Estava a ler um artigo num jornal sobre o aquecimento global, sobre as tangas habituais dos americanos em relaçaõ ao tema, sobre os avanços e recuos da praxe no Protocolo de Quioto e só conseguia pensar neste velho provérbio chinês:
"Se não mudarmos a nossa direcção, podemos acabar no sítio para onde nos dirigimos"
Mais um blog despretensioso que pretende deixar mais algumas ideias à solta na net. Nunca se sabe quem as irá apanhar...
quinta-feira, julho 28, 2005
Quintas-feiras Culturais V
Porque é quinta-feira e porque vivemos num mundo insano, a insanidade também é poesia
Walking Around
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
Pablo Neruda
Walking Around
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
Pablo Neruda
terça-feira, julho 26, 2005
A febre dos milhões
Portugal está sob os efeitos de uma terrível epidemia de febre dos milhões. Anda toda a gente a falar do euro-milhões e dos 113 milhões de euros que alguém poderá ganhar na próxima 6a feira. Eu não sou grande fã deste tipo de jogos, mas já fui na onda e preenchi o meu boletinzito. Gastei o minimo, claro, e mesmo assim achei que foram 2 euros muito mal gastos. Ainda assim, claro que já pensei no que faria se ganhasse tal fortuna. Provavelmente mudava-me para um qualquer local paradisíaco, continuava a fazer investigação em ecologia, porque é algo que me dá gozo, mas podia financiar-me a mim próprio (o sonho de qualquer cientista) e dedicava os meus tempos livres a apoiar causas que me digam alguma coisa. Outra ideia era contratar uma força militar especial para, numa missão espectacular, assaltar o parlamento, raptar todos os deputados, ministros e afins e esconde-los todos num sitío longínquo (um asteróide por exemplo). Era uma forma de ajudar o país, mas se calhar o dinheiro não chegava para isso...
Queria lançar agora um repto a quem leia este post. Deixem um comment a dizer "o que farias com 113 milhões de euros?"
O Senhor das Bicicletas
Para quem não sabe, eu sou um grande fã de ciclismo, adoro ver na televisão a Volta a França ( ou "Tour") e acho que uma grande etapa nos Alpes ou nos Pirinéus é um dos maiores espectaculos desportivos que existem. É por isso que não quera deixar passar a oportunidade de dar os parabéns ao extraordinário Lance Armstrong que consegiu este ano o feito único de ter vencido pela 7a vez consecutiva o Tour, a maior prova de ciclismo do mundo. Só por si, este feito já faria dele um dos maiores desportistas de sempre, mas tem de se acrescentar a isso uma vitória ainda maior. Há 10 anos atrás este homem esteve à beira da morte, com cancro, mas consegiu vencer a doença e conseguiu, quando todos o davam como acabado para o ciclismo, voltar a competir e tornar-se o melhor do mundo!
Claro que o ciclismo é um desporto onde se fala sempre de dopping, aliás, hoje em dia, em que desporto não se fala nisso? Até no xadrez já há dopping (não estou a brincar). Mas não me parece que as vitórias dele se devam ao dopping, pelo menos não acredito que tome mais susbtâncias do que todos os outros ciclistas a quem venceu repetidamente.
Por isso, parabéns Lance!
sexta-feira, julho 22, 2005
Lunáticos e companhia
Até gostava de dar uma de Clara Pinto Correia e dizer que esta foto é minha... mas sou demasiado honesto para isso. Saquei-a do site do Público e foi tirada por uma tal de Petros Giannakouris, como o próprio nome indica um grego (ou grécio, como diz o Bush). Vemos aqui uma extraordinária lua cheia a nascer junto ao templo de Posseidon, em Sounio, na Grécia. Ao que parece, devido às danças celestes dos planetas, a lua vai estar um pouco mais próxima do que o costume nos próximos dois anos. Ora a tradição diz-nos que a lua cheia potencia a loucura. Se o mundo já anda como anda, agora com a lua mais perto (e logo aparentemente maior) o que é que vai ser de nós?
