domingo, outubro 30, 2005

Os Senhores da Guerra


Hoje fui ver o Senhor da Guerra, um filme como o Nicholas Cage, sobre um traficante de armas. Adorei o filme e recomendo vivamente. A interpretação do Nic Cage está brilhante, mas acima de tudo gostei da história. O filme conta a história do tal traficante, desde o seu inicio pereclitante no bairro russo de Nova Iorque até se tornar um dos mais bem sucedidos vendedores de morte e destruição do mundo. O filme, inspirado em factos reais, mostra esse mundo paralelo dos homens que se mexem nos bastidores para manter acesos todos os conflitos e banhos de sangue que nos enchem as notícias. Simples, directa e impiedosa, a história mostra-nos a questão do mercado de armas sem tabus, desde o lado humano de como alguém se pode tornar uma personagem tão vil (ele fazia-o porque aquilo era o que ele era realmente bom a fazer), até aos aspectos históricos, de como o trafico foi evoluindo ao longo das ultimas décadas, durante a guerra fria, no pós-guerra fria, até ao actual caos político mundial. Fala também do lado político, acabando o filme com uma constatação simples (não estou a revelar o final do filme, esta constatação é simplesmente uma frase que aparece depois do filme acabar, ao jeito de epílogo): os maiores traficantes de armas do mundo são os governos dos EUA, China, Reino Unido, França e Rússia, coincidentemente os 5 membros permanetes do conselho de segurança da ONU e, como tal, aqueles que mais poder têm sobre as guerras que vão grassando por esse mundo fora. É perverso, é nojento, e é o mundo em que vivemos!

sábado, outubro 29, 2005

Rapinas em Sagres

Os boatos a cerca da minha morte eram largamente exagerados. Cá estou, de volta, depois de mais uma estadia biologica em Sagres (em Sagres, não na Sagres!).
Resumindo, Sagres é o mais importante ponto de passagem para aves de rapina migradoras de Portugal, acontece que também é um dos locais mais ventosos do país e por isso óptimo para montar uns parques eólicos. Assim, eu e mais um grupo de garbosos biólogos da passarada temos estado por lá a ver como é que as aves se dão com os magnificos obstáculos rotativos com quase 100 metros de altura.
Independentemente do problema das eólicas, é sempre espectacular ir a Sagres ver aves de rapina nesta altura do ano. Dias em que se vêm mais de 100 não são raros e tivemos um dia extraordinário em que quase atingimos o numero inacreditável de 2000 aves de rapina. Acho que mesmo para um não ornitólogo, ver um bando com cerca de 1500 grifos (abutres com cerca de 2,5 m de envergadura) a voar sobre as nossas cabeças é impressionante!



Além destas ainda se viam por lá inumeras outras aves de rapina, como as águias calçadas, os falcões peregrinos, os abutres do egipto, as águias cobreiras e até a rarissíma águia imperial.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Quintas-feiras Culturais X

Cá está mais uma quinta-feira cultural. Hoje um poema do António Gedeão, o poeta cientista. Porque a esperança é sempre a última a morrer...


Dez réis de esperança

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

António Gedeão

quarta-feira, outubro 19, 2005

A gripe das aves


Anualmente morrem 2500 pessoas em Portugal de gripe normal. Se este ano houver uma variante diferente, proveniente do temido virus da aves, morrem 5 vezes mais... E???
Sabem quantas pessoas morrem de fome por dia, só porque a Europa não gasta uns trocados para apoiar os países africanos? Ou quantas dezenas de milhões estão infectados pela SIDA por todo o mundo, em grande parte pelo constante boicote da igreja católica às campanhas de prevenção nos países do terceiro mundo? Sabem quantas pessoas morrem anualmente na Europa devido ao consumo do tabaco? Quantas mães morrem a tentar fazer abortos em clínicas ilegais e sem condições? Quantas crianças morrem de doenças tão banais como o sarampo, a difteria ou a tosse convulsa, porque a OMS não tem fundos para fazer campanhas de vacinação adequadas nos países mais pobres.

