivi.
Finalmente acordei, fora tudo um pesadelo. Abri os olhos com algum esforço, olhei a janela e vi o Sol a brilhar lá fora. Foi tudo um sonho. Com o calor inebriante do astro rei na face, fechei os olhos e pensei. Foi tudo um sonho. Voltei a abrir os olhos, enchi os pulmões de ar e pensei. Cabe-me a mim encher as memórias de uma vida por viver. Levantei-me então e comecei a sonhar.
Citações ad nauseum
Esta lengalenga toda para deixar aqui uma frase para todos os meus amigos cientistas (e não só) apreciarem, comentarem e usufruirem:
Empédocles, “Da Natureza”
(século V a.c.)
O Lugar da História
Vou explicar melhor. Desde sempre que senti um grande fascínio pelas grandes mudanças civilizacionais, se calhar somos todos assim, lembro de ter vibrado ao ver na TV a queda do muro de Berlim, só porque sentia que estava a ver à minha frente a História (com H grande) a ser escrita. Imaginem os grandes momentos da História. Pensamos sempre no grande plano, civilizações que caem, outras que emergem, grandes líderes, grandes ideias que se impõe, o avanço da humanidade. Mas, se pensarmos na vida comum, das pessoas comuns, quase nada muda. Por exemplo, o dia 25 de Abril de 1974 foi sem dúvida o mais importante da história de Portugal nas última décadas, pelo menos desde 1910. Muitas pessoas até andaram nas ruas, a "ouvir o vento da mudança" como dizia a música dos Scorpions, outras nem isso, mas ao fim do dia, as mães foram na mesma fazer o jantar aos filhos, as pessoas empregadas foram na mesma deitar-se cedo para irem para o emprego no dia seguinte, os padeiros fizeram a mesma massa do pão, as crianças fizeram os seus trabalhos de casa, etc. etc. A verdade é que a história pouco ou nada é notada por aqueles que a vivem. Todos vivemos na vanguarda da história da humanidade e raramente nos lembramos disso.
Uma vez li uma frase, curiosamente num livro de literatura fantástica, que resumia isto de maneira perfeita: "Todos os acontecimentos, independentemente de quão bizarros ou abaladores, diluem-se passados momentos da sua ocorrência pela continuação das rotinas necessárias do dia-a-dia." O livro chama-se The Farseer e a autora Robin Hobb.
Agora, se imaginar-mos uma grande mudança futura, sei lá, uma hecatombe como uma guerra mundial, o primeiro contacto com uma civilização extraterrestre ou a descoberta da fusão a frio. O que nos vai acontecer? Ficamos euforicos, amedrontados ou mortificados, crescem em nós sonhos, esperanças, temores ou terrores, mas, ao fim do dia, vamos continuar a ter as mesmas prioridades: comida, bebida e abrigo para nós, comida, bebida e abrigo para aqueles que amamos, só depois em segundo lugar, saúde, segurança, liberdade e justiça, e só depois nos preocuparemos com a ultima novidade da história!
Às vezes é bom por tudo em prespectiva!
sexta-feira, novembro 25, 2005
Grey colours, bright lights
Hello light, come on in, I swear this time I'll let you back inside.
Traços de loucura são alusões ao real...
Why would I choose darkness in the face of light?
I can only hope that the light is stronger, there can be no darkness where there is only light!
So come down from the sky and shine your colours all over me.
Num jogo sem regras a única regra é a sua ausência...