Talvez os árabes enloqueçam e começam a atirar aviões contra prédio (ha, é verdade, isso já aconteceu). Talvez os americanos se passem e desatem a invadir países que nunca lhes fizeram mal nenhum (humm, acho que isso também já aconteceu). Talvez o governo português perca a cabeça e começe a construir estádios de futebol, aeroportos e TGVs em vez de hospitais e escolas e depois aumente os impostos para pagar as loucuras (espera aí, isso também já aconteceu). Já agora vamos acordar um dia e descobrir que a nossa civilização está a por em risco a vida na Terra (ups, acho que também já estamos aí...). OK, tudo bem. Parece que não nos temos de preocupar com a história da lua. Já temos loucura suficiente cá por baixo, mesmo sem ajuda dela!
quinta-feira, julho 21, 2005
A fogueira à beira-mar plantada
Estamos em Julho e portugal está a arder... para variar. Sinceramente isto já nem é notícia, nem sei para que abrem os telejornais com notícias do fogo. Sempre as mesmas imagens, sempre as mesmas falsas questões, sempre as mesmas desculpas esfarrapadas, sempre o mesmo manto de mentiras a tentar disfarçar com uma peneira esburacada a luz escaldante da verdade que todos conheçem.
Por onde começar?
Os bombeiros não têm meios. É verdade, mas já à muitos anos se tornou óbvio que não é do interesse dos "powers that be" que eles sejam capazes de responder com eficácia ao flagelo das chamas. Bastava para aí um centésimo dum TGV, ou um milésimo dum novo aeroporto para lhes fornecer o melhor equipamento do mundo, com debroados a ouro e quarteis desenhados pelo Frank Ghery. A verdade é que nem a merda dos helicopteros o governo compra, tem de alugar todos os anos.
Curiosamente, os pinhais e eucaliptais das celuloses raramente sao afectados por incêndios. Humm será coincidência? Devem ser mesmo sortudos esses gajos.
Outro coisa engraçada é que todo e qualquer incêndio que se inicie próximo de uma área protegida alastra inevitávelmente para dentro desta, se bem que os heroicos soldados da paz conseguem quase sempre salvar os dois barracões, ilegais e já abandonados, que estavam do outro lado da estrada, na direcção que o incêndio tomou antes de avançar sobre o parque natural.
Quase todos os incêndios começam em eucaliptais e pinhais, supostamente áreas cultivadas e geridas por alguém. Contudo, quando se vem anunciar o desleixo e a falta de gestão que causou e potenciou o fogo nessas áreas, nunca se pensa sequer em responsabilizar os donos da parcela em questão pela hecatombe que afectou todos os vizinhos, que até tinham silviculturas bem geridas, com matos limpos e corta-fogos nos sitios certos.
Um simples passeio na Tapada de Mafra (flagelada pelo incêndio à dois anos atrás) mostra mesmo ao maus desatento dos visitantes que tudo o que ardeu estava associado a pinhais e eucaliptais. Os carvalhos, freixos, ulmeiros, plátanos e etc. que ao longo de séculos tem vindo a ser arrasados e substituidos pelas duas espécies anteriores são muito mais dificeis de queimar. Infelizmente, não sobrevivem aos incêndios tão bem como o eucalipto.
Qualquer telejornal ensina-nos que uma casa, mesmo que abandonada, que arda, é uma tragédia nacional, muito superior à perda de 50000 hectares de floresta. Os mesmos telejornais raramente se lembrar de referir que a maioria das casas vitimadas por incêndios são construções edificadas à revelia de planos director municipal ou de outros instrumentos de ordenamento do teritório. Só mesmo em casos verdadeiramente excepcionais e calamitosos (como aconteceu no ano passado) é que verdadeiras zona urbanas são afectadas por incêndios.
Já agora, alguém podia explicar aos meios de comunicação que um incêndio raramente é uma catastrofe ambiental, na verdade vivemos num clima mediterrânico onde a maioria das plantas autoctones (sobretudo na metade Sul do país) estão adaptadas a um regime de fogos e secas, recuperando em poucos anos. Na verdade os matos mediterrânicos são ecossistemas que dependem do fogo para existir. A verdadeira calamidade ambiental é o facto de as áreas ardidas serem rapidamente vendidas ao preço da uva mijona para serem devidamente acimentadas, alcatroadas ou simplesmente arrasadas pelos patos bravos da construção civil.
Podia continuar o dia inteiro. Mas não estou a escrever nada de novo. Todos sabemos o que a casa gasta. Por acaso até tenho uma sugestão para resolver o problema. Pegava-se em todos os patos bravos da construção civil. Em todos os detentores de cargos publicos acima de Sub-director. Em todos os quadros de empresas de celulose. Em todos os donos das empresas que alugam ao estado os meios aéreos de combate aos incêndios. Depois rega-se com gasolina q.b. acende-se um fósforo, atira-se o fósforo para o meio deles e 85 % dos fogos por e simplesmente desapareciam. Sobravam os outros 15 % que ocorrem naturalmente e são até essenciais para a saúde dos nossos ecossistemas naturais.