Estamos a viver a maior histeria colectiva desde o célebre Verão em que a Mary Quaint inventou a mini-saia e tudo por causa de uma merda de um virus que ainda nem se sabe se conseguirá ser transmitido de pessoa para pessoa. Deixem-se de merdas! Sim, uma pandemia de gripe aviana pode ser um problema grave, mas não justifica este clima absurdo de histeria que estamos a viver. O mundo tem problemas suficientes por resolver para não começarmos a esbanjar milhões numa doença que ainda nem existe.
Ninguém percebe que trata-se de uma manobra do poderoso lobby das empresas farmaceuticas para obter mais financiamento? O temido vírus H5N1 já anda por aí desde 1997 e ainda não conseguiu fazer a famigerada mutação que lhe permitirá causar a pandemia mais terrível de que à memória (por acaso, nenhuma das estimativas sensacionalistas que têm saído nos últimos dias se aproxima, sequer, da actual pandemia de HIV). Claro que pode acontecer, e claro que têm de ser tomadas precauções para evitar o contágio a humanos e para garantir a prontidão dos sistemas médicos em caso de epidemia, mas este clima ridículo de histeria não vai certamente ajudar ninguém.
A prova ultima de que isto é tudo uma treta é que ainda não foi proibida a caça, quando toda a gente com meio palmo de testa já percebeu que esse é um dos focos potencialmente mais perigosos de contágio e é também o mais fácil de estancar... Tudo porque o lobby da caça é um dos mais poderosos na Europa (e não só).

E se morremos todos de gripe, tanto melhor. Era um favor que se fazia ao planeta

domingo, outubro 16, 2005

A pinta azul no oceano escuro


Se a Terra tivesse apenas alguns metros de diâmetro e flutuasse poucos metros acima de um campo, localizado algures, as pessoas certamente iriam ali para a admirar. Andariam à sua volta, maravilhando-se com os grandes lagos, com as pequenas lagoas e com a água que corria pelo meio. Maravilhar-se-iam com as elevações e com as depressões. Ficariam também maravilhadas com a fina camada de gás que a envolve e com as partículas de água nela suspensas. Ficariamassombradas com todas as criaturas que se deslocam na superfície da esfera e com todas as existentes na água. Declará-la-iam sagrada por ser única e, assim, teriam de a proteger para que não se danificasse. Essa esfera constituiria o maior prodígio conhecido e as pessoas iriam lá para orar, para sarar, para ganhar sabedoria, para conhecer a beleza e para imaginar como teria acontecido. Seria amada pelas pessoas e defendida com as suas vidas pois, intuitivamente, saberiam que as suas vidas nada eram sem ela. Se a Terra apenas tivesse poucos metros de diâmetro.
Joe Miller
(artista norte-americano)



Lembro-me de ter lido este texto pela primeira vez, tinha eu uns quinze anos. Pensei na altura, como continuo a pensar agora, que este texto deveria ser leitura obrigatória em todos os curriculos escolares! No fundo, é uma forma poética de dizer às pessoas para se chegarem atrás e olharem para a big picture. Quando fazemos isso, em geral, percebemos porque é que antes não entendiamos aquilo que, de tanto desejar perceber, olhavamos de tão perto que não conseguimos descortinar...

Porto 0 - Benfica 2




O


Peter Jackson é adepto do Benfica, quanto a isso não há duvidas. Senão, como explicam que ele anteviu o Porto - Benfica de ontem no final do terceiro episódio da trilogia do Senhor dos Anéis. Se bem se lembram, no final do filme, enquanto o Frodo e o Sam tentam sobreviver à escoada de lava, aqueles criaturinhas demoniacas arraçadas de dragões em que os Nazgul cavalgam començam a acercar-se do heróis, mas eis que as águias, vindas de terras mais civilizadas, se acercam do covil desses dragões, a temida Montanha da Condenação, e dão cabo dos infames vermes alados do mal.
Ontem, bastou uma águia, o Nuno Gomes, para deixar uns milhares de dragões a espumar da boca. Agora, depois de verem a exibição de ontem do Porto, seria boa ideia ponderarem a hipotese de voltar a chamar ao estádio, Estádio das Antas, porque aqueles dois defesas centrais do porto são umas verdadeiras antas!