Não. não enlouqueçi, não mais do que o habitual, é só que às vezes a vida não faz sentido!
terça-feira, novembro 22, 2005
Emir Kosturica & The No Smoking Orchestra
Grande concerto e belas musicas para animar o pessoal. Uma bela festa!
domingo, novembro 20, 2005
Presidenciais 2006 - Os candidatos na net
Mário Soares (a.k.a. Bulldog Geriátrico da Política): 279000 hits
Cavaco Silva (a.k.a. Grande Satã dos Números): 231000 hits
Manuel Alegre (a.k.a. Velho do Mar): 135000 hits
Francisco Louçã (a.k.a. Beto Vermelho): 78600 hits
Jerónimo de Sousa (a.k.a. Metalurgico Dançante): 65900 hits
Garcia Pereira (a.k.a. Formiga Proletario-atómica): 51600 hits
Só para dar alguma prespectiva a estes resultados, eis outros resultados interessantes:
sexo: 9660000 hits
mamas: 2570000 hits
futebol: 2570000 hits
benfica: 2080000 hits
fim do mundo: 2290000 hits
extraterrestre: 2560000 hits
Agora sim, temos algo de interessante. Qualquer dos candidatos é completamente irrelevante para as nossas vidas. O que é interessante sim é que, como podemos ver, o futebol iguala a importancia das mamas, ambos ganhando por pouco aos extraterrestres. Claro que todos estes ficam a anos luz do sexo. O fim do mundo é 10x mais interessante que qualquer dos candidatos e até o nosso campeão nacional (aproveitar enquanto posso usar esta expressão junto da palavra Benfica) esmaga qualqalquer dos candidatos a presidente.
Presidenciais 2006 - A revolta da terceira idade
Cavaco, o filho da mãe que nos andou a lixar com F grande durante 10 anos, e que agora voltou com falinhas mansas a dizer que tal e o camandro e até percebe bué de economia, será a partir de agora o Grande Satã dos Números, até porque aquela fuça de vampiro faz um lembrar um bocado as representações bíblicas do tal Mafarrico que era um bocado mal visto por bandas do céu e arredores.
O Garcia Pereira é um candidato pequenito, tanto em estatura como em número de votos, mas isso não o impede de ser um gajo todo aguerrido, sempre à luta e à pancada. Por isso merece a honra de se chamar a Formiga Proletário-atómica. Digam lá se não o conseguem imaginar a dizer "Up and atom, proletários do meu país!"
O Jerónimo é um velhote cheio de genica, com jeito para dançar (dizem). Sempre que necessário, gosta de arregaçar as mangas, como fazia no tempo em que era operário metalúrgico (ou algo semelhante, não propriamente um jornalista para saber estas cenas). Por isso vai ser o Metalúrgico Dançante. Reparem que em inglês, “The Dancig Metal Worker” soaria muito melhor e até dava um bom nome para um banda de Folk britânico ou irlandês.
O Louçã, apesar de ser um gajo de esquerda, não tem nada aquele estilo trauliteiro típico, pelo contrário até é um bocado beto e às vezes parece ser irritantemente certinho. Não querendo ser demasiado mau para ele e porque ele não só é vermelho na política como também é do Benfica, vai ser o Beto Vermelho. Não confundir com aquele rapaz alourado que joga no Benfica mas não percebe muito de futebol.
Soares, finalmente, e tentando não ir directo às piadinhas óbvias sobre a idade da criatura, lembrei-me que todos dizem ser um verdadeiro animal político. Ora com umas bochechas daquelas só há um animal que me vem à cabeça, daí o nome, o Bulldog Geriátrico da Política.
Espero que este momento de inspiração matinal domingueira tenha ajudado a clarificar a situação das próximas presidenciais. Aqui está “A Inevitável Insatisfação do Ser” a prestar serviço público mais uma vez. Portanto em resumo, para não esquecerem, aqui ficam os nomes a ser usados por essa campanha fora:
Manuel Alegre, o Velho do Mar.
Cavaco Silva, o Grande Satã dos Números.
Garcia Pereira, a Formiga Proletário-atómica.
Jerónimo de Sousa, o Metalúrgico Dançante.
Francisco Louça, o Beto Vermelho.
Mário Soares, o Bulldog Geriátrico da Política.