Quintas-feiras culturais IV
Mais uma semana passou, já chegou o dia de mais uma quinta-feira cultural. Para hoje, um poema de um poeta cientista, o António Gedeão. Um poema sobre a mais inalienável verdade da vida humana... para quê tudo isto afinal? Não será pois a nossa vida um lenta questão, uma busca arrastada por um sentido que eternamente buscamos sem alcançar? Talvez por ele não existir continuamos a viver este "alegre desespero".
Poema do alegre desespero
Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,cacos, cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?
António Gedeão
Poema do alegre desespero
Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,cacos, cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?
António Gedeão
terça-feira, julho 19, 2005
Monstros e génios
No geral, não tenho a humanidade em grande conta... Acho que as pessoas como indivíduos podem ser realmente fantásticas, conheço alguns bons exemplos, mas quando nos juntamos em grandes grupos tornamo-nos numa turba demente e destrutiva, basta verem o estado em que estamos a deixar o planeta, ou então uma claque de futebol... Somos talvez o exemplo mais bem acabado de que o comportamento de grupo não tem qualquer semelhança com o comportamento do indivíduo.
Mas voltando ao inicio, de tempos a tempos a misturada de informações genéticas, ainda mais misturada com factores ambientais vários gera indivíduos extraordinários que merecem o nosso mais profundo apreço e admiração. Um deles foi Ludvig von Beethoven. O homem foi um génio e o mundo seria um lugar muito mais pobre sem as suas extraordinárias composições musicais. Nos últimos dias tenho estado viciado num andamento da 7ª sinfonia de Beethoven, o "Alegretto". É difícil acreditar que os mesmos seres que criam beleza de tal ordem podem também criar tanto lixo e destruição.
Somos tão estranhos... se eu fosse um biólogo extra-terrestre ia adorar estudar esta espécie tão... alienígena!
Mas voltando ao inicio, de tempos a tempos a misturada de informações genéticas, ainda mais misturada com factores ambientais vários gera indivíduos extraordinários que merecem o nosso mais profundo apreço e admiração. Um deles foi Ludvig von Beethoven. O homem foi um génio e o mundo seria um lugar muito mais pobre sem as suas extraordinárias composições musicais. Nos últimos dias tenho estado viciado num andamento da 7ª sinfonia de Beethoven, o "Alegretto". É difícil acreditar que os mesmos seres que criam beleza de tal ordem podem também criar tanto lixo e destruição.
Somos tão estranhos... se eu fosse um biólogo extra-terrestre ia adorar estudar esta espécie tão... alienígena!
quinta-feira, julho 14, 2005
Quintas-feiras Culturais III
Cá está a terceira quinta feira cultural, para hoje escolhi um poema do Alexandre O'Neil sobre a amizade.
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O´Neil
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O´Neil
quarta-feira, julho 13, 2005
Sugestões de leitura fantástica
Hoje vou deixar uma sugestão de leitura. A tetralogia Earthsea (ou Terramar na versão portuguesa) de Ursula le Guin. É um clássico da literatura de fantasia e uma obra genial, ao nível do Senhor dos Anéis, mas escrita num estilo bem diferente. São quatro livros que retratam a vida de um feiticeiro, desde a sua juventude à velhice, passando-se tudo num mundo fascinante, constituido por um enorme arquipelago com imensas ilhas, rodeadas por um mar imenso, que alguns acreditam ser infinito. Neste mundo a magia existe, contudo ela é contextualizada como sendo mais uma forma de sabedoria e menos algo de esotérico, de uma forma que me agradou bastante.
Não vou contar as histórias porque elas merecem realmente ser lidas, mas tratam-se de livros fascinantes que prendem a imaginação da primeira à última página. Eu li no inglês original, que ainda por cima tem a vantagem de ter uma edição 4 em 1 que sai bastate em conta e existe na FNAC na secção internacional, mas a Presença editou os livros em português, infelizmente, e como é hábito neste tipo de obras, estão editados numa colecção de literatura infantil-juvenil e por isso as capas dos livros em português têm um ar absurdamente infantil que, pelo menos a mim, tira um bocado a vontade de ler... também não sei se a tradução é boa, mas sendo a Presença uma das melhores editoras portuguesas tenho quase a certeza que sim.
Já que estou numa de anunciar sugestões de leitura, vou referir o Filipe Faria, que começa já a ser um caso sério da literatura portuguesa. É um rapaz de 23 anos que anda a escrever um obra de fantasia que, penso, terá no final 7 volumes, estando os 4 primeiros já editados. Chama-se Crónicas de Allarya e esta sim é uma fantasia bem ao estilo do Senhor dos Anéis, que está bem escrita, é interessante e até empolgante. Não será uma obra-prima, e ninguém quererá equiparar o Filipe Faria a um JRR Tolkien, a uma Ursula le Guin ou a um CS Lewis, mas é uma lufada de ar freco no panorama literário português e merece sem dúvida ser lido. Tem também o particular valor de serem livros que caírão muito bem num público mais juvenil podendo fomentar a leitura na juventude cada vez mais playstation-dependente!