sábado, outubro 15, 2005

O Quarto de Van Gogh em Arles


Este é um dos meus quadros favoritos, de um dos meus pintores favoritos, Van Gogh. Não sei explicar porque é que gosto, assim como não sei explicar por que é que, ao olhar para esta pintura, vejo o retracto perfeito do desespero do artista, eternamente assombrado pela procura inacabada da perfeição estética. Todos passamos a vida inteira a procurar algo, sem saber bem o que procuramos, na minha opinião, os artistas são aqueles que, de entre nós, mais sofrem com esse inevitável fracasso, e é desse sofrimento que nascem as suas obras.
Não sei explicar porque gosto deste quadro, mas sei que gosto, e isso significa que é, de facto, uma obra de arte.

Jessica Alba


O que é que o "Sin City", o "Fantastic 4" e a série "Dark Angel" tinham em comum? A incomparável Jessica Alba! Ai Jessica, Jessica...

sexta-feira, outubro 14, 2005

Mudanças precisam-se

"As decisões deveram ser tomadas pela totalidade da comunidade e esta não deve assumir qualquer tipo de autoridade (por representar a vontade da maioria) para impor as suas decisões sobre os indivíduos"

Adivinhem que sistema político é definido pela frase que cito acima? Durante anos, pensei que esta era a definição de democracia, por isso considerava-me, acima de tudo, um democrata. Acontece que a frase acima define a Anarquia. Infelizmente, a história mostra-nos que este sistema só funciona para grupos muito pequenos de pessoas, nomeadamente em tribos onde não existe o conceito de propriedade, pelo que parece inadequada para uma sociedade global a caminho dos 7 mil milhões de cidadãos sequiosos de ter posse sobre tudo e mais alguma coisa.

O grande filosofo do séc. XIX, Proudhon, escreveu que "a propriedade é um roubo, e uma vez que o pricipal objectivo de qualquer governo é proteger a propriedade, nenhuma forma de governo terá justificação, à excepção da fórmula de autogovernação constante proposta pelo anarquismo". O problema é que hoje é incomcebível imaginar uma sociedade sem propriedade, aliás, já cantava o John Lennon :"Imagine no possesions, I wonder if you can" De facto não conseguimos.

Claramente, o que precisamos são novos sistemas políticos. Convenhamos que a ciência política está-se a atrasar um pouco. Enquanto a física se revoluciona totalmente a cada 50 anos, na política continuamos a arrastar os mesmos conceitos com séculos de existência, necessariamente desajustados de uma realidade em mudança cada vez mais rápida. Precisamos de novas políticas e de novos políticos, e precisamos deles já!

quarta-feira, outubro 12, 2005

Brave New World

Estive uns tempos por fora, primeiro em Sagres, depois na Irlanda, sem acesso à net, de maneira que foi impossível actualizar o blog. Por acaso foi optimo estar relativamente afastado do mundo nestas duas semanas (por motivos de trabalho), porque escapei quase por completo à recta final da campanha eleitoral das autárquicas. Pior que isso só mesmo ser obrigado a ver o programa do Goucha todas os dias durante um ano consecutivo!
Resta-me agora apreciar os resultados. Como seria de esperar em Portugal, o pesadelo comando a vida, pelo que, naturalmente, o Isaltino, o Major e a Fátima ganharam com naturalidade as suas autarquias. Espera-se ansiosamente pelas candidaturas de Charlie Manson, Adolf Hitler e George Bush Jr. nas principais cidades portuguesas, lá para 2009.
Uns grandes, grandes, grandes parabéns aos eleitores de Amarante que deixaram um leve aroma de democacria transparecer em portugal ao trucidarem a avantesma do Avelino Ferreira Torres nas autárquicas.

Lembrando a minha recente estadia na Irlanda, pensei na introdução da crença nos lepricons (pequenos duendes vestidos de verde que prometem ouro a quem os vê, mas em geral aldrabam toda a gente) em Portugal. Na verdade, tirando a parte do tamanho e das vestes verdes, fazem-me lembrar um pouco os nossos políticos. Mas claro que os lepricons não existem...






Ah! A chuva voltou e parece que agora também já temos furacões em Portugal.

It's a brave new world, but it so much resembles the old one...