Tenho dito.
quinta-feira, novembro 17, 2005
Quintas-feiras culturais XII
O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
terça-feira, novembro 15, 2005
sexta-feira, novembro 11, 2005
O feitiço da face misteriosa
As vezes à músicas de que não gosto pelo simples facto de passarem constantemente na rádio. Aconteceu isso com essa música do James Blunt que passa de cinco em cinco minutos na rádio, a "You're Beautifull". Irritava-me tanto que nem sequer lhe prestava grande atenção, até que um dia destes, quando ia no carro sozinho a ouvir rádio, começei a ouvir a música e dei-me ao trabalho de ouvir bem a letra.
A música fala de um homem que viu uma mulher desconhecida no metro que o maravilhou e do seu desespero por saber que nunca a vai voltar a ver. Realmente, é um tema tão obvio para uma música que já devem haver outras musicas sobre o tema, mas passei a gostar da música, quanto mais não seja gostei do tema. Acho que já aconteceu a todos aquilo que vou aqui chamar "O feitiço da face misteriosa". Normalmente chamar-lhe-ia o feitiço da miúda misteriosa, para para não ser acusado de machismo e chauvinismo fica assim. Vamos no metro descansados, a olhar para nada em particular, as faces das pessoas à nossa volta são uma metafora pintada ao expoente máximo da alienação urbana que é o metro. Todos olham para lado nenhum, olhares vagos de animais a caminho do matadouro. De repente, num lampejo de luz na escuridão do túnel, vemos uma face, um olhar que subitamente nos desperta os sentidos dormentes e olhamos. Não é mais do que uma simples troca de olhares, quanto muito um leve sorriso timidamente disfarçado, depois cada um sai numa paragem diferente, segue o seu caminho e não se voltam a ver. Não seria nada, se horas ou dias depois não nos viesse, por um só instante, aquele olhar à cabeça e não pensassemos "E se?", antes de esquecer o assunto para sempre...
Pérolas para porcos
"Era uma vez um rapaz, chamado Pedro, que tinha na altura uns quinze anos. Como tinha vários amigos que jogavam futebol nos juvenis do Caldas (o jovem é natural das Caldas da Rainha), ia com frequencia ver jogos dessa grande equipa, contra outras equipas de igual grandesa como o Alcains, o Torreense, o Marrazes ou o Lourinhanense. Em geral, além dele e de mais alguns jovens de semelhante idade, os unicos seres desocupados ao ponto de irem ver estes jogos eram os idosos da cidade, nomeadamente os avôs dos jogadores do Caldas, que muitas vezes se envolviam em cenas de violência gerontica de cada vez que um deles tecia um comentário menos agradável sobre a forma de jogar do neto de outro idoso. Foi num destes jogos, já não sei contra que adversário, que um destes velhotes se saíu com a tirada mítica, a laivo de exultação à qualidade da arbitragem, que justificou todo este inenarrável texto. Aqui fica o registo: "Seu ganda filho da puta, se não fosses paneleiro e gostasses, enfia-te um das Caldas de cinco litros pelo cú acima que até te saiam as hemorroidas pela boca". E pronto, foi um bonito momento, digno de figurar para sempre na história dessa grande instituição que é o Caldas Sport Clube. Até diria mais, vitória, vitória... acabou-se a história!"
Com poesia desta nos estádios, como podem dizer que o futebol não é uma forma de cultura?
Questionários
Which File Extension Are You?
Sou um .gif, o que segundo eles significa que por vezes sou animado, mas a maior parte do tempo só estou para ali parado e bonitinho... Esta muito, muito longe de ser uma boa descrição de mim!
Which Operative System Are You?
Sou o Linux, segundo eles isso significa que sou o mais inteligente dos meus pares, mas sou frequentemente considerado louco, as minhas soluções elegantes podem demorar um pouco mais tempo, mas produzem bons resultados com pouco esforço... Isso de me compararem ao Linux até me agrada bastante, não tanto a parte da inteligencia e loucura (se bem que de louco até tenho bastante), mas sobretudo pela rebeldia natural do Linux, contra as grandes empresas de software, o Linux é o revolucionário liberal dos sistemas operativos.
Enfim... A existência destes questionário só prova que à pessoas com demasiado tempo livre nas suas mãos... e obviamente este post demonstra que eu sou uma delas!
quinta-feira, novembro 03, 2005
Quintas-feiras culturais XI
Deitar-me
Deitar-me uma noite na cama
Virar a cara para o lado
E dormir
Dormir, e dormir anos
Dormir anos a fio
E não pensar mais em ti
Não pensar mais na vida
Cair no prazer de um sonho
Eterno
Cair, deixar-me cair
Num poço sem fundo
Num poço sem fim
Deitar-me uma noite na cama
Virar a cara para o lado
E dormir
domingo, outubro 30, 2005
Os Senhores da Guerra
Hoje fui ver o Senhor da Guerra, um filme como o Nicholas Cage, sobre um traficante de armas. Adorei o filme e recomendo vivamente. A interpretação do Nic Cage está brilhante, mas acima de tudo gostei da história. O filme conta a história do tal traficante, desde o seu inicio pereclitante no bairro russo de Nova Iorque até se tornar um dos mais bem sucedidos vendedores de morte e destruição do mundo. O filme, inspirado em factos reais, mostra esse mundo paralelo dos homens que se mexem nos bastidores para manter acesos todos os conflitos e banhos de sangue que nos enchem as notícias. Simples, directa e impiedosa, a história mostra-nos a questão do mercado de armas sem tabus, desde o lado humano de como alguém se pode tornar uma personagem tão vil (ele fazia-o porque aquilo era o que ele era realmente bom a fazer), até aos aspectos históricos, de como o trafico foi evoluindo ao longo das ultimas décadas, durante a guerra fria, no pós-guerra fria, até ao actual caos político mundial. Fala também do lado político, acabando o filme com uma constatação simples (não estou a revelar o final do filme, esta constatação é simplesmente uma frase que aparece depois do filme acabar, ao jeito de epílogo): os maiores traficantes de armas do mundo são os governos dos EUA, China, Reino Unido, França e Rússia, coincidentemente os 5 membros permanetes do conselho de segurança da ONU e, como tal, aqueles que mais poder têm sobre as guerras que vão grassando por esse mundo fora. É perverso, é nojento, e é o mundo em que vivemos!
sábado, outubro 29, 2005
Rapinas em Sagres
Resumindo, Sagres é o mais importante ponto de passagem para aves de rapina migradoras de Portugal, acontece que também é um dos locais mais ventosos do país e por isso óptimo para montar uns parques eólicos. Assim, eu e mais um grupo de garbosos biólogos da passarada temos estado por lá a ver como é que as aves se dão com os magnificos obstáculos rotativos com quase 100 metros de altura.
Independentemente do problema das eólicas, é sempre espectacular ir a Sagres ver aves de rapina nesta altura do ano. Dias em que se vêm mais de 100 não são raros e tivemos um dia extraordinário em que quase atingimos o numero inacreditável de 2000 aves de rapina. Acho que mesmo para um não ornitólogo, ver um bando com cerca de 1500 grifos (abutres com cerca de 2,5 m de envergadura) a voar sobre as nossas cabeças é impressionante!
Além destas ainda se viam por lá inumeras outras aves de rapina, como as águias calçadas, os falcões peregrinos, os abutres do egipto, as águias cobreiras e até a rarissíma águia imperial.
quinta-feira, outubro 20, 2005
Quintas-feiras Culturais X
Dez réis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
quarta-feira, outubro 19, 2005
A gripe das aves
Anualmente morrem 2500 pessoas em Portugal de gripe normal. Se este ano houver uma variante diferente, proveniente do temido virus da aves, morrem 5 vezes mais... E???
Sabem quantas pessoas morrem de fome por dia, só porque a Europa não gasta uns trocados para apoiar os países africanos? Ou quantas dezenas de milhões estão infectados pela SIDA por todo o mundo, em grande parte pelo constante boicote da igreja católica às campanhas de prevenção nos países do terceiro mundo? Sabem quantas pessoas morrem anualmente na Europa devido ao consumo do tabaco? Quantas mães morrem a tentar fazer abortos em clínicas ilegais e sem condições? Quantas crianças morrem de doenças tão banais como o sarampo, a difteria ou a tosse convulsa, porque a OMS não tem fundos para fazer campanhas de vacinação adequadas nos países mais pobres.
Estamos a viver a maior histeria colectiva desde o célebre Verão em que a Mary Quaint inventou a mini-saia e tudo por causa de uma merda de um virus que ainda nem se sabe se conseguirá ser transmitido de pessoa para pessoa. Deixem-se de merdas! Sim, uma pandemia de gripe aviana pode ser um problema grave, mas não justifica este clima absurdo de histeria que estamos a viver. O mundo tem problemas suficientes por resolver para não começarmos a esbanjar milhões numa doença que ainda nem existe.
Ninguém percebe que trata-se de uma manobra do poderoso lobby das empresas farmaceuticas para obter mais financiamento? O temido vírus H5N1 já anda por aí desde 1997 e ainda não conseguiu fazer a famigerada mutação que lhe permitirá causar a pandemia mais terrível de que à memória (por acaso, nenhuma das estimativas sensacionalistas que têm saído nos últimos dias se aproxima, sequer, da actual pandemia de HIV). Claro que pode acontecer, e claro que têm de ser tomadas precauções para evitar o contágio a humanos e para garantir a prontidão dos sistemas médicos em caso de epidemia, mas este clima ridículo de histeria não vai certamente ajudar ninguém.
A prova ultima de que isto é tudo uma treta é que ainda não foi proibida a caça, quando toda a gente com meio palmo de testa já percebeu que esse é um dos focos potencialmente mais perigosos de contágio e é também o mais fácil de estancar... Tudo porque o lobby da caça é um dos mais poderosos na Europa (e não só).
E se morremos todos de gripe, tanto melhor. Era um favor que se fazia ao planeta
domingo, outubro 16, 2005
A pinta azul no oceano escuro
(artista norte-americano)
Lembro-me de ter lido este texto pela primeira vez, tinha eu uns quinze anos. Pensei na altura, como continuo a pensar agora, que este texto deveria ser leitura obrigatória em todos os curriculos escolares! No fundo, é uma forma poética de dizer às pessoas para se chegarem atrás e olharem para a big picture. Quando fazemos isso, em geral, percebemos porque é que antes não entendiamos aquilo que, de tanto desejar perceber, olhavamos de tão perto que não conseguimos descortinar...
Porto 0 - Benfica 2
O
Peter Jackson é adepto do Benfica, quanto a isso não há duvidas. Senão, como explicam que ele anteviu o Porto - Benfica de ontem no final do terceiro episódio da trilogia do Senhor dos Anéis. Se bem se lembram, no final do filme, enquanto o Frodo e o Sam tentam sobreviver à escoada de lava, aqueles criaturinhas demoniacas arraçadas de dragões em que os Nazgul cavalgam començam a acercar-se do heróis, mas eis que as águias, vindas de terras mais civilizadas, se acercam do covil desses dragões, a temida Montanha da Condenação, e dão cabo dos infames vermes alados do mal.
Ontem, bastou uma águia, o Nuno Gomes, para deixar uns milhares de dragões a espumar da boca. Agora, depois de verem a exibição de ontem do Porto, seria boa ideia ponderarem a hipotese de voltar a chamar ao estádio, Estádio das Antas, porque aqueles dois defesas centrais do porto são umas verdadeiras antas!
sábado, outubro 15, 2005
O Quarto de Van Gogh em Arles
Este é um dos meus quadros favoritos, de um dos meus pintores favoritos, Van Gogh. Não sei explicar porque é que gosto, assim como não sei explicar por que é que, ao olhar para esta pintura, vejo o retracto perfeito do desespero do artista, eternamente assombrado pela procura inacabada da perfeição estética. Todos passamos a vida inteira a procurar algo, sem saber bem o que procuramos, na minha opinião, os artistas são aqueles que, de entre nós, mais sofrem com esse inevitável fracasso, e é desse sofrimento que nascem as suas obras.
Não sei explicar porque gosto deste quadro, mas sei que gosto, e isso significa que é, de facto, uma obra de arte.
Jessica Alba
sexta-feira, outubro 14, 2005
Mudanças precisam-se
Adivinhem que sistema político é definido pela frase que cito acima? Durante anos, pensei que esta era a definição de democracia, por isso considerava-me, acima de tudo, um democrata. Acontece que a frase acima define a Anarquia. Infelizmente, a história mostra-nos que este sistema só funciona para grupos muito pequenos de pessoas, nomeadamente em tribos onde não existe o conceito de propriedade, pelo que parece inadequada para uma sociedade global a caminho dos 7 mil milhões de cidadãos sequiosos de ter posse sobre tudo e mais alguma coisa.
O grande filosofo do séc. XIX, Proudhon, escreveu que "a propriedade é um roubo, e uma vez que o pricipal objectivo de qualquer governo é proteger a propriedade, nenhuma forma de governo terá justificação, à excepção da fórmula de autogovernação constante proposta pelo anarquismo". O problema é que hoje é incomcebível imaginar uma sociedade sem propriedade, aliás, já cantava o John Lennon :"Imagine no possesions, I wonder if you can" De facto não conseguimos.
Claramente, o que precisamos são novos sistemas políticos. Convenhamos que a ciência política está-se a atrasar um pouco. Enquanto a física se revoluciona totalmente a cada 50 anos, na política continuamos a arrastar os mesmos conceitos com séculos de existência, necessariamente desajustados de uma realidade em mudança cada vez mais rápida. Precisamos de novas políticas e de novos políticos, e precisamos deles já!
quarta-feira, outubro 12, 2005
Brave New World
Resta-me agora apreciar os resultados. Como seria de esperar em Portugal, o pesadelo comando a vida, pelo que, naturalmente, o Isaltino, o Major e a Fátima ganharam com naturalidade as suas autarquias. Espera-se ansiosamente pelas candidaturas de Charlie Manson, Adolf Hitler e George Bush Jr. nas principais cidades portuguesas, lá para 2009.
Uns grandes, grandes, grandes parabéns aos eleitores de Amarante que deixaram um leve aroma de democacria transparecer em portugal ao trucidarem a avantesma do Avelino Ferreira Torres nas autárquicas.
Lembrando a minha recente estadia na Irlanda, pensei na introdução da crença nos lepricons (pequenos duendes vestidos de verde que prometem ouro a quem os vê, mas em geral aldrabam toda a gente) em Portugal. Na verdade, tirando a parte do tamanho e das vestes verdes, fazem-me lembrar um pouco os nossos políticos. Mas claro que os lepricons não existem...
Ah! A chuva voltou e parece que agora também já temos furacões em Portugal.
It's a brave new world, but it so much resembles the old one...
quinta-feira, setembro 22, 2005
Quintas-feiras Culturais IX
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colora as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo meu sonho,
dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
Que tipo de homem é contra as lésbicas?
terça-feira, setembro 20, 2005
Sonhos de criança
Outono
Edukação Social
Ontem fui ver o filme “Os Edukadores”, um filme alemão que recomento bastante. Adorei o filme, tem um espírito muito sixties, não no sentido pindérico do “flower power” e afins, mas mais num contexto de Maio de 68, a revolução como expressão máxima da alienação juvenil.
O filme conta a história de três jovens alemães que, nos nossos dias, que decidem começar uma revolução contra o sistema capitalista que perverteu as nossas democracias e condena milhões a uma vida miserável para que alguns privilegiados vivam na abundância e no luxo. Não vou contar aqui a história do filme, mas vão ver porque vale a pena.
É um daqueles filmes que nos deixa a pensar. A pensar a sério. A pensar na nossa sociedade, a pensar na nossa vida, a pensar naquilo que fazemos e não devíamos fazer, naquilo que não fazemos e devíamos fazer. Convém deixar já aqui uma ressalva: o pessoal de direita escusa de ir ver o filme porque não vai sequer perceber o sentido do filme.
Por exemplo, com que frequência é que se lembram que num sistema capitalista global, é necessária uma África miserável e a passar fome, uma América latina em constante tumulto e uma Ásia Central violentada dos seus recursos para garantir a razoável qualidade média de vida dos Europeus e Norte-Americanos. Por cada televisão que temos em casa são mais umas bocas que ficam por alimentar num qualquer recanto do terceiro mundo. Isto pode parecer absurdo mas é verdade. O sistema assenta no princípio de que os recursos não chegam para todos, pelo que para alguns terem muito é necessário que outros não tenham nada. Claro que isso é cada vez mais agravado pelo crescimento da população. Quando penso nisto, enoja-me a ideia de que por vezes, por comodismo, vou de carro para o trabalho quando podia ir de transportes. Claro que não sou rico, muito longe disso. Mas sou infinitamente abastado, quando comparado com os desgraçados de tantos países (alguns já aqui em Portugal) que não têm mesmo nada. E o que é que eu faço em relação a este estado de coisas? Nada, absolutamente nada. O mínimo que posso fazer é conhecer esta realidade e divulga-la.
E tudo isto para que? Para vivermos com uma carrada de bens materiais de que não precisávamos à partida, mas de que a sociedade nos ensinou a depender. Olhem o telemóvel. Há 10 anos ninguém tinha telemóvel, porque é que agora não sobrevivemos sem um (ou dois, ou três)? E já pararam para pensar se a televisão acrescenta alguma coisa à nossa felicidade, ou se serve apenas para preencher o tempo morto, de maneira a não termos de pensar nos nossos problemas. Alguns dos maiores génios da humanidade viveram num mundo sem Internet, sem televisão e sem telecomunicações instântaneas, mas mesmo assim isso não os impediu de se tornarem os grandes vultos que foram. Agora, com tudo isto a nosso favor, não passamos de zombies anestesiados pelo portento da nossa tecnologia. Alguém viu a MTV nos últimos tempos? Se aquela programação não é desenhada para débeis mentais parece muito!
Não estou a dizer que devemos abandonar a tecnologia, longe de mim tal ideia, aliás seria hipócrita da minha parte, visto que hoje não estaria vivo se não tivesse sido operado (mais um exemplo de um avanço da tecnologia) com apenas um mês de vida. Só estou a dizer que pensar na vida de vez em quando, em vez de ficar especado à frente da TV a ver o ultimo vómito da TVI, pode ser uma boa ideia. Se olharem para o passado, todos os problemas que surgiram no nosso caminho foram ultrapassados pela força das ideias e da crença num mundo melhor. Não será agora que estamos apetrechados de todo este manancial de conhecimento e técnica que vamos ficar parados a ver o mundo ruir sobre as bases de um sistema económico corrupto e desumano, varado pelo caos da sobre-população e da catástrofe ambiental. Pessoalmente não acredito que alguma fez resolvamos satisfazmente estes problemas. Os ricos vão continuar a querer ser mais ricos e o mundo irá inevitavelmente cair no caos, os recursos vão começar a falhar e a guerra, as doenças e a degradação ambiental vão, potencialmente, destruir toda a humanidade no processo. Mas não faz parte da minha maneira de ser parar de acreditar, por um momento que seja, que temos de lutar até ao fim. Porque tenho a certeza que, no final, este é um jogo que não podemos ganhar, mas é precisa cair a lutar, até ao último fôlego, de outra maneira a vida não faria sentido.