Muitos parabéns Filipe Faria, já li os 3 primeiros livros e estou ansioso por começar a ler o quarto que comprei na feira do livro e está lá em casa em lista de espera.
terça-feira, julho 12, 2005
Publicidade
segunda-feira, julho 11, 2005
Guerra dos Mundos
Ontem fui ver o novo filme do Spielberg, "Guerra dos Mundos", uma adaptação mais ou menos livre do clássico do H.G. Wells. Gostei! Para resumir a coisa, se fazem parte dos 90% da população mundial que não percebeu o "Sinais" do M. Night Shyamalan, não percam tempo a ver este filme porque vão achar uma grande fantochada. Os outros 10% vão ver aqui um excelente filme, não tão bom como o outro porque o Spielberg perde-se sempre um pouco na espectacularidade da acção, mas ainda assim um filme, na verdade, bastante intimista em que o ataque brutal dos marcianos (no filme nunca dizem que eles são marcianos, mas no livro original eram) serve apenas de pano de fundo para a história de um homem que tenta conviver com os seus filhos, que conheçe muito mal, numa situação extrema.
A história começa e acaba com citações directas do livro, que lidas pela voz profunda do grande Morgan Freeman oferecem alguma mística de clássico. Acabando, no final, por repetir a imagem climáxica da versão cinematográfica dos anos 50 com a mão de três dedos de um extra-terrestre moribundo a esticar-se para fora de uma "máquina" recém abatida para ilustrar a morte dos extra-terrestres bem à frente dos protagonistas principais. Tirando isto, o filme pouco segue o original de H.G. Wells, retratando um homem desesperado, que no meio de um caos total, sem saber quase nada sobre o que se passa à sua volta (ao contrário do habitual nos típicos filmes catástrofe) tenta salvar os seus filhos, levando-os para Boston onde está a sua ex-mulher e onde acredita, cegamente e sem motivo, poder salvar os filhos.
Alguns poderão dizer que é mais um filme de exraterrestres, cheio de explosões e de efeitos visuais. Eu vi uma história sobre um homem e os seus filhos, sobre as dúvidas e dificuldades das relações humanas, sobre sentimentos e emoções exacerbadas por situações extremas. Algo bem dentro do brilhantismo que Spielberg oferece em quase todos os seus filmes ( ver "Império do Sol", "Inteligência Artificial", "E.T. o Extraterrestre", "Tubarão" ou "Encontros Imediatos do 3º Grau") mas que é infelizmente mal entendido por muitos que continuam a ver lá apenas explosões e efeitos especiais...
Já agora, de referir a interpretação genial da miúdinha que faz de filha do protagonista, uma pequena actriz chamada Dakota Fanning que por vezes assusta, tal é a maturidade que aparenta. E também um Tim Robbins igual a si próprio num papel mais ou menos secundário, mas brilhantemente interpretado como é seu hábito.
A história começa e acaba com citações directas do livro, que lidas pela voz profunda do grande Morgan Freeman oferecem alguma mística de clássico. Acabando, no final, por repetir a imagem climáxica da versão cinematográfica dos anos 50 com a mão de três dedos de um extra-terrestre moribundo a esticar-se para fora de uma "máquina" recém abatida para ilustrar a morte dos extra-terrestres bem à frente dos protagonistas principais. Tirando isto, o filme pouco segue o original de H.G. Wells, retratando um homem desesperado, que no meio de um caos total, sem saber quase nada sobre o que se passa à sua volta (ao contrário do habitual nos típicos filmes catástrofe) tenta salvar os seus filhos, levando-os para Boston onde está a sua ex-mulher e onde acredita, cegamente e sem motivo, poder salvar os filhos.
Alguns poderão dizer que é mais um filme de exraterrestres, cheio de explosões e de efeitos visuais. Eu vi uma história sobre um homem e os seus filhos, sobre as dúvidas e dificuldades das relações humanas, sobre sentimentos e emoções exacerbadas por situações extremas. Algo bem dentro do brilhantismo que Spielberg oferece em quase todos os seus filmes ( ver "Império do Sol", "Inteligência Artificial", "E.T. o Extraterrestre", "Tubarão" ou "Encontros Imediatos do 3º Grau") mas que é infelizmente mal entendido por muitos que continuam a ver lá apenas explosões e efeitos especiais...
Já agora, de referir a interpretação genial da miúdinha que faz de filha do protagonista, uma pequena actriz chamada Dakota Fanning que por vezes assusta, tal é a maturidade que aparenta. E também um Tim Robbins igual a si próprio num papel mais ou menos secundário, mas brilhantemente interpretado como é seu hábito.
sexta-feira, julho 08, 2005
Ir a banhos
Porque o Verão está aí, porque em Lisboa passamos os dias a sonhar com agradáveis dias de Sol, a banhos numa das muitas praias magnificas da nossa costa, deixo aqui uma imagem para inspirar o fim-de-semana que está quase a chegar. Tirei esta foto junto a Vila Nova de Mil Fontes, ao pé do daquele pequeno porto de pesca um pouco a norte da foz do rio Mira.
Infelizment não posso ir lá este fim-de-semana, já lá não vou desde o ano passado, mas fica aqui uma bela sugestão de passeio. Na verdade toda a costa sudoeste é uma boa sugestão para qualquer fim-de-semana.
Infelizment não posso ir lá este fim-de-semana, já lá não vou desde o ano passado, mas fica aqui uma bela sugestão de passeio. Na verdade toda a costa sudoeste é uma boa sugestão para qualquer fim-de-semana.
quinta-feira, julho 07, 2005
Quintas-feiras culturais II
Aqui está o poema da semana, este de Eugénio de Andrade. Acho que se adequa a um blog, pois um blog não são mais que palavras largadas ao vento...
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Tríunfo dos Porcos
Tive uma semana muuuuuito ocupada mesmo, não houve tempo para pensar no blog. Como tenho estado muito ocupado não tenho tempo para pensar em teorias malucas e devaneios filosóficos, daqueles que originam post intermináveis. Mas vi uma coisa no outro dia que não podia deixar de registar numa nota de indignação.
Fui dois dias para o campo com uma amiga, também bióloga, que trabalha com morcegos. Visitamos várias grutas na costa sudoeste e no Algarve e em todas elas é inacreditavel a total falta de respeito que as pessoas têm pelo nosso património geológico/subterrâneo. Mesmo nas grutas de mais dificil acesso, mesmo nas galerias mais interiores da grutas, onde é preciso rastejar e suar para conseguir chegar, eram muitos os sinais de vandalismo e de falta de civismo das pessoas: grafitis e outros escritos nas paredes, latas de cerveja e de comida pelo chão (algumas até podiam ter sido levadas para ali pelo escoamento das chuvas, mas outras era impossivel, foi mesmo um porco qualquer que as deixou lá) e ainda, beatas de cigarros, animais mortos que certamente não morreram ali de livre e expontânea vontade, entre outros exemplos de grande falta de respeito.
Quando é que as pessoas vão olhar para o património natural como um bem comum e não como um problema "dos outros". Será vingança por os morcegos, por vezes, encherem os sotãos das casas mais velhas de guano? É triste, é muito triste, até porque este problema das grutas aplica-se igulamente aos rios e ribeiras, às falésias e escarpas, aos montes, prados, oceanos, florestas, etc. É o verdadeiro Tríunfo dos Porcos! Sem ofensa para os pobres suínos que não têm culpa nenhuma neste assunto...
Fui dois dias para o campo com uma amiga, também bióloga, que trabalha com morcegos. Visitamos várias grutas na costa sudoeste e no Algarve e em todas elas é inacreditavel a total falta de respeito que as pessoas têm pelo nosso património geológico/subterrâneo. Mesmo nas grutas de mais dificil acesso, mesmo nas galerias mais interiores da grutas, onde é preciso rastejar e suar para conseguir chegar, eram muitos os sinais de vandalismo e de falta de civismo das pessoas: grafitis e outros escritos nas paredes, latas de cerveja e de comida pelo chão (algumas até podiam ter sido levadas para ali pelo escoamento das chuvas, mas outras era impossivel, foi mesmo um porco qualquer que as deixou lá) e ainda, beatas de cigarros, animais mortos que certamente não morreram ali de livre e expontânea vontade, entre outros exemplos de grande falta de respeito.
Quando é que as pessoas vão olhar para o património natural como um bem comum e não como um problema "dos outros". Será vingança por os morcegos, por vezes, encherem os sotãos das casas mais velhas de guano? É triste, é muito triste, até porque este problema das grutas aplica-se igulamente aos rios e ribeiras, às falésias e escarpas, aos montes, prados, oceanos, florestas, etc. É o verdadeiro Tríunfo dos Porcos! Sem ofensa para os pobres suínos que não têm culpa nenhuma neste assunto...